jota 19/09/2011É pau, é pedra, é fogo, fim de caminhoPompeia, o livro, se passa em apenas quatro dias do ano de 79 d.C., tempo em que os romanos já possuíam um sistema de aquedutos que fornecia um volume de água superior ao que abastecia a cidade de Nova York em 1985. No início é somente água. As lavas e o inferno virão depois. Pois sabemos como Pompeia vai terminar.
Dois dias antes de o Vesúvio começar a despejar sua torrente de magma sobre a cidade, o aguadeiro ou engenheiro Marcus Attilius Primus, agora responsável pelo funcionamento do aqueduto Aqua Augusta e pela conservação das fontes que o abasteciam (e depois as cidades da Campânia), verifica estranhos e preocupantes sinais: algumas fontes diminuíram consideravelmente seu fluxo dágua, outras secaram e quase todas estavam exalando cheiro de enxofre - entre outras coisas. Ele passa, então, com sua equipe de auxiliares (vários deles são escravos) a inspecionar as diversas fontes servidas pelo Aqua Augusta, tentando encontrar a origem dos problemas e resolvê-los a população não pode ficar sem água em hipótese alguma. É um trabalho exaustivo e que tem de ser feito rapidamente, sob pena de responder ao imperador em Roma. E ele nem era o responsável direto pelo aqueduto pouco tempo atrás fora designado para o cargo pois Aelianus Exomnius, o aguadeiro anterior, simplesmente desaparecera sem deixar vestígios.
Estranhamente, em Pompeia, o abastecimento está normal e a água apresenta as mesmas características de potabilidade de sempre. Entretanto, algo chama a atenção de Marcus Attilius ali: o fluxo da água para as fontes públicas está muito forte - alguma coisa (ou alguém) teria desviado o líquido das outras localidades direcionando-o todo para Pompeia? Um mistério para ele decifrar, sobretudo para resolver.
Se o engenheiro Marcus Attilius Primus é o mocinho da história, o grande vilão é o cruel Numerius Popidius Ampliatus, um ex-escravo ("o pior senhor que um escravo pode ter é um ex-escravo rico", dizem seus atuais escravos), que enriqueceu fazendo negócios escusos com nobres decadentes e senadores corruptos (eles estão em todos os tempos e lugares, esses malditos!). Pensamento vigorante então: "um homem honesto era raro em Roma; um homem honesto era um idiota." O lema de Ampliatus: "Que os deuses nos protejam de um homem honesto." O engenheiro Marcus Attilius é um homem honesto (recusou-se a fazer uma trapaça hidráulica que favorecia o milionário Ampliatus), portanto corre perigo.
Enquanto o pior não lhe acontece, nem para Pompeia, Robert Harris vai nos dando algumas curiosas lições de História, pois fez extensa pesquisa e contou com a ajuda de vários especialistas para escrever o livro. A cada capítulo se aprende algo a respeito dos usos e costumes dos antigos romanos, extremamente supersticiosos, sabemos - e tome oferendas, sibilas, sacrifícios, amuletos, previsões, orações, etc.
Durante sua inspeção o engenheiro Marcus Attilius fica matutando: o sumiço de Exomnius poderia ter algo a ver com desvio de água para as termas que o milionário Ampliatus está construindo em Pompeia, e que o tornaria mais rico ainda? Mas não era somente isso: ele descobre, com alguma ajuda feminina, que Exomnius sabia muito mais e acaba entendendo a explosiva situação por inteiro. Muito depressa, mas com pouca chance de se salvar ou salvar outras pessoas. Mas Marcus Attilius era um romano de fibra, que não desistia nunca...
Finalmente a natureza mostrava sua força de vez - na sexta-feira (ou Vênus) 25 de agosto de 79 d.C. Calcula-se que a energia térmica liberada durante a erupção do Vesúvio deve ter sido de cerca de cem mil vezes a da bomba atômica de Hiroshima. Depois, nos dias seguintes, foram muitas as histórias e os rumores que circularam entre os sobreviventes. Dizia-se que uma mulher dera à luz um filho totalmente feito de pedra, e também se observou que pedras tinham adquirido vida e assumido a forma humana. E ainda, que o aguadeiro Marcus Attilius e uma bela moça...
Quem quiser que conte outra, melhor, que leia este livro fabuloso. Acerca dele The New York Times Book Review escreveu que é "Espetacular... arrebatador... com um clímax literalmente catastrófico." Às vezes os críticos são exagerados, mas como eu já havia lido dois ótimos livros de Robert Harris (Pátria Amada e O Fantasma, ambos pela Record como este), não pensava mesmo em ficar decepcionado com Pompeia, pelo contrário.
Livro que tem mais chance de agradar propriamente o público leitor masculino, especialmente quem gosta de romances históricos, na linha de Memórias de Adriano (M. Yourcenar), Juliano (Gore Vidal), Espártaco (Howard Fast), etc. Eu recomendo.