Cinzas do Norte

Cinzas do Norte Milton Hatoum




Resenhas - Cinzas do Norte


67 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5


Alê | @alexandrejjr 19/10/2020

Vozes em desvio

O terceiro romance de Milton Hatoum é, sobretudo, um drama familiar. Além disso, preocupa-se em preencher suas arestas com uma análise dos tempos sombrios da ditadura militar no Brasil. É uma obra maior entre seus pares contemporâneos.

Conhecido por aliar o exotismo da Amazônia com tramas sedutoras, Hatoum abre mão aqui da forte influência de sua origem libanesa, tornando “Cinzas do Norte” o mais “brasileiro” entre seus três primeiros trabalhos. Embora cultuado muitas vezes como o “maior” entre os da sua geração, comprovado pelo seu amplo prestígio da crítica, alto número de vendas para um escritor nacional que não produz literatura escapista e imenso interesse da Academia - para esse último item, procurem pelo nome do escritor no Google Acadêmico e se impressionem -, meu interesse por Hatoum foi tardio. Quis evitar me decepcionar com “Relatos de um certo Oriente” ou superestimar “Dois irmãos”. E digo, com certa felicidade, que fiz a escolha certa.

Com uma narrativa meticulosamente precisa, cadenciada e, sempre que possível, densa, somos apresentados a personagens memoráveis que, agrupados em duplas, representam antíteses naturais: Lavo x Mundo, Ranulfo x Jano, Alícia x Ramira. Mesmo que demore inicialmente para se familiarizar com cada um deles, acompanhar suas evoluções gera um prazer que poucos livros conseguem. Além disso, a escolha por fragmentar os pontos de vista, aumentando as possibilidades da ficção na cabeça do leitor, são bem estimulantes. Você estranha quando algo acontece, fica um “quê” de subliminar no ar, mas depois agarra peça por peça e monta o bem pensado quebra-cabeça.

Assim como nos romances anteriores, Manaus é uma personagem. E que personagem! É possível sentir o calor dos casebres à beira dos igarapés e ouvir o barulho dos animais e insetos noturnos da capital amazonense que um dia teve mais florestas que prédios. Você, ao ler, entra junto nos barcos com eles, se desloca do ponto A ao ponto B enquanto vira as páginas.

Claramente um herdeiro do movimento modernista brasileiro, ainda que evoque ecos de Flaubert, seu ídolo, e emule em certos momentos um estilo elegante à maneira machadiana, nosso gigante incontestável, Hatoum cria uma obra com força própria para falar do passado de uma família, discutir as possibilidades da arte e retratar um Brasil, em especial Manaus, que insiste - e resiste - em seus próprios erros. Com uma obra tão pequena em termos quantitativos, Hatoum já está entre os grandes e, quem sabe, está próximo de figurar entre os gigantes. Vale.
Itamara 20/06/2021minha estante
Esse tá na lista há um tempão. Li apenas 02 dele e gostei bastante.


Alê | @alexandrejjr 20/06/2021minha estante
Vale a pena, Itamara, é muito bem escrito.


Henrique Fendrich 20/06/2021minha estante
Foi meu primeiro Hatoum também. O homem entende do riscado. Provavelmente será um dos contemporâneos lembrados daqui a 200 anos.


Eva 21/06/2021minha estante
Vou começar por Dois Irmãos


Alê | @alexandrejjr 22/06/2021minha estante
É a escolha mais comum, Eva.


ClAudio 02/03/2023minha estante
Iniciando Hatoum por ele! Sua resenha me deixou ainda mais ansioso para ler o livro!


Alê | @alexandrejjr 02/03/2023minha estante
É um baita livro, Cláudio! Um dos melhores romances nacionais contemporâneos que tive a oportunidade de ler. Boa jornada! E obrigado pelo comentário e por ter lido meu singelo texto.




Fabio Shiva 14/11/2021

Estranho gosto de cinzas
Há alguns anos fui convidado pelo professor Antonio Gimenez Macedo a participar de uma campanha de incentivo à leitura promovida pela Escola Municipal Amador Bueno. Minha contribuição foi a seguinte frase:

“Com o livro viajo através do espaço-tempo, descubro tesouros fantásticos, vivo mil aventuras, perigos e desafios, aprendo mais sobre mim mesmo!”

Lembrei desse episódio ao ler o terceiro e instigante romance de Milton Hatoum, “Cinzas do Norte”. Esse livro realmente me fez viajar no tempo e no espaço, para o Amazonas da década de 1960, cenário de boa parte da história. Hatoum é muito habilidoso ao narrar suas cenas e situações, dando aqui e ali pinceladas das cores locais (e temporais) que sugerem mais que descrevem, o que obtém o curioso efeito de tornar tudo mais real e vívido para o leitor.

Quanto à trama em si, deixou-me intrigado e até mesmo um tanto desconcertado ao tentar vislumbrar as intenções do autor. O que levou Milton Hatoum a querer contar essa história? As tensões dramáticas entre o filho artista e rebelde e o pai burguês e amigo do regime militar, entremeadas pelos conflitos paralelos vivenciados pela família do narrador e amigo do herói, com direito a várias sequências inesperadas e reviravoltas, tudo isso é contado com muita habilidade, sem dúvida, mas (ao menos para mim) impregnado de um constante estranhamento.

Uma possível chave para solucionar esse enigma é considerar toda a história de forma alegórica, metafórica, onde personagens e situações figuram como símbolos de questões nacionais e, certamente, também pessoais do autor. Assim (para mim ao menos) a história lida passou a fazer mais sentido.

Como o próprio título sugere, “Cinzas do Norte” é também a narrativa de uma destruição, tanto dos ambientes naturais e coletividades humanas da Amazônia, quanto do microcosmos dos personagens do romance. Por esse motivo, inevitavelmente, é uma história eivada de pessimismo, que deixa na boca um gosto mesmo de cinzas.

Aqui e ali, Hatoum lança verdadeiros petardos de realidade, que rompem com sonoras explosões o clima onírico da narrativa. Começando pelo aparente dilema colocado logo nas primeiras páginas:

“Ou a obediência estúpida, ou a revolta.”

Ou em cenas de ácida ironia que retratam a triste condição do povo:

“O diretor perguntou por que ela não tinha documento de identidade. ‘A metade da população não tem’, respondeu Jonas.”

“Não tem lei [*****] nenhuma, rapaz. Tudo depende das circunstâncias: o réu tem ou não tem grana. Amigo togado também serve. Essa é a lei, o princípio e o fim de todas as sentenças.”

Esse foi o meu primeiro encontro com a literatura de Milton Hatoum. Certamente anseio por novas sessões de estranhamento!

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2021/11/cinzas-do-norte-milton-hatoum.html



site: https://www.facebook.com/sincronicidio
comentários(0)comente



Lista de Livros 23/12/2013

Lista de Livros: Cinzas do Norte, de Milton Hatoum
“Toda mãe conhece pelo menos um homem na vida: o filho.”
*
“Mas, neste mundo, quem vive é que vê o pior.”
*
“Eu implorei pra ele tirar aquele ódio da alma. Ele disse que não ia tirar o que sobrara da vida.”
*
Mais em:

site: https://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2009/06/cinzas-do-norte-milton-hatoum.html
comentários(0)comente



Igor 19/07/2012

Literatura brasileira para quem gosta de literatura brasileira
Um livro fantástico, bem ao estilo de Hatoum.
Drama familiar, memórias obscuras e opacas, um narrador envolvido com a estória, personagens densos... Talvez exatamente por isso, há quem o considere de certa forma parecido com outras de suas obras, como 'Dois Irmãos' e 'Relato de um certo oriente'.

Mas há diferenças. Aliás, acho que 'Cinzas do Norte' é mais brasileiro do que 'Dois Irmãos', outro que li do mesmo autor. Afinal de contas, 'Dois Irmãos' mescla muito o universo árabe ao da Amazônia, deixando de se aprofundar ora em um, ora em outro. 'Cinzas', por sua vez, é uma obra essencialmente amazônica, em que a Manaus (e sua degradação) são contadas em compasso com o Regime Militar em que nosso país esteve mergulhado no último século.

Por isso, digo que esse livro é uma obra da literatura brasileira para quem gosta de literatura brasileira, porque, ao longo de mais de 350 páginas (grande, ao meu ver), o leitor respirará um Brasil em vários de seus aspectos: da beleza natural de uma Manaus pré-militar ao horror da má preservação e à cidade inarmônica que é a capital amazonense hoje. Uma literatura cheia de contrastes e conflitos, ácida em muitos aspectos e colorida em outros. Brasileiríssima, essa é sua definição-maior.
Eduardo 05/06/2015minha estante
Também senti tudo isso que descreveste! Livro maravilhoso!


Lorena Porto 22/11/2015minha estante
O livro é muito bom, me identifiquei com o narrador de uma forma estranha.




Otávio - @vendavaldelivros 04/09/2021

“O diretor perguntou porque ela não tinha identidade. ‘A metade da população não tem’, respondeu Jonas”.

O que nós entendemos como arte? E o que nós entendemos como vida ideal? Arte de verdade era só o que pintavam os pintores renascentistas ou as músicas que Mozart e Bach faziam? Vida de verdade é participar de eventos sociais, ter status, poder e glória? Quais são, afinal, os conceitos de arte e vida que nos guiam?

Publicado em 2005 e vencedor dos prêmios Jabuti (2005) e Oceanos (2006), Cinzas do Norte é o terceiro romance de Milton Hatoum e narra a história de Mundo, sua mãe Alícia, seu pai Jano e de todas as pessoas que o cercam, através dos olhos de Olavo, seu melhor amigo de infância. Tudo isso em uma Manaus dos anos 60 e 70, tempos em que a ditadura militar mais matava e torturava no Brasil.

Resolvi começar Hatoum por um livro não tão conhecido como Dois Irmãos e acertei na escolha. Cinzas do Norte é um relato de relação familiar conflituosa, mas também um retrato de um Brasil profundo, de uma Manaus bela e ainda em desenvolvimento. É também o relato de como a arte nunca foi encarada como relevante no país, menos ainda na mão dos militares.

Mundo era um jovem diferente, que amava desenhar e criar, amava as artes e, em especial, as artes produzidas no coração da Amazônia, de gente da terra, índios e caboclos. Vivia sob o regime autoritário do pai Jano, que queria o filho militar, trabalhando desde muito cedo, mas nunca ofereceu um colo ou um carinho que fosse ao garoto. Em meio a tudo isso, Alicia vivia uma vida que não era vida e que só pulsava nos braços de Ran.

Cinzas do Norte é um livro de muitas camadas. Uma saga contada em pouco mais de 300 páginas, mas que tem tantos significados, tantos símbolos, tanta representatividade, que é difícil expor em poucas linhas. Um dos finais de livros mais avassaladores e espetaculares que li nos últimos tempos e que fecha a história de maneira magistral. Um livro que tem as cores, os sabores, o cheiro e as dores de um Brasil intenso e que ainda busca consolidar sua própria história.
comentários(0)comente



Hayra.Oliveira 11/09/2020

"A floresta queimada é a humanidade morta.”
Simplesmente emocionante!

Esse livro foi o segundo livro indicado pelo clube do livro da Sophya e até então o meu primeiro livro do Milton Hatoum.

O meu primeiro contato com Milton Hatoum foi através da minissérie "Dois Irmãos", inspirado em outro título do autor e mesmo não tendo lido o livro, consegui notar muitas semelhanças entre as duas obras.

Cinzas do Norte é um livro que consegue transportar o autor para a atmosfera e cultura do norte do Brasil. Sua grandiosa natureza, clima quente e úmido, frutos únicos, alimentos que vem da floresta e rios, pobreza, falta de estrutura urbana, barcos, vida de ribeirinhos e povos da mata... enfim, eu como nortista (sou do Amapá), me senti muito bem representada nas palavras e descrições do autor.

Ler sobre a minha região e cultura em um livro tão bom nos faz refletir e pensar na escassez de referência e representatividade sobre a cultura nortista na mídia em geral, principalmente sem aquela imagem caricata que todo mundo tem das pessoas que aqui vivem.

Além da representatividade cultural e histórica, pois o livro consegue mesclar muito bem os elementos que o compõe com aspectos da história do Brasil e do Amazonas, o autor também nos teleporta para um drama familiar que vai evoluindo e ganhando ares até mesmo obscuros, com uma narração envolvente e ascendente. Simplesmente lindo!

Gostei muito e indico esse livro para todos que amam conhecer e aprender mais sobre o Brasil, arte, história e para os amantes de uma boa trama cheia de segredos e que vai te envolvendo cada vez mais.
mpettrus 15/10/2020minha estante
Fiquei mega curioso pra ler esse livro ???


Hayra.Oliveira 15/10/2020minha estante
Amigo, eu gostei muito e fiquei curiosa para conhecer as outras obras do autor.




Thais.Carvalho 06/09/2021

Livro muito denso. Aborda relações complicadas entre pai e filho, expectativas que não podem ser atendidas e o curso de uma vida oprimida.
comentários(0)comente



maarcelamacedo 10/08/2023

Envolvente
Por ser amazonense, o livro me soa como uma história contada em casa. Conheço e visualizo os cenários de uma forma natura. Então, a experiência é bem legal.
Mas não deixa de ser uma história envolvente com plot twists incríveis. Tanto que terminei a leitura muito rápido.
Amo Milton! A cada livro fico mais envolvida.
comentários(0)comente



mpettrus 29/05/2021

A Tragicidade de Cinzas do Norte
O romance de Milton Hatoum, Cinzas do Norte, foi meu primeiro contato com a obra desse escritor amazonense. E de imediato, senti uma identificação com o universo ficcional por ele explorado. E foi uma identificação afetiva, pois sua investida pelo espaço amazônico e pela cultura vivenciada, com todas as nuances sensoriais trabalhadas na memória de seus narradores, lembrou a minha própria vivência.

No universo literário desse romance, o elemento mais importante é a memória, a origem de toda a sua narrativa. Muito interessante que Hatoum, o autor, trabalha uma simbiose de memórias com as memórias dos narradores do romance, pois ao mesmo tempo que faz um trabalho do uso de memória pessoal, a narrativa também é trabalhada a partir da memória do narrador, realizando um curioso duplo movimento dentro da narração. E dentro dessa gôndola, Hatoum fala de identidade, aspecto cultural, entre lugar, memórias, ruínas e cinzas.

Manaus é o espaço privilegiado desse romance. Muito interessante que Hatoum nos apresenta a capital amazonense como uma personagem passiva que, como seus moradores, é espoliada e sofre com as mudanças econômicas e com a devastação urbana e florestal provocada pela ambição colonizadora de empresários estrangeiros e brasileiros com as bênçãos do governo militar, contexto da história se passa no período da Ditadura Militar, onde esse regime denuncia uma decadência galopante.

Os dramas familiares, conflitos conjugais, adultérios compõe todo o tecido do romance. E para completar todo o enredo, Hatoum nos entregou personagens terrivelmente carismáticos e emblemáticos. O narrador principal do romance é Olavo, que acompanha à distância os passos do seu melhor, Raimundo Mattoso, que envia cartas e lhe confidencia toda a sua angústia diante da vida familiar e descontentamento com o pai. É interessante ressaltar que além de Olavo, temos ainda a narração do personagem Ranulfo. Os narradores de Cinzas deambulam por fronteiras construindo suas narrativas através de fragmentos, de restos, lembranças e suas observações pessoais do mundo. Mas o narrador principal, Olavo é quem recolhe todos esses relatos para compor a história de seu melhor amigo, e, por conseguinte, compor o próprio enredo da história como um todo.

Eu me emocionei muito com as cartas de Ranulfo, pois revelam o passado de Raimundo e Alícia, e somente no fim da jornada eu compreendi que a narração da personagem era uma forma de homenagear mãe e filho. E até o último momento, eu tinha minhas dúvidas sobre quem seria o verdadeiro pai de Raimundo. E fiquei chocado com a revelação.

A história trágica de Mundo, um herói problemático, porém, altamente carismático, que vai desenvolvendo uma feição revolucionária no decorrer da narrativa, é também a história trágica de todas as outras personagens a sua volta. Sobretudo, das personagens femininas: Alícia e Ramira, duas criações de Hatoum que me conquistaram nas primeiras linhas assim que apareceram na história. São personagens levadas numa sequência de desencontros, de vidas abaladas pelo sofrimento e intrigas familiares, onde uma seguiu em frente (resignada e compenetrada) e a outra, que sofreu os reverses de suas más decisões. Porém, ambas com destinos selados a tragicidade de suas existências.

Porém, nada foi mais trágico, mais triste e mais cruel do que emblemática passagem na história de Manaus do que a vida de um homem chamado Trajano Mattoso. Sua derrocada, ao que percebo agora depois que finalizei a leitura do romance, iniciou ao casar-se com Alícia, de quem não tinha amor, mas por quem amava. E a sua presença na narrativa sempre fora muito significativa para a trama, pois sempre estava por trás de tudo de importante que acontecia, corrompendo, influenciando, urdindo as entrelinhas da vida de Mundo, Ran e Jano. Mas ela e o filho também pagaram suas penitências antes do fim de tudo.
comentários(0)comente



Louise 23/09/2023

A vida dos outros
Pouco ouvi falar sobre o Amazonas e sua capital. Esse livro me despertou algumas inquietações. Quase abandonei. Não me dou bem com textos muito descritivos. A história, até por volta das últimas 70 páginas, pareceu ser o pano de fundo para a descrição da cidade, costumes e pratos. Depois que compreendi (achei que tivesse compreendido) isso, desliguei-me do que, pouco a pouco, foi sendo revelado.

Pessoalmente, a descrição deixou de ser um incômodo quando internalizei que seria assim e eu teria alguma noção de onde meu avô, manauara, nasceu. Não escolhi lê-lo por isso, mas de modo geral gostei da trama e fiquei querendo saber mais sobre os personagens.

Para quem leu O Cortiço, a descrição da cidade do Rio, mais ainda a parte de Botafogo, se parece em muito com o tipo de descrição feito da cidade de Manaus. Foi como andar pelas ruas, bares, museu, escolas, pegar os barcos e me dirigir às ilhas próximas. A pobreza, o mundo à parte que é Manaus, a rápida evolução da cidade.

Não posso dizer que me encantei. Não. Mas gostei de conhecer essa parte do País a partir da leitura.

Sobre alguns dos personagens, inicialmente achei Mundo mimado, rebelde, cheio de vontades, menos de encontrar um rumo na vida. Claro que depois entendi o motivo. Tudo tem motivo. Alicia, achei oportunista. Mas também entendi, apesar não justificar seu comportamento durante a vida, explica. Ela é uma sobrevivente da miséria e alcançou a riqueza, mas era infeliz e não abria mão da vida que tinha pela que queria ter. Outros tempos também. Jano, rico, certinho, queria as coisas à própria maneira, não parecia mal no geral, mas para o filho era o inferno. Lavo, parecia o personagem principal mas o via à margem de Mundo. Como se a vida dele fosse menos importante. Tantas coisas acontecendo para ele, mas poucas passagens sobre. O foco era Mundo e aquela família. Quis saber mais sobre Lavo porque gostei dele. Ao mesmo tempo ele parecia anestesiado pela vida. Ran, miserável que se achava rico, com ideias liberais mas que não gostava de trabalhar. Esse personagem me deu preguiça.

Há ainda a evocação da arte em meio à ditadura militar. Um tempo muito confuso, incerto, de polêmicas.

Quis deixar registrado para não esquecer as minhas percepções do texto.
Rita 27/09/2024minha estante
Nossa você resumiu bem o que eu senti lendo o livro, já estava me sentindo estúpida pois a maioria das resenhas era elogiando a história e alguns personagens sendo que eu achei alguns totalmente problemáticos.




spoiler visualizar
comentários(0)comente



Valéria Ribeiro 05/06/2024

O Brasil do Norte
Em Cinzas do Norte, Hatoum nos transporta para o Amazonas com sua cultura e natureza rica, luxuriante e repleta de vida. Ler sobre seus rios imensos, sua fauna e flora inigualável, sua culinária maravilhosa proporcionou um reencontro, pois morei na região Norte por onze anos e o livro me trouxe profundas reminiscências.

A história, percorre um período que abrange o final dos anos 1950 até o início dos anos 1980. Embora centrada em Manaus, tem suas raízes na Vila Amazônia, local de produção de juta e reino de Trajano Mattoso (Jano).

Jano, casado com Alícia, tem no filho Mundo a esperança de um herdeiro. O rapaz, todavia, não atende às expectativas do pai e luta por uma carreira de artista, fortemente rechaçada. A relação tóxica entre ambos permeia a história.

Mundo tem em Lavo o único amigo e este acompanha sua vida desde a infância até a maturidade em Berlim e Londres. Lavo, órfão, é criado pelos tios Ramira e Ranulfo (Ran) e se forma em Direito que passa a exercer em Manaus.

Por meio uma extensa carta escrita por Ran – e dispersa ao longo da narrativa - vamos percebendo como as vidas de Jano, Alícia, Mundo, Lavo, Ramira e Ranulfo se entrelaçam de forma indelével e como esses laços influenciaram o destino de todos. Essa carta esclarece o porquê de diversos fatos ocorridos na vida dessas pessoas e justifica, também, diversas atitudes.

Com personagens complexas, Hatoum explora emoções e sentimentos, nos descreve Manaus do pós-guerra, - apresentando as nuances de sua gente, suas ruas, praças, bairros e lugares de referência - com as alterações profundas que ocorreram na região. O período da ditadura, com suas arbitrariedades, violência e falcatruas também se descortina nessa obra primorosa. Ainda, sem parecer um ativista, o autor denuncia a exploração da floresta, o desmonte da capital e os desníveis sociais. Delimita, em sua escrita, o fim de uma era e isso, para mim, ficou marcado com a derrubada de palacetes antigos para construção de edifícios, bem como com a derrocada do império de Jano.

comentários(0)comente



Sophia.Campos 24/09/2022

Conheci um novo Brasil através de palavras
Li esse livro para vestibular. Ao ler a sinopse eu me interessei muito pois me pareço mais com uma personagem do que gostaria. Além disso, muitas tretas em família (bombásticas até), o que eu gosto.

Porém não consegui me conectar tanto quanto eu esperava pelas personagens.
Foi muito bom conhecer o Amazonas, um estado que eu nunca tive contato, saber como foi a ditadura por lá e as imigrações que lá houveram.
comentários(0)comente



Rafael M. 28/02/2023

Gostei MUITO!
Essa confusão familiar é muito próximo da realidade de várias famílias. O contexto da cidade, a ambientação, a forma que isso descrito, os personagens, tudo isso nos une aos personagens.
Eu gostei demais da forma que o autor conta essa história, de como descreve as situações, os conflitos. Me senti preso na leitura, do início ao fim.
A paternidade, que é ausente em tantas famílias, é, mais uma vez, uma grande incógnita nessa história. Uma criança que clama por atenção do pai.
Em tempos de ditadura, o pai que flerta com os militares, o filho que prefere as artes, o amigo que funciona muito bem como ferramenta de explicação da história, esse conflito cultural, a sensibilidade ao tratar das questões problemáticas da história.
Eu só consigo elogiar essa obra...


Se não fossem os outros compromissos, eu teria devorado esse livro em dias, mas fico feliz em ter tido a oportunidade de desfrutar essa história.

Cinco estrelas é pouco.
comentários(0)comente



Ana 23/10/2021

Cinzas do Norte
Um dois poucos livros de leitura pra vestibular que eu gostei
Um drama familiar com uma leitura bem fácil que deixa você intrigado
Alê | @alexandrejjr 16/11/2021minha estante
É um livro denso, mas acessível e gostoso de ler, né, Ana?




67 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5