Toni 24/04/2018
As narrativas de Petruchévskaia são sutilmente devastadoras e nem sempre muito abertas à compreensão imediata (verdade seja dita, algumas tive de reler para tirar a prova do que diabos aconteceu). O estilo é seco sem muitos floreios e metáforas mas, ao final, cada conto acaba por revelar pequenas alegorias das condições de vida soviética pós-perestroika. O horror anunciado na capa não é o que podem esperar os leitores de Poe ou Lovecraft, e está muito mais próximo de uma Angela Carter (para citar uma contemporânea). Assustadores são, portanto, a vida doméstica sem privacidade, a condição das mulheres, a falta de perspectiva, o inverno, a guerra, as epidemias, a onipresença dos mortos. Vale muito a pena para aqueles que desejam descongelar (no pun intended) aquela imagem da Rússia que ficou parada no tempo desde as leituras de Dostoiévski, Tolstói, Tchekov & companhia ilimitada.
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GRIFO: "Jênia entendeu que para as pessoas nem tudo é tão simples, e que existe um lado da vida secreto, animal, que floresce teimosamente, e é nele que se concentram as coisas detestáveis e hediondas; e será que não haviam matado sua mãe?, pensava a Jênia adulta (dezoito anos) — pois mamãe ainda era jovem e podia ter ido parar nessa sombra da vida onde tanta gente morre." (P.105)