Manu 30/10/2020
Esse livro com enorme título é uma antologia: alguns contos curtíssimos, entre 2 e 3 páginas, alguns pouco maiores, somando 21 histórias. A autora, Liudmila Petruchévskaia, tornou-se célebre no território russo, após suas obras terem sido banidas da União Soviética, só tendo sido publicadas ao final do regime, quando a autora beirava os 50 anos de idade.
A forma de contar de Petruchévskaia é diferenciada: a autora utiliza da oralidade como marca registrada em todos os contos. No início causa uma estranheza, e ela não sumiu para mim. A autora também utiliza elementos alegóricos muito fortes: há a magia, a fantasia e o inimaginável para explicar elementos presentes na vida de muitos cotidianamente: a fome. o padrão estético, a solidão, a morte. A própria celebração da morte, mas também a celebração da vida. É fato registrado que, nas entrelinhas, há duríssimas críticas ao regime soviético. Mas ao mesmo tempo em que há dureza, há uma sutileza infantil. É quase como a justificativa que é dada às crianças quando elas questionam de onde vêm os bebês, e a reposta dos adultos é: "a cegonha carrega eles até as casas dos futuros pais". É uma alegoria num elemento real, uma inverdade que traz em seu contexto um situação totalmente verdadeira.
Apesar de tudo isso, não me encantei pelo livro. Já fui com expectativas moderadas, e assim elas foram atendidas. Entendo totalmente a consagração de Liudmila, mas ao mesmo tempo tive um distanciamento forte com a escrita, não acontecendo o "brilho nos olhos" que tantos livros me trazem.