Carlos Nunes 26/03/2018
Agatha Christie atípica
Para quem ainda não sabe, Agatha Christie não escrevia somente contos e romances policiais, mas era também poetisa e dramaturga. Logcamente, muitas de suas peças tinha enredo policial, como a famosa A RATOEIRA, em cartaz há 75(!) anos.... Mas AKHENATON é diferente, por dois motivos: não e´policial e se passa no Egito Antigo. Akhenaton foi um faraó bem diferente: amante da paz, desejava transformar o Egito em um exemplo de harmonia entre as nações antigas, abolindo guerras, escravidão e castigos físicos. Mas seu maior sonho era que todo o país cultuasse o deus Áton, simbolizado pelo disco solar. E moveu todo o aparato do império para tal fim, caindo no descontentamento do povo e, principalmente, batendo de frente com os sacerdotes de Amon, que de forma alguma desejavam perder seus status de poder e dinheiro. Enquanto Akhenaton e sua esposa Nefertiti vivem uma vida paradisíaca na nova capital que está sendo construída, alheios a tudo o que ocorre no restante do país, o sacerdócio de Amon vai tramando sua reconquista de território e poder. Essa peça jamais foi encenada, e dá para entender o motivo: muito trabalhosa, muitos cenários, figurinos, pompa. Seria bem cara. Escrita em 1937, só foi publicada em 1973, próximo da morte da autora. No Brasil, só agora. E, ao mesmo tempo que a editora LP&M merece os parabéns pelo lançamento, deixou a desejar - a meu ver - na tradução, com uma linguagem "moderna" demais, que impossibilita um mergulho maior no texto. Pela época em que foi escrito e pelo estilo de AC, não acredito que tal texto tenha sido escrito pela autora. Um bom livro, vem preencher uma lacuna importante, e justamente por isso, penso que merecia um cuidado maior na edição.