Ique 12/03/2020Mortes, mistérios e entidade secretaO Mistério dos Sete Relógios foge um pouco do padrão das histórias criadas por Agatha Christie por trazer no eixo principal do suspense uma organização secreta chamada Seven Dials com integrantes que usam máscaras, coisas típicas de livros de romance policial, como a autora brinca em vários momentos. Já começamos o livro com a inesperada morte de Gerry Wade em uma mansão durante uma temporada com amigos. O Wade nunca teve problema com sono, dormia até demais, e a principal causa de sua morte é um sonífero que tomou excessivamente. Suicídio estava fora de cogitação devido a personalidade do rapaz que deveria acordar cedo na manhã de sua morte, isso porque um grupo de amigos compraram 8 despertadores, cada um representando um integrante da casa, para fazer com que Wade acordasse mais cedo e não perdesse o horário do café da manhã. No entanto, como se sabe, a brincadeira deu errado porque ele morrera bem antes, além disso, um dos despertadores fora jogado pela janela, sobrando 7. No meio disso, um personagem que também estava na mansão no dia da morte de Wade faz uma descoberta super importante e também acaba morrendo, suas últimas palavras foram: Seven Dials. Intrigante, não é verdade? Quem é o(a) assassino(a) e por quê?
O livro é a segunda história do superintendente Battle, inteligente oficial da Scotland Yard, que embora apareça pouco é super importante para a resolução da narrativa, destacando seu raciocínio lógico e sua capacidade de observar os detalhes em seus mínimos detalhes, lembrando um pouco o famoso personagem Poirot. No entanto, a protagonista é uma mulher chamada Bundle, super determinada, corajosa e decidida que chama a atenção e fornece um toque muito bom para a história. Vale lembrar que vários livros de Agatha trazem personagens masculinos como protagonistas em uma época em que ocorria mais machismo. Bundle corre atrás para descobrir quem é a oculta organização Seven Dials e consequentemente quem está atrás dos assassinatos.
Agatha trabalha bem com cada personagem e suas características, mas traz um problema: muitas pessoas em uma história em que não precisava de tanto. Para se ter ideia, há cerca de 20, entre protagonistas e coadjuvantes e também muitos momentos que se usa o nome, outros o sobrenome e pior: o apelido. Com o tempo o leitor vai se acostumando e identificando quem é quem, mas o livro já começa com uma enxurrada de gente. Claro, isso gera um problema: não houve um desfecho aceitável para cada um deles, às vezes um(a) suspeito(a) era babaca por natureza mesmo e não tinha nada para acrescentar a não ser ser suspeito(a) sendo que fica óbvio que a situação é forçada.
No entanto, não é um livro óbvio em sua resolução, a autora criou uma reviravolta super surpreendente desafiando até mesmo o leitor que preste mais atenção a descobrir qual será o desfecho para o caso. É muito fácil surpreender e ser enganado(a), o que deixa com uma sensação de que Agatha cumpriu seu papel e conseguiu fazer uma história completa, inteligente, intrigante e imprevisível mesmo que a motivação seja um pouco fraca e simples.
O interessante é pensar que o livro foi publicado em 1929, se a história se passasse hoje ela seria impossível de acontecer uma vez que os métodos de comunicação estão na palma de nossas mãos. Neste quesito é possível enxergar o quanto a tecnologia pode estar também a nosso favor na simples troca de mensagem pelo WhatsApp, ná época não existia nem computador.
O Mistério dos Sete Relógios não é o melhor livro da Agatha, mas cumpre seu papel como uma história que prende o leitor da primeira até a última página, com poucos momentos de enrolação e vários de suspense e apreensão.