desencaixados 05/11/2017
UM LIVRO IMPACTANTE
Ele já estava cansado, não aguentava mais passar pela mesma situação e estava disposto a dar o seu melhor para não retornar àquele local. Após assinar um contrato de uma Instituição que jurava uma vida melhor sem ao menos ler o que estava escrito, agora um homem cujo nome foi alterado para Número 44 estava vivendo o pior pesadelo da sua vida e tentando sair daquela situação que desejaria para ninguém.
Número 44 entrou na Instituição com o intuito de ter uma vida melhor, ele prometia para si mesmo que passaria no teste pela primeira vez e infelizmente a sua promessa estava em vão. Tudo consistia em muita dor e pressão psicológica, os voluntários passavam por torturantes reformas visuais de pele até traços faciais, após isso 3 Etapas criadas por Eles era o ciclo para o resultado do esforço de cada indivíduo que demonstrava muito cansaço e desistência.
A ideia dessa Instituição era somente liberar os voluntários que assinaram o contrário após serem aprovados nos testes, ou seja, cada pessoa podia falhar inúmeras vezes e durante essas inúmeras vezes voltariam para os testes na qual eram modificados para viver uma vida diferente. Sim, para ter uma vida melhor eles primeiro viviam uma totalmente divergente da sua atual, assim explorando cada vez mais suas personalidades.
Número 44 já foi criança, adulto, teve desejo homossexual e várias outras características e tudo aquilo já estava fazendo-o desistir de todo o teste. O pobre homem nunca passa da Etapa Final, sempre uma luz vermelha indicando negatividade aparece no seu resultado e o maior problema de todos é que ele e os outros voluntários não sabem como são as avaliações e 44 estava começando a ficar disposto para descobrir qual é a ideia toda por trás daquela Instituição.
Número 44 é um lançamento da Rouxinol Editora, livro escrito pela Julia Giarola Andrade, uma dos membros que trabalha na equipe do Desencaixados. O livro é uma distopia muito diferente das quais estamos acostumados a fazer leitura e aborda assuntos muito interessantes e instigantes.
Individualismo é um conceito politico, moral e social que muitas pessoas ainda não conhecem. Uma pessoa individualista é quem prospera esse conceito, todas elas agem em favor próprio com autossuficiência e objetivos individuais. Infelizmente esse tende ser um grande problema para a nossa sociedade e pode ser uma das palavras chaves para definir esse livro.
Agir à for próprio é muito bom, mas acaba sendo um ato muito egoísta quando o indivíduo acaba prejudicando a vida do próximo. Número 44 faz de tudo para mudar a sua vida dentro da Instituição e em todos os testes uma nova vida é induzida em sua mente e seu corpo é modificado, mas devido ao seu ato final sempre obtêm resposta negativa e uma segunda chance — no caso infinitas chances — é dada ao voluntário. Outro ponto forte dessa história é a segunda chance que cada pessoa ganhar nas etapas e isso foi muito bem explorado pela autora.
"Agora sei que esta não era a pior parte. Eu estava descobrindo isso lentamente. Nenhuma parte do processo lhe prepara para o que está por vir. Cada passo é experimento por si só, testando aspectos diferentes do meu caráter. (página 41)"
Segunda chance é um ato muito bonito de uma pessoa poder concertar ou aperfeiçoar aquilo que fez de forma errada ou indesejada. Algumas pessoas não sabem lidar e parar para revisar os erros cometidos que levaram ela a ganhar uma chance extra, e infelizmente essa falta de observação acaba gerando atitudes ainda piores com a capacidade de aumentar o problema criado pelo próprio indivíduo. Apesar de ser uma situação chata isso acaba explorando as personalidades das pessoas, assim fazendo-a expor quem realmente é.
O fato de Julia Gioarola Andrade ter aprofundado nas personalidades dos personagens, ou melhor, das vidas vivida por 44, foi uma ideia muito bacana e revolucionária dentro do gênero distopia. Até então, encontramos muitos livros distópicos que tratam assuntos sociais e políticos, assim fazendo uma grande crítica com as situações atuais de governos de quase todos os países e a autora preferiu sair um pouco da zona de conforto dos leitores e explorou uma área muito pouco abordada em livros do gênero.
O protagonista Número 44 sofre várias mudanças, isso acontece devido o tanto de vezes que não passou nos testes que Eles — forma que ele refere a equipe da Instituição — projetaram. Todas as vezes o personagem comete um erro drástico e falha miseravelmente na decisão final, esse ciclo acaba sendo um ponto muito forte do livro e tem um impacto muito GRANDE com a conclusão da história, por isso eu não posso ficar falando muito sobre a história e sua essência, pois soaria como spoiler e possivelmente estragaria a leitura de vocês.
Por falar em leitura eu tenho em mente que cada leitor terá uma opinião diferente ao começar a ler Número 44, apesar de a autora ser da nossa equipe isso não irá me impedir de falar toda a verdade na resenha, até porque temos que atuar com profissionalidade sempre e jamis passar informações vazias para vocês. A maneira que Julia separou o livro, a forma que ela escreveu e o jeito que ela abordou o assunto pode ser um fator muito relativo para quem estiver fazendo a leitura e eu já vou explicar o motivo.
O livro tem 7 capítulos e 155 páginas, cada capítulo narra a vida que 44 viveu e suas indignações. Isso acontece durante todo o livro e só no final, praticamente nas últimas páginas — não recomendo vocês darem aquela famosa espiadinha — que descobrimos quem estar por trás de toda aquela Instituição, além disso, é nesse momento que descobrimos o real intuito dela. Para algumas pessoas isso pode ser MUITO maçante e para outras mais curiosas acaba sendo uma leitura EXTREMAMENTE agradável e desafiadora, pois em cada capítulos tentamos descobrir qual será o fim do protagonista.
"— Nao, 44. A vida é simples. Somos nós que somos complicados! (página 152)"
Essa foi a primeira obra da Rouxinol Editora que tive contato, gostei muito do trabalho editorial realizado por eles. A capa do livro é simplesmente perfeita, os traços e as cores utilizados pelo capista foi capaz de chamar muito a minha atenção, sem falar que o trabalho interno também está impecável, encontrei nenhum erro ortográfico, as ilustrações são maravilhosas e a fonte e seu tamanho são agradáveis aos olhos, o que torna a leitura ainda mais prazerosa.
Provavelmente esse não é um livro que vai agradar todo mundo, até porque algumas pessoas não gostam de se sentirem desafiadas, mas aqueles que gostam de distopias irão adorar essa obra com todas as suas forças. Número 44 não é um livro romântico — o que muitos reclamam em distopias —, ou seja, trata-se de uma história futurista com um final muito revelador e se você gosta de distopia com foco no problema e não no romance, fica a minha indicação de Número 44. Mas e aí, será que 44 teve um bom final? Descubra agora mesmo adquirindo um exemplar e fazendo a leitura da história.
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