Guerra e Paz

Guerra e Paz Leon Tolstói




Resenhas - Guerra e Paz


416 encontrados | exibindo 76 a 91
6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 |


josemaltaca 08/03/2022

Paz e Guerra
Guerra e Paz é um monumento, uma obra colossal que se desdobra em vários temas, personagens, momentos históricos e acontecimentos bombásticos. Publicada originalmente em 1865 pelo lendário escritor russo Liev Tolstói, o livro cobre um período de 15 anos (1805-1820) da história russa, narrando os destinos de quatro famílias aristocráticas durante um período conturbado em que se intercalavam a paz e a guerra. Assim, uma galeria memorável de protagonistas ganham vida e profundidade psicológica sob a tutela de Tolstói, com destaque para Pierre Bezukhov, Natasha Rostova, Mária Bolkonskaya e Nicolau Rostov. As personagens se chocam como bolas de bilhar impulsionadas pelos acontecimentos históricos e pelas exigências da alta sociedade russa, em que se misturam o determinismo, o seu consequente fatalismo e, por fim, o inevitável espiritualismo subjacente.

A obra é dividida em quatro tomos, sendo que os dois primeiros são muito diferentes dos dois últimos. Narram uma história só? Sim. Carregam os mesmo personagens? Sem dúvida. Buscam abordar temas similares? Com toda certeza. Porém, os primeiros dois volumes se estendem em sua cronologia por mais de uma década, narrando eventos sucessivos, porém esparsos no tempo, enquanto os dois últimos têm seu enfoque na invasão napoleônica da Rússia, um período que abrange alguns meses – com exceção do epílogo, o qual se passa vários anos depois. Assim, as primeiras partes narram um período em que predomina majoritariamente a paz, enquanto os dois últimos narram a guerra, o que faria a denominação “Paz e Guerra” mais coerente. Os primeiros tomos também não entram a fundo nas ideias de Tolstói acerca da maneira como a história ocorre, ao passo que em quase todos os volumes que compõem o livro dois, Tolstói dá seus dois centavos sobre como ocorre o processo histórico – o que o autor também faz no extensíssimo segundo epílogo. Essa repetição por vezes se torna enfadonha, uma vez que interrompe o fluxo narrativo para exemplificar um ponto que já estava claro anteriormente.

A história de Guerra e Paz, contudo, é um deleite. Misturando personagens fictícios com figuras históricas reais, o livro consegue a proeza de dar profundidade e camadas psicológicas a figuras proeminentes na história mundial, com destaque óbvio para Napoleão, mas também para Mikhail Kutúzov, marechal do exército russo, e também para o Imperador Alexandre I. De um ponto de vista histórico, Guerra e Paz é um prato cheio para adentrar nas nuances de um período conturbado da história mundial, compreendendo a invasão napoleônica da Áustria, a paz selada entre a Rússia e a França e a fatídica e famosa invasão da Rússia pelo exército francês. Porém, concomitantemente, as personagens são ricas, interessantes e profundas, buscando o sentido da vida em vários lugares e fracassando sucessivamente – seja na busca pela glória militar, pela influência na burocracia estatal, pelo conhecimento maçônico ou pelo amor conjugal. A lição final de Tolstói é de que a espiritualidade individual é a única busca frutífera, sendo que a simplicidade é a felicidade plena – o que é personificado pelo personagem Platon Karataiév. Por todos os motivos acima citados, Guerra e Paz é um livro reflexivo, instigante, arrebatador e, sem dúvidas, obrigatório.
comentários(0)comente



tbbrgs 18/03/2023

Guerra e Paz, Liev Tolstói
De fato, é desafiador escrever a resenha de um livro sobre o qual tanto já foi dito e cujo autor não foi somente um escritor, mas também um filósofo que buscou ao longo de toda a sua vida verdades que explicassem as ações humanas.

Comprei "Guerra e Paz" há cinco anos e demorei tanto para lê-lo principalmente por causa do número de páginas, mas, na realidade, a leitura em si não é nem de longe tão difícil quanto seu tamanho me levou a crer.

O livro aborda temas universais e atemporais, divididos basicamente em dois núcleos: o núcleo privado, ou seja, aquele que é contado pelo olhar da vida de alguns personagens de famílias da aristocracia russa (através de seus bailes, suas fofocas, suas intrigas, suas traições, seus relacionamentos, suas heranças, seus dilemas, etc.), e o núcleo público, aquele que é contado a partir da perspectiva de diversos historiadores, documentos, cartas e registros da época que se passou entre 1805 e 1820, esboçada ao longo da narrativa, período esse em que se travaram várias guerras em diversos territórios da Europa, visando a expansão do Império de Napoleão Bonaparte.

Tolstói, ao longo do livro, intercala esses dois núcleos de modo excepcional. Os personagens fictícios da aristocracia estão a toda hora defronte a personagens reais (participantes das decisões políticas, estratégicas e militares do período), como o tsar Alexandre I, o comandante em chefe Kutuzov, o general Bagration e até o próprio Bonaparte. Isso criou uma atraente coesão à história, ao trazer, por meio da criação de profundas personalidades para essas figuras históricas, uma maior humanidade a elas, e, assim, evidenciar que elas eram tão sujeitas a dilemas morais, dúvidas, emoções e erros quanto qualquer outro personagem fictício do livro, principalmente no que concerne a um assunto tão complexo quanto a guerra.

Ao mesmo tempo em que o escritor se utiliza da criação desses personagens aristocráticos para traçar uma crítica perspicaz e irônica ao seu estilo de vida, ele mantém uma postura firme de crítica, também, com relação aos diversos historiadores consultados por ele durante a produção da obra, que, com frequência, colocavam Napoleão como um gênio ou herói, no mais alto patamar da História. Essas críticas estão tão bem delineadas ao longo do livro que é como se formassem um terceiro núcleo. Por isso, é tão difícil - e até impensável - classificar "Guerra e Paz" dentro de uma simples categoria romanesca: ele contém características que vão muito além, como as páginas e páginas de reflexões filosóficas e de descrições minuciosas de batalhas.

Entretanto, o magistral desenvolvimento de alguns de seus personagens nos mostra que "Guerra e Paz" é também um romance excepcional. Eu particularmente fiquei encantada ao observar a evolução de Pierre Bezukhov, um dos personagens que mais cresceu ao longo da narrativa, cheio de nuances e camadas, e o núcleo da família Rostov foi definitivamente um dos meus favoritos da história, pois os laços afetivos criados entre seus membros me pareceram os mais genuínos. Além disso, me descobri inesperadamente envolvida na narrativa quando as cenas envolviam os acampamentos militares, os exércitos em marcha, os campos de batalha ou os soldados feridos: as descrições do narrador transmitiram de maneira inigualável a sensação da mais conturbada das batalhas e fizeram com que alguém leigo em termos militares, como eu, compreendesse melhor cada situação e se interessasse ainda mais por esse universo bélico e as motivações por trás de sua existência.

Caso você não queira ler o livro e esteja em busca de uma boa adaptação de "Guerra e Paz" para as telas, saiba de antemão que não irá encontrá-la. A experiência da leitura nunca será equivalente à experiência cinematográfica. Então, tudo o que foi dito, refletido, descrito e filosofado por Liev Tolstói nesse livro nunca será transmitido de maneira equivalente para uma tela. A experiência da leitura é única e insubstituível. Por isso, recomendo assiduamente que você leia o livro, ao invés de tentar absorver sua mensagem por meio de uma ou outra adaptação. Tolstói escreveu uma obra-prima, e muitos dos seus temas, dos seus questionamentos e de suas reflexões abordam problemáticas metafísicas que recursos visuais e sonoros dificilmente captam da mesma maneira.

Portanto, como conclusão, quero dizer que finalmente pude entender o hype de "Guerra e Paz". Afinal, ele não é apenas um romance sobre as polêmicas que envolviam as altas sociedades moscovita e petersburguense no início do século XIX: ele é também um retrato e um documento histórico acerca da realidade dessas duas capitais russas ao longo das guerras napoleônicas e da invasão da Rússia, além de servir como uma fonte inesgotável para as mais potentes reflexões em torno da natureza da guerra, do homem e da vida.
comentários(0)comente



Salmont0 05/03/2023

Perspectiva
Ao abranger um cenário histórico enquanto comenta sobre as individualidades e vidas particulares de seus eleitos, o autor cria uma narrativa complexa mas muito rica, não apenas na construção dos personagens, mas no espaço geográfico percorrido e nas maneiras da época. Não sei quão fidedigno as questões militares e mesmo históricas o autor se manteve, e quanto tempo foi dedicado ao encontro e conexão entre os episódios reais e a vida dos personagens, mas a profundidade e propósito de cada um no cenário do livro fica tão coeso e bem justificado que sinto como se todos fossem muito reais e palpáveis. Gosto particularmente da distância que o tsar tem de todo desenrolar, porque torna mais crível, apesar de ver de forma conflitante os sentimentos de alguns personagens pela figura de Alexandre I, o soberano. Entristeço-me muito com algumas percas ao longo da narrativa que me pareceram inevitáveis para a conclusão eficiente da história, enquanto outras, apesar de muito aguardadas, ocorreram num momento inconveniente, o que torna tudo mais verossímil ainda. Aproveitei muito a leitura e espero ter um momento no futuro em que eu possa retornar a esse mundo tão bem construído de Tolstoi.
comentários(0)comente



JoAo.Gilberto 02/03/2023

Agora me sinto um leitor profissional
Um livro incrível, muito profundo e com uma história envolvente. É muito bem escrito e a mistura com a história russa traz um tempero especial para a trama.
Realmente é um monumento da literatura universal, não é somente um romance. É o primeiro livro de um autor russo que eu li e me instigou a ler outros de Tolstói e outros da literatura desse país.
Embora seja um projeto de leitura de longo prazo (levei 59 dias pra concluir) vale a pena. Vc se entretém, adquire conhecimento, reflete, etc. Recomendo a leitura pra quem tiver interesse numa boa história com contexto real.
comentários(0)comente



Luiz Camargo 25/02/2023

Obra Prima
Um clássico é sempre um clássico. Mas Guerra e Paz vai além. Para quem gosta de história, filosofia e também um pouco de ação esse clássico é leitura obrigatória. Tolstoi brilhante na sua obra prima.
comentários(0)comente



rebecca 24/02/2023

Uma leitura de altos e baixos
Demorei, mas terminei! ainda refletindo muito se a nota que eu dei realmente foi justa, porque, apesar de tudo, amei o livro com todo meu coração, mas algumas partes foram tão... maçantes? parecia que eu estava lendo a mesma coisa repetidamente por várias partes; a descrição da guerra também foi uma- experiência, como eu nunca fui fã, deveria saber onde eu estava me enfiando
comentários(0)comente



Gabriel Farias Martins 21/02/2023

Mais leve do que parece
Apesar dos nomes e apelidos diversos de uma gama tão rica de personagens ser confusa à princípio, a história se desenrola de forma muito leve, repleta de bons diálogos e reflexões
Tolstoi sempre surpreende positivamente
comentários(0)comente



Carol749 20/02/2023

Tolstói é considerado um dos grandes autores da literatura mundial e não é atoa.
O autor consegue com primazia enrredar a vida de três grandes familias russas e o impacto das guerras napoleônicas nas vivencias da aristocracia.
Com personagens extremamente complexos é difícil não se apegar a algum deles, com todas as nuances de pessoas falhas e em constante evolução (para a melhor ou pior).
Nessa primeira metade é possível vivenciar a guerra, mas também vemos as regras e aparências que mantém a alta sociedade russa da época.
comentários(0)comente



João 16/02/2023

Mas que expressão!
Aqui eu tenho que tomar bastante cuidado com minhas palavras. Afinal de contas, quem sou eu, mero mortal, para falar de um produto da mente de Liev Tolstói?

"Guerra e Paz" trata-se de uma mistura entre uma história de ficção e romance, que envolve personagens complexos e suas ainda mais complexas interrelações, e a história "real" (termo questionado por Tolstói) da humanidade. Pode não parecer tanto, mas é uma solução incrível!

O autor consegue penetrar no íntimo de cada personalidade, cada cenário e cada situação com uma capacidade descritiva e imaginativa surreal. Foram durante essas passagens que eu parava pra olhar um pouco a paisagem e constatar a beleza desse universo literário.

"O que é Guerra e Paz? Não é um romance, muito menos uma epopéia, menos ainda uma crônica histórica. Guerra e paz é aquilo que o autor quis e conseguiu expressar, na forma em que a obra foi expressa." - o autor.
comentários(0)comente



lareS2 16/02/2023

Devo admitir que demorei mais do que o normal para completar a leitura, que às vezes se tornava maçante. Entretanto, a prática emprega por Tolstói na construção da história é incrível, realmente se percebe o limiar entre a guerra e a paz, contornada pelo horrores da guerra, e reforçada pela vida, que se pode dizer comum à época, das personagens principais, que são envoltas por questões e preocupações humanas.
comentários(0)comente



Arthur Sanches 10/03/2022

Sem dúvidas este livro não é um clássico venerado por gerações em todo o globo à toa. Tolstoi nos conta aqui um épico histórico cheio de personagens cativantes com sua escrita poética e inigualável. Sem dúvidas um livro obrigatório na estante e na mente de todos que amam literatura.
comentários(0)comente



Ricardo.Kano 18/11/2024

Obra monumental !
"Guerra e paz " de Liev Tolstói(1828-1910)
Escrito de 1863 a 1869, inicialmente publicado na revista Rúski Viéstniki entre 1865-1866 sob o título de 1805. Tinha 35 anos.

É considerado uma obra prima da literatura mundial.

Não se pode classificar como romance histórico, porque Tolstói rejeitava o padrão flaubertiano do romance.

Tem início em 1805 e se extende até 1820, há um salto no final quando os personagens já estão casados e com filhos.

Tem um padrão de novela com quatro núcleos principais da alta sociedade russa : os Rostóv, os Bolkónski, os Kuráguin e os Bezúkhov. Além desses há vários personagens secundários.

Inicialmente há um pouco de dificuldade em saber quem é quem.

Como na maioria das obras russas, às vezes chamam pelo primeiro nome, apelido, nome inteiro, depois de umas 200 paginas já tornam se mais familiares.

Assim como em novelas a gente cria uma afeição e ódio por alguns personagens.

Como pano de fundo ocorre a invasão da Rússia por Napoleão com um exército de cerca de 600 mil soldados.

Aliás em grande parte do livro o pano de fundo são as histórias dos personagens e há uma descrição detalhada sobre as batalhas e estratégias ou falta delas, o que foi bastante interessante e esclarecedor para entender como ocorreu a histórica e humilhante derrota do exército de Napoleão e começo do fim da era napoleônica.

No epílogo Tolstói faz uma extensa, profunda e interessante digressão sobre poder, liberdade e necessidade.

Tem vários trechos em francês com tradução no rodapé, que incomodam um pouco.

O livro tem 2.482 paginas na edição da Cosac Naify, traduzido por Rubens Figueiredo.

Gostei mais de "Os miseráveis " porque o enredo dos personagens é muito mais emocionante.

Este livro foi muito enriquecedor para mim no sentido histórico. A novela em si é um pouco novela de Manuel Carlos. Senti falta de um vilão como Thérnardier.

Mas foi mais uma superação dos limites para mim terminar esse livro.

Valeu a pena!!!
comentários(0)comente



Mabi.Goncalves 12/01/2023

Primeiro livro que li após ressaca literária
Os livros são em duas partes, o que me assustou bastante. Eu tava numa ressaca literária quando peguei para ler, talvez por isso tenha achado o primeiro livro tão maçante e demorei muito para terminar de ler. A leitura não fluía, fiquei 1 ano tentando ler o primeiro livro. Já recuperada da ressaca, comecei a ler o segundo livro, e a leitura rendeu muito mais. Fiquei mais envolvida pelo que lia e conseguia ler mais páginas por dia. Terminei o segundo livro em mês. Gostei dos livros e me repreendia com a minha maneira de pensar em certa passagem do livro. Teve um momento em específico que uma cena me chocou bastante.
comentários(0)comente



psraissafreire 17/01/2023

Um e-mail.
Oi, gente! A primeira resenha do ano é bem especial e um pouquinho diferente. Vou transcrever para vocês um e-mail que mandei para duas amigas minha (temos essa mania de mandar e-mails umas pras outras). Nele eu falei sobre "Guerra e Paz". Aqui está!

“Sem a consciência de si é inconcebível qualquer observação e qualquer aplicação da razão.”

Queridas Duda e Lau,

Faz quase meia hora que finalizei "Guerra e Paz". Ainda preciso ler os posfácios que estão inclusos na minha edição da Companhia das Letras, mas a leitura da obra em si foi concluída. Ainda me encontro sem palavras para expressar a magnanimidade, a grandiosidade que esta trama possui e da importância para o meu pensamento sócio-histórico. Ele me fez pensar em muitos aspectos, tanto internos quanto externos.

É por causa desse tipo de obra que eu fico fascinada e tão hipnotizada pela leitura. A maneira como um livro me desperta e me faz pensar no mundo em que vivemos e como vivemos... Só um livro é capaz de fazer isso, e só um clássico como "Guerra e Paz" consegue fazer isso de maneira tão maestral, tão impecável e inesquecível. Esta trama vai perdurar na minha mente por muito tempo, sério, e espero um dia ter contato novamente com personagens e uma escrita tão primorosos.

Pensar na forma como analisamos os momentos históricos e seus principais personagens, na atribuição gritante que damos a estas pessoas e o protagonismo que construímos em cima deles: foi isso que o Tolstói conseguiu atribuir na sua maior obra. A segunda parte do epílogo foi extremamente genial, TODAS as passagens são dignas de reflexões inesgotáveis.

Enfim, mesmo sabendo que há muita ficção ali, com aqueles personagens, aquelas "fofocas" que eu já contei para a Eduarda kakakakak... Ainda assim não dá para largar, não dá para NÃO imaginar todos os cenários, ouvir as músicas, sentir os olhares, os toques, os beijos, as falas. É tudo tão palpável, meninas! Ai, estou fascinada, completamente FASCINADA!

Olha, eu vou mandar aqui o último capítulo da obra, que está na segunda parte do epílogo. Peço que tenham paciência e leiam, é impossível não se arrepiar. Obrigada por lerem até aqui, amo-lhes muito!

"Desde que foi descoberta e provada a lei de Copérnico, a simples admissão de que não é o Sol que se move, e sim a Terra, aniquilou toda a cosmografia dos antigos. Talvez fosse possível, uma vez refutada a lei, conservar o antigo conceito do movimento dos corpos, porém, como ela não foi refutada, seria impossível, pelo visto, prosseguir o estudo dos mundos ptolomaicos. No entanto, mesmo após a descoberta da lei de Copérnico, os mundos ptolomaicos continuaram a ser estudados por muito tempo.
Desde que o primeiro homem disse e provou que a quantidade de nascimentos ou de crimes está subordinada a leis matemáticas, e que determinadas condições geográficas e político-econômicas determinam esta ou aquela forma de governo, e que determinadas relações da população com a terra produzem os movimentos dos povos — desde então, foram destruídas, a rigor, as bases sobre as quais se edificou a história.
Talvez fosse possível, uma vez refutadas as novas leis, conservar o conceito anterior de história, no entanto, como ele não foi refutado, pareceu impossível continuar a estudar os acontecimentos históricos como frutos da vontade livre das pessoas. Pois, se tal forma de governo se estabeleceu ou se tal movimento de um povo se executou devido a determinadas condições geográficas, etnográficas ou econômicas, a vontade das pessoas que representamos como as determinantes da forma de governo ou como os motores do movimento de um povo já não pode ser vista como uma causa.
E, no entanto, a história antiga continua a ser estudada em pé de igualdade com as leis da estatística, da geografia, da economia política, da filologia comparada e da geologia, frontalmente opostas aos seus postulados.
Na filosofia física, houve por muito tempo e de modo obstinado uma luta entre a visão antiga e a nova. A teologia pôs-se em guarda na defesa da visão antiga e acusou a nova de destruir a revelação. Mas, quando a verdade venceu, a
teologia edificou-se de forma igualmente firme sobre o solo novo.
Assim também, em nossa época, existe há muito tempo e de forma obstinada uma luta entre a visão antiga e a visão nova da história, e a teologia também se põe na defesa da visão antiga e acusa a nova de destruir a revelação.
Num caso e no outro, de ambas as partes, a luta desperta paixões e sufoca a verdade. De um lado, aparecem o medo e a compaixão por todas as construções erguidas pelos séculos; de outro lado, existe a luta da paixão de destruir.
Para as pessoas que lutaram contra a verdade suscitada pela filosofia física, parecia que, se reconhecessem aquela verdade, seria destruída a fé em Deus, na criação do firmamento, no milagre de Josué, filho de Naum. Para os defensores da lei de Copérnico e de Newton, para Voltaire, por exemplo, parecia que as leis da astronomia demoliam a religião e ele usou a lei da gravidade como uma arma contra a religião.
Da mesma forma parece ocorrer hoje em dia: basta reconhecer a lei da necessidade, e se destrói o conceito da alma, do bem e do mal e todas as instituições governamentais e eclesiásticas construídas com base nesses conceitos.
Da mesma forma, assim como Voltaire em sua época, hoje em dia os defensores não declarados da lei da necessidade empregam a lei da necessidade como uma arma contra a religião; da mesma forma que a lei de Copérnico na astronomia, a lei da necessidade na história não só não destrói como até reforça o solo sobre o qual são construídas as instituições governamentais e eclesiásticas.
Tal como na questão da astronomia antigamente, também agora na questão da história toda a diferença de opinião está fundamentada na admissão ou na rejeição da unidade absoluta que serve de medida aos fenômenos visíveis. Na astronomia, era a imobilidade da Terra; na história, é a independência da personalidade — a liberdade.
Assim como para a astronomia a dificuldade da admissão do movimento da Terra consistia em ter de renunciar à sensação do movimento dos planetas, também para a história a dificuldade da admissão da subordinação da personalidade às leis do espaço, do tempo e das causas consiste em ter de renunciar ao sentimento imediato da independência da própria personalidade. No entanto, assim como na astronomia a opinião nova dizia: “De fato, não sentimos o movimento da Terra, porém, ao admitir sua imobilidade, chegamos a um absurdo; mas ao admitir o movimento, que nós não sentimos, chegamos às leis” — também na história a opinião nova diz: “De fato, não sentimos nossa independência, porém ao admitir nossa liberdade chegamos a um absurdo; ao admitir a própria independência em face do mundo exterior, do tempo e das causas, chegamos às leis”.
No primeiro caso, era preciso renunciar à consciência de uma inexistente imobilidade no espaço e reconhecer um movimento que nós não sentimos; no caso presente, é igualmente necessário renunciar a uma liberdade inexistente e reconhecer uma dependência que não sentimos.

FIM"
comentários(0)comente



Trindade 04/01/2023

Obra impressionante
Tem uma narrativa fluida e bem divertida. Mas é necessário que preste atenção redobrada nos personagens, pois é muito fácil confundi-los.
comentários(0)comente



416 encontrados | exibindo 76 a 91
6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR