Resenhas - Vida con estrella

Henrique Fendrich 09/05/2021

Poderosa leitura, a melhor que tive até agora neste meu ano voltado aos tchecos. Trata-se da história, em primeira pessoa, de Josef Roubícek, um judeu solitário que vive em Praga durante a ocupação nazista da Tchecoslováquia. Sua única companhia são as memórias de Ruzena, uma amante que o convidou a fugir para outro país, mas ele teve medo e ficou.

Depois, aparece em sua pequena casa o gato Tomás, que vagabundeava por toda a rua e, por algum motivo, decidiu permanecer com Roubícek, passar fome ao seu lado. E vamos acompanhando as agruras do que era ser judeu naquele contexto, o que era viver com uma estrela no peito para que "eles" os identificassem (os nazistas são sempre "eles" no livro), o que era ser expulso dos bondes por eles, o que era a cada dia ser informado de uma nova restrição, de mais uma coisa que não estava permitido aos judeus fazer na cidade.

E então começam as deportações. Ou para os campos de extermínio no leste ou para o campo de concentração em Terezín, na própria Tchecoslováquia. A cada dia se anunciava, sem qualquer critério lógico, o nome daqueles escolhidos para serem "transportados". Em um dia, convoca-se todos os Roubícek. Mas o nosso Josef, por algum motivo, não é chamado.

Enquanto isso, ele está sujeito a fazer a vontade deles, a assumir os empregos que eles querem, e por isso o colocam para trabalhar em um cemitério. Lá ele vive um tanto afastado do que acontece ao seu redor, concentrado em plantar verduras. Mas há sempre o risco de que ele venha a ser convocado. Seus companheiros de trabalho começam a sumir.

Roubícek reflete sobre tudo aquilo que estão vivendo, sobre o "circo" armado por eles, sobre o papel desempenhado pelos judeus naquela história. Todos pareciam ter a esperança de que, no último instante, algo aconteceria e a vida deles seriam salvas, só por isso se sujeitavam ao que lhes pediam. Mas essa esperança era um tormento e não se cumpria.

E então, pesando prós e contras, Roubícek decide não esperar mais ser convocado. Ou melhor, decide ele mesmo se convocar, mas sem se dispor a atendê-los. Decide deixar de ter medo e de viver em função da morte. Decide voltar à sua condição humana.

História ágil e muito bem contada, com vários momentos notáveis, como o tratamento que os tios de Roubícek lhe dedicavam. É incrível, mas ainda não tem essa maravilha em português.