Rafa 12/05/2018Para sempre dia 27.Avaliar este livro é extremamente difícil, as pesquisas, a narrativa, os dados fazem o conjunto da obra bons, mas o motivo que levou a ser escrito, me entristece.
O dia 27 de janeiro de 2013, é uma mancha na história do Brasil, um dia de eterno luto para Santa Maria, e dor e muita saudades para as famílias de tantos jovens perdidos.
Quando você vê a noticia na televisão, jornal, sempre tem sensacionalismo jornalistico, além de transmitir a informações eles querem vendê-la, por isso muitas vezes não ficamos tocados realmente com a tragédia. Porém, ao ler Todo dia a mesma noite, os relatos reais de pessoas que estavam na boate Kiss, de vários pais, de médicos e pessoas que trabalharam incessantemente nos resgates, me tocou e me marcou muito.
Todo dia a mesma noite de Daniela Arbex, narra pontos vistas de pessoas que presenciaram e foram vitimas do segundo maior incêndio do pais.
Relatos como do médico do SAMU, vendo aqueles jovens morrerem em seus braços, tomar responsabilidades por transportar os feridos na tentativa de salvar a maior quantidade de pessoas.
Da enfermeira horrorizada com o som ensurdecedor dos celulares tocando com o nome "mãe" no visor.
Dos pais em busca de informações, de esperança de que seu filho ou filha não estive na lista de óbitos.
A tragédia nos mostrou o quanto não estamos preparados para algo dessa magnitude. Não havia leitos suficientes, equipamentos e medicamentos, pessoas aptas a trabalharem no resgate.
E em como nossa fiscalização é falha. A boate Kiss foi revestida com uma espuma tóxica e proibida, para abafar os sons. Ela não possui Alvará do corpo de bombeiros para estar funcionando, e funcionou até o dia da tragédia. A maioria das pessoas morreram porque não conseguiram sair do local, além de só ter uma saída, haviam grades de fila, para evitar aglomeração. Os seguranças barraram muitas pessoas porque não tinham pagado a comanda, condenando assim tantos destinos. No dia a capacidade estava muito superior do que podia. Muitos jovens morreram nas portas dos banheiros tentando encontrar uma saída, sendo asfixiados com a fumaça venenosa. Muitos foram encontrados abraçados.
Foi uma cena de guerra. Tanto que a fumaça provocada pela espuma reagiu como cianeto, o mesmo veneno usado nas câmaras de gás da 2ª Guerra Mundial.
Muitos pais não só perderam um, mas dois filhos nesse dia 27. Filhos com sonhos, jovens, estudantes, alguns estavam vivendo sua primeira paixão, outros comemorando seu aniversário.
Dois pontos me chocaram muito no livro, se é que possível, o momento em que o pastor condena os pais de uma vitima por permitirem que ele fosse a Kiss, dizendo que era um punição de Deus a eles. E o outro é a chegada de políticos e adentarem, antes das famílias, o ginásio onde estavam sendo reconhecidos os corpos, um absurdo.
Além de toda a dor, sofrimento, as famílias ainda passariam pela dificuldade em velar e sepultar seus filhos e filhas, as funerárias cobravam preços exorbitantes para realizar o funeral.
Santa Maria sangrou no dia 27, e nada jamais vai apagar a dor e a tristeza que marcou esse dia. Fica para nós o ensinamento para que possamos evitar perder tantas vidas por uma má administração e fiscalização. Fica também a saudade de cada jovem que não sobreviveu ao dia 27. E também a impunidade, pois todos os responsáveis respondem em liberdade, pela morte de 242 pessoas, e sabe se lá quantas outras também deixaram de viver por conta dessa noite.