Joao 20/02/2011
Faz uns cinco meses que li esse livro, e desde tal data eu tento (começar a ) fazer uma resenha dele. Mas é difícil: não sei por onde começar: tantas coisas notáveis nesse livro que acabo me perdendo. Poderia começar falando do fato verídico que "inspirou" (melhor dizendo chocou) Dostoiévski para começar a escrever este livro, que em minha opinião é seu segundo melhor trabalho - sem contar Memórias do Subsolo: deste nós encontramos reminiscências em todos seus livros posteriores.
Pois bem, comecemos pelo motivo do livro: um grupo formado por pessoas de ideias liberais (niilismo, pricipalmente), comandados por um camarada chamado Nietcháiev planejam o assassinato de um estudante, Ivanov, por este não concordar mais com as ideias do grupo e querer se afastar deles. Dostoiévski ficou a tal ponto chocado com esse fato, que abriu mão de seus projetos (na verdade, ele "fundiu") para escrever este livro, como uma crítica e uma amostra do que estes verdadeiros demônios podem fazer.
O livro começa lento, um passo de cada vez. Toda a primeira parte serve apenas para narrador, dar uma ideia dos personagens que estarão envolvidos com a trama nas outras duas partes do livro. Somos apresentados a todos os personagens, bem como suas personalidades na pequena cidade do interior da Rússia. O foco é principalmente em Stiepan Trofímovitch e Varvara Pietrovna. Pais de dois dos "demônios". Nas outras duas partes, vemos os tais demônios em ação, de diversas formas.
O mais notável nesse livro, são os diferentes personagens e suas ideias. Uma parte são apenas de pessoas que acham importante o fato de estar por dentro das mais novas ideias filosóficas, mas alguns se destacam e merecem uma citação: Stravóguin, filho de Varvara Pietrovna, é um daqueles personagens raros da qual nunca nos esquecemos pelas suas atitudes "demoníacas"- em especial a que foi censurada do livro. Chigailóv, um personagem que prova a visão de futuro (ou o incrível chute) de Dostoiévski sobre o que estaria por vir: o Chigailovismo (um sistema elaborado por Chigáilov) é o stalinismo, praticamente. O angustiado Kirílov, pela sua filosofia louca e sua intensa fé nela - o detalhe é que ela se parece muito com a de Nietzsche. Qualquer passagem do livro que tenha o (nem tanto) indiferente Stravóguin em ação, ou Kirílov falando sobre filosofia é de alto nível, um dos pontos altos dos textos Dostoiévski - ao lado das investidas sutis de Porfíri Pietróvitch ao Rodka, ou a conversa de Ivan Karamázov com Aliocha, ou com o Diabo.
Creio que este livro não seja tão lembrado por ser ofuscado por Crime e Castigo.