Gustavo RAS 26/11/2012Um livro excepcional. É muito interessante como o Wells traz esse paradoxo: O homem tentando humanizar os animais e ele, ao mesmo tempo, se animalizando; e o incrível é que essa é uma tendência contemporânea. Quantas vezes não vemos que a forma do tratar humano em relação aos animais - especialmente domésticos - não é um tratar deveras humano. As expectativas que depositamos sobre esses animais, as roupas que os forçamos usar -os animais na ilha também com a humanização se cobriram com roupas, dado ao sentimento de pudor. Em contra partida, quantas vezes também não vemos, hoje em dia, homens movidos somente pelo instinto, desprezando aquilo que nos faz diferente dos animais, a razão, a capacidade de pensar, discernir e ponderar ideias. Fica claro no livro, quando o Prendick sai da ilha, que ele encontra na sociedade verdadeiros "monstros", tais quais ele encontrou na ilha, mas aqueles da sociedade não se mostram monstros no seu aspecto físico, mas na maneira de se comportar e a forma como conduzem seus pensamentos. O horror que Prendick passou na ilha, não se limita a ilha. É um horror mascarado, mas também encontrado no seio da sociedade humana.
O Dr. Moreau, apesar de ser criticado por suas experiências, não se faz tão diferente dos homens presentes tbm na sociedade. Um ser humano vazio, movido puramente por uma egoísmo no pensar. Moreau não demostrava nenhuma razão convincente para realizar aquelas atrocidades, ele não fazia para desenvolver a medicina ou reverter aquilo em algo benéfico à sociedade. Ele fazia puramente pelo egocentrismo e pelo sentimento de poder. Ele brincava de deus, criando e punindo suas obras de arte imperfeitas.
O intuito do Wells com esse livro, foi mais crítico do que qualquer outra coisa. O fato, creio eu, dos personagens não serem mais profundos e o fato das partes mais dramáticas- morte do Moreau e saída do Prendick - não serem mais detalhados, é pq eles não eram realmente importantes para a sustentação da crítica. O Wells, vejo eu, criticou a religião - instrumento alienador e controlador das massas -, o processo colonialista - já que os impérios do velho mundo, ao chegarem nas terras recém-descobertas, encaravam os nativos como animais e utilizavam do caráter moralizador e, principalmente, do discurso humanizador para tentar controlá-los - e por fim, uma crítica social no ponto em que o homem tenta humanizar os animais, enquanto ele mesmo sofre um processo interno de animalização.