alinevianadp 12/01/2022
Uma história sobre amor, romance, relações familiares, temperos e destemperos de famíilia, raízes e tradições
"Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete."
Escrito pelo carioca e ex-diplomata Francisco Azevedo, "O Arroz de Palma" foi lançado em 2008 e marca a estreia do autor como romancista. O livro foi traduzido para vários idiomas.
Eu resolvi comprá-lo pois já havia ouvido várias pessoas (principalmente mulheres) tecerem críticas elogiosas sobre ele. Mas não sabia muito bem o que esperar, além de não entender qual era o significado do livro ("O Arroz de Palma" seria uma receita? "Palma" seria a cidade de proveniência do arroz?).
Na verdade, "Palma" é uma referência ao nome próprio da tia do protagonista e narrador Antônio: a portuguesa tia Palma, que veio de Portugal (mais precisamente da cidade de Viana do Castelo) acompanhada do Seu irmão José Custódio e da sua cunhada, Maria Romana (pais do protagonista). E o arroz do titulo nada mais é do que o presente de casamento que tia Palma deu ao seu irmão e à sua cunhada quando eles se casaram, em 11 de julho de 1908, em Viana do Castelo. Foi, sem sombra de dúvidas, um presente inusitado. Mas, ao mesmo tempo, um presente carregado de carinho e simbolismo. No dia do casamento, Palma colheu, grão por grão, todo o arroz que havia sido jogado pelos convidados sobre os noivos, e isso resultou num presente de 12kg (aferidos na balança!).
Ao longo do romance, o arroz (que na cerimônia de casamento representa os votos de prosperidade e fertilidade que os convidados dirigem aos nubentes) revela-se muito mais do que um símbolo: durante toda a história familiar dos portugueses José Custódio e Maria Romana, o arroz se revela algo abençoado, sagrado, milagroso e, ao mesmo tempo, misterioso e polêmico, ao ponto de levar ao seguinte questionamento: seria o arroz um castigo ou uma maldição?
Ao longo das 362 páginas do enredo, podemos acompanhar, sob o ponto de vista de Antônio, sua história familiar, que começa com o casamento de seus pais, em 2008, e termina com a festa de comemoração dos 100 anos desse casamento, em 11 de julho de 2008. E isso me fez perceber que esse e outros detalhes do livro são resultado de uma influência da obra "Cem anos de solidão" (que traz uma narrativa sobre 100 anos da família dos Buendía. Além disso, o patriarca da família Buendía se chama José Arcadio, enquanto o de "O Arroz de Palma" se chama José Custódio. E não é só: em "O Arroz de Palma" vemos certa dose de realismo fantástico, que é uma característica muito marcante de "Cem anos de Solidão": o arroz, além de durar 100 anos sem se deteriorar, possui algumas propriedades mágicas).
"O Arroz de Palma" é dividido em capítulos não numerados e relativamente curtos, e a história é narrada em primeira pessoa por Antonio, que, aos 78 anos, relembra a trajetória de sua família ao longo de um século. Ele próprio deixa bem clara a parcialidade e a pessoalidade de tudo o que é contado nas páginas do livro, pois, já idoso, assume ter falhas de memória e um particular ponto de vista sobre os fatos narrados.
Ao final do livro, há um calendário com a disposição cronológica dos fatos mais marcantes que se sucederam na história dessa família ao longo desses 100 anos. Então, se, ao longo da leitura você se perder com a cronologia, você pode recorrer ao calendário.
A leitura é fluida e a linguagem é extremamente poética e ilustrativa. Quem, assim como eu, ama a língua portuguesa e os jogos de linguagem que ela oferece, vai gostar de se envolver linguisticamente com "O Arroz de Palma".
Uma história sobre amor, romance, relações familiares, temperos e destemperos de família, raízes e tradições. É uma leitura leve, e eu recomendo seja pelo prazer da leitura, seja pela oportunidade de conhecer uma história escrita por um autor brasileiro que conquistou milhares de prateleiras no mundo todo!
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