Adriana Scarpin 18/06/2024A tentativa da colonização do outro parece algo inerente nas nossas relações, seja vindo de um cônjuge, do amigo, do vizinho ou até de um psicólogo no enfrentamento dos nossos microfascismos do dia a dia, para além dos macrofascismos das nações colonizadoras, do legislativo, do judiciário e executivo... há sempre alguém clamando saber melhor dos nossos corpos, nossas psiques, nossa ética. Muitas dessas pessoas acreditam mesmo estar querendo o nosso bem, nem lhes passa pela cabeça a violência que estão cometendo baseada em questões absolutamente subjetivas que não necessariamente fazem bem ao outro.
Não importa Sartre dizer que estamos condenados a ser livres, ele diz isso da França numa época em que era um país colonizador territorial e intelectualmente, o acertado era dizer que estamos condenados a ser colonizados, ao se atrever ser livre fatalmente alguém apontará o dedo e dirá que não, você não pode.
É isso que nós mulheres vivemos diariamente, não podemos sentar no chão, não podemos falar alto, não podemos gargalhar, não podemos ficar alegres demais, não podemos ficar tristes demais, não podemos engordar, não podemos emagrecer, não podemos nos maquiar, não podemos deixar de usar maquiagem, não podemos virar a louca dos gatos, não podemos ter filhos demais, não podemos gostar de sexo, não podemos ser assexuais, não podemos ter qualquer autonomia inclusive o de abortar, simplesmente porque as pessoas simplesmente não conseguem deixar de colonizar o outro.
*post inspirado pelo Lira, mas também em uma vizinha que igualmente não se aguenta em praticar seus microfascismos de fofoqueira interiorana.