Vivi 12/02/2022Um relato respeitoso que nos conecta às vidas impactadasTodo dia a mesma noite: a história não contada da boate Kiss.
Este é um livro extremamente necessário. Nele Daniela Arbex nos apresenta, com muito respeito e seriedade, algumas das várias histórias de vida interrompidas ou marcada eternamente pelo incêndio na boate Kiss.
Um desastre que poderia ter sido evitado se não houvesse tanta negligência por parte dos já condenados proprietários e alguns componentes da banda que tocava no dia do evento.
A cada capítulo conhecemos um pouco daqueles jovens e suas famílias. Conseguimos sentir os laços de amor e cumplicidade entre aquelas meninas e aqueles meninos com seus pais, mães, avós e irmãos. Nos conectando um pouco com cada uma das histórias e e não emocionamos muito a cada capítulo.
Não é um livro fácil de ler, embora a escrita seja fluida e envolvente. Eu não queria parar de ler,as ao mesmo tempo precisei parar em alguns momentos para tentar digerir o tamanho da dor que a empatia nos leva a sentir. Se para nós que nem estivemos lá e não perdemos ninguém no evento já é tão doido, não consigo nem estimar a dor de todos naqueles dias.
Que vontade de dar um abraço em cada um desses familiares e amigos tão feridos com a tragédia da Kiss. Que eles possam um dia encontrar conforto.
Li em uma semana e a vontade que tenho é de recomendar que todos leiam agora se indignar em e compreenderem a importância de cumprirmos as recomendações técnicas, pararmos de dar jeitinho achando que não vai dar em nada.
Como sou pesquisadora dos desastres, alguns trechos me chamaram bastante atenção.
- A importância da comunidade nós atendimento imediato. São sempre elas que chegam antes e se mobilizam para tentar salvar vidas e minimizar os impactos dos eventos críticos;
- A gana da mídia por vender notícias sem respeitar a privacidade e a dor das famílias envolvidas;
- A quantidade de infrações e as ações em cadeia de desrespeito às regulamentações e normas. Deixar de fazer um reparo, trocar um componente por outro mais barato e inadequado para a aplicação pode custar vidas. Nada nesse mundo vale uma economia de dinheiro que leva uma vida;
- A incapacidade do poder público de dar conta de suas atribuições diante de equipes extremamente reduzidas e desprovidas dos recursos para o enfrentamento de cenários como o relatado no livro;
- A importância da garantir de atendimento psicossocial de longo prazo aos impactados pelos desastres. Pois quando eles ocorrem muito se faz para lidar com as questões urgentes materiais e no corpo físico. Mas com o tempo fica a dor mais difícil de lidar, a dor da alma, e essa é tão séria e importante quanto qualquer outra.
A engenharia, as leis e políticas preventivas pode evitar desastres. Mas só o senso de comunidade, a empatia e o respeito pela dor do outro podem ajudar a reestabelecer a vida dos envolvidos.
Eu acho que todo engenheiro, arquiteto e gestor público deveria ler esse livro para sentir o peso que cada tomada de decisão deles pode ter em casos como esses.