Kalel 20/02/2019
O Estado pós-democrático brasileiro
"Vivemos um momento de crise no Estado Democrático de Direito?" é a frase que inicia todo o livro de Rubens R.R. Casara, juiz de direito do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, doutor em direito e mestre em Ciências Penais; e representa a tese pela qual ele passa o livro tentando demonstrar.
Sintetizando, Casara sustenta que o momento pelo qual passamos não se trata de crise, muito menos uma "pausa democrática" do Estado Democrático de Direito. "A crise é, por definição, algo excepcional, uma negatividade que põe em xeque o processo ou o sistema [democrático], mas que justamente por isso o confirma como algo que ainda existe e pode ser salvo. Casara sustenta que, na verdade, já estamos sob o jugo obscurantista da lógica neoliberal, que dispensa os limites ao exercício do poder e o trata como mercadoria, pois a "crise" se mostrou permanente. "Uma crise permanente, que se apresente como funcional, útil para a geração de lucros a partir da produção de novos serviços e mercadorias, [...] não é mais uma negatividade, um desvio, e sim uma positividade cara ao modelo neoliberal". No caso do Brasil, "a crise [política e econômica] de fato existiu, mas deu lugar a algo diferente.
Algumas das evidências que o Estado pós-democrático se instaurou, de 2010 a 2016, é a desconstitucionalização, o modelo de pensamento bélico-binário (que divide as pessoas entre "amigos" e "inimigos"), o incentivo à ausência de reflexão, fenômenos como o "messianismo" e a "demonização", um governo no qual o poder político e o poder econômico se identificam ("o poder econômico torna-se o poder político"). Sua análise jurídica também passa por momentos importantes como o caso do Mensalão, da Lava Jato e do impeachment [golpe] da ex-presidente Dilma Rousseff.
Uma leitura necessária para os dias de hoje, principalmente para o Brasil pós-eleições 2018. Assombrosamente Casara parece ter previsto os rumos que o país iria tomar. baseado em experiências estrangeiras. Mas "Estado Pós-Democrático" é, acima de tudo, um sopro bem gelado de realidade, nos faz encarar o que não queremos admitir: o Estado Democrático de Direito brasileiro acabou.