spoiler visualizarMihh :) 31/08/2012
Não leia o prefácio antes de ler o livro - está cheio de spoilers
Talvez este tenha sido o motivo por eu não ter achado 'A Ilha do Dr. Moreau' tão surpreendente quanto os outros livros de H. G. Wells, apesar disso, a história tem um desenrolar fantástico e assim como as outras obras do autor, apresenta críticas à sociedade enraizadas no meio da ficção científica de primeira qualidade.
Primeiro o desespero de Prendick ao não saber se iria conseguir sobreviver depois do navio onde estava, afundar. Então o salvamento por um navio com um odiável capitão e marujos, mas que além disso, levava Montgomery, vários animais e um estranho ajudante, que se tornaria o menos estranho dentre os presentes no local onde Prendick passaria quase um ano. O conhecimento da ilha, Moreau e as estranhas 'pessoas' que lá viviam. O medo por pensar que Dr. Moreau transformava pessoas em animais e a fuga por meio a uma selva desconhecida. A descoberta da verdade: Moreau transformava animais em seres humanos. A queda da Lei por um dos animais transformados: ele bebeu sangue e com isso a maior parte da humanidade inserida nele caiu por Terra. Todo o alvoroço dos homens-animais, a morte de Moreau e a tomada de Prendick como um tipo de líder. A morte de Montgomery e de alguns homens-animais. O medo de permanecer na ilha sozinho com as criaturas. A regressão dos animais devido a sua 'animalidade obstinada', como diria Moreau. E, enfim o salvamento, primeiro com o aparecimento de um barco com dois mortos, reconhecidos por Prendick como pessoas do navio onde o próprio estava no começo de tudo e então seu salvamento por um navio onde as pessoas acreditavam que ele estava louco, dizendo aquilo tudo que se passou na ilha.
Levei todo o livro como uma crítica a cientistas que fazem certos experimentos inacreditáveis, onde não se leva em consideração a ética científica, mas ainda, no último capítulo, Prendick nos mostra que essa história é também uma amostra de que assim como os homens-animais tinham sua animalidade obstinada, os homens-humanos também são selvagens por dentro e isso pode ser liberado a qualquer momento. O livro é fechado com chave de ouro por essa análise do medo de Prendick de viver entre as pessoas, sendo que a qualquer momento, elas poderiam explodir e se tornar verdadeiros animais.
"Dizem que o terror é uma doença, e em todo caso posso testemunhar que, já há vários anos, um terror incessante habita minha mente, uma espécie de medo que um filhote de leão semidomesticado deve experimentar. Meu problema tomou uma forma das mais estranhas. Não consigo persuadir a mim mesmo de que os humanos a quem encontro não são parte de outro Povo Animal, ainda passavelmente humanos, mas em todo caso animais completamente forjados à semelhança de almas humanas; e que a qualquer instante eles também podem começar a regredir, a exibir primeiro este traço de bestialidade, depois outro e mais outro.
(...)
Vejo rostos que são perspicazes e cheios de energia; outros que são apáticos e ameaçadores; outros desequilibrados, insinceros; nenhum deles exibe a calma autoridade de uma alma impregnada de razão. Sinto como se o animal estivesse querendo brotar dentro deles e que a qualquer momento a regressão que testemunhei nos ilhéus se reproduzirá aqui, numa escala muitíssimo maior."