O exílio e o reino

O exílio e o reino Albert Camus




Resenhas - O Exílio e o Reino


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Côrtes 12/09/2022

Ótimo
Adorei o livro, porém não acho que esteja no mesmo nível de estrangeiro ou outras obras de Camus, mesmo tendo adorado o livro, eu não aconselho para primeiro contato com o autor, aconselho que comece por estrangeiro e deixe esse para depois!
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Gabriel.Larrubia 09/04/2022

Sempre vale a pena ler contos... Leitura sempre bem rápida e pesada. Nem sabia que ele tinha contos! Enfim gosto muito de lembrar do absurdo obrigado Camus
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Tháh 04/02/2021

Jonas, a arte e a solidão.
Escrevi a resenha abaixo sobre uma dos contos (ou melhor, novela) contidos no livro para a disciplina de Literatura Francesa na graduação em Letras, cujo enfoque era a "mise en abyme" (ou a arte dentro da arte). Gostei tanto da novela que no ano passado comprei e li o livro inteiro, mas confesso que Jonas é, para mim, a melhor história do livro.

Jonas ou O Artista Trabalhando, novela de Albert Camus, publicada no livro O Exílio e o Reino, em 1957, retrata a história de Gilbert Jonas, um artista que recém descobre sua vocação para a pintura e rapidamente ascende, tendo boa aceitação do público, outros pintores e da crítica, criando admiradores que se tornam, inclusive, seus discípulos.

Casado com Louise, que se desdobra nos afazeres domésticos, cuidado com as crianças, filhos de ambos, e todas as outras situações da vida social, de forma a não atrapalhar o desenvolvimento de seu marido, e amigo de longa data de Rateau, que lhe dá preciosos conselhos, especialmente a respeito de seus discípulos, e quem preza muito por Jonas, são os vínculos familiares e efetivamente afetivo evidenciados ao longo da novela, únicos personagens coadjuvantes, inclusive, que possuem nomes próprios na narrativa.

Apesar de já estar ligado ao ramo das artes, uma vez que trabalhava junto à editora de seu pai, sua paixão de Jonas e o desenvolvimento de suas habilidades para com as artes plásticas se deu tardiamente, num momento em que se encontrava enfermo. Mas, otimista que era, tirou proveito daquele infortúnio, bem como, em seguida, dispensou à Louise atenção necessária, percebendo-a e apaixonando-se.

O reconhecimento por suas obras não tardou muito a chegar, tendo alguns artistas querido receber o mérito por tê-lo descoberto, bem como passou a receber pequena quantia em dinheiro em contrapartida de suas produções, culminando com um representante de Estado solicitando um outro pintor para retratar Jonas em seu ambiente de trabalho, o ápice do reconhecimento.

Com seu reconhecimento, vieram os admiradores, os discípulos, os críticos literários... enfim, toda a gente ligada ao ramo das artes. Enchiam seu ateliê – que também era o quarto, lugar de jantar, espaço compartilhado com família. Com toda humildade e carisma possível, aceitava convites, recebia os visitantes, passava horas a fio conversando com seus admiradores, aceitava as análises e criticas feitas por seus discípulos, coisas que jamais havia sequer pensado.

Assim, sua produção começa a cair substancialmente, uma vez que não tinha mais tempo de conciliar seu trabalho com os lazares. Entretanto, apesar de aceitar os convites e de estar rodeado de pessoas que, a priori, se diziam admiradores e amigos, não sentia-se confortável, pois admirava também a solidão, o seu momento particular, seu desenvolvimento e criatividade. Com a produção cada vez mais negligenciada, as criticas passaram a ser ruim, os discípulos e amigos se afastaram cada vez mais, deixando de apoiá-lo, não entendendo sua mudança de estilo. Aliás, isso é questionado por Rateau, que, incrédulo, exclama: "que criaturas estranhas, gostam de você como estátua, imóvel. Com eles, é proibido viver!".

Ironicamente, tais amigos eram quem o encaminhava à desgraça, querendo moldá-lo de acordo com suas expectativas, usurpar suas habilidades, sem entender suas particularidades, e posteriormente o criticar, abandoná-lo.

A partir de então, Jonas, caído em desgraça, passa a trabalhar incessantemente, buscando recuperar o tempo perdido, dedicando-se completamente às artes, isolando-se completamente até mesmo de seu amigo mais fiel e de sua esposa e filhos, sobrecarregando e cobrando-se, contemplando, desgostoso, a solidão.

Tais situações plantaram em Jonas sentimento de ser alheio ao seu meio, uma vez que, rodeado de talentosos artistas e especializada crítica, às vezes sequer sentia-se capaz de explicar suas próprias criações, até porque não via sequer motivo em explicá-las, já que a arte estava inerente ao seu ser, tal como, dividia-se entre ser carismático e solícito, não recusando convites, até mesmo para que pertencesse ao seu meio, sendo complacente à ele, renegando seus próprios anseios, cobrando-se posteriormente pelas próprias expectativas. Um excelente impasse pessoal e existencial, da profissão artística e da condição humana, os tênues limites entre o ser o que se quer e o que se é imposto, bem como as frustrações pessoais.
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Pandora 04/05/2018

Quando eu estava no 1º ano do Ensino Médio tive um professor de Filosofia excelente, capaz de figurar entre os melhores professores da vida, uma inspiração para mim. Um belo dia ele escreveu no quadro 5 livros o quais, na opinião dele, todo mundo devia ler ao menos uma vez na vida:

"1984" de George Orwell
"Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley
"A Metamorfose" de Franz Kafka
"O estrangeiro" de Albert Camus
"A idade da razão" de Jean-Paul Sartre

Desnecessário dizer: essa lista me lançou em uma saga, persegui cada autor e foi uma das jornadas pelo conhecimento mais impactantes da minha vida, nela conheci Albert Camus, e jovem como era, talvez não seja demais afirmar: ele foi uma das vozes a moldar minha forma de ver, perceber e interpretar o mundo. A angustia do absurdo faz parte de minha paisagem interior, ler Camus é estar em casa.

"O Exílio e o Reino" é uma coletânea de 6 contos: "A mulher adúltera", "O renegado ou um espírito confuso", "Os mudos", "O hóspede", "Jonas ou o artista trabalhando" e "A pedra que cresce". Em cada conto nos encontramos com um personagem em momentos nos quais eles confrontam o sentimento de estarem sozinhos, exilados de uma comunidade por vontade própria, por imposição de outrem ou até por inação. É no centro desse exílio que todos eles absurdados encaram a suas questões existenciais.

Esse é tipo de livro sobre o qual é difícil de falar, na maioria dos contos Camus nos leva de situações corriqueiras até momentos nos quais os personagens se vem sobre uma pressão absurda e então explodem repensando suas vidas, tomando decisões se descobrindo e nos empurrando para também refletirmos sobre nossa existência.

Com uma escrita muito fluida, sem enrolar muito, Camus nos prende a sua trama e pouco a pouco nós vamos descobrindo o que compõe o "Exílio" e o "Reino" no qual cada um de seus personagens mergulha para dar sentido a sua existência. De repente me pego pensando nos vários personagens abordados pelo autor ao longo dos contos - uma esposa, operários recém saídos de uma greve malograda, um pintor sobrecarregado, um missionários que se converteu a religião do povo ao qual foi evangelizar, um professor solitário, um engenheiro em uma cidade do Norte do Brasil - e me pergunto de todos os seres humanos não tem seu próprio Reino e praticam alguma forma de exílio intencional, ocasional ou imposto. Penso também sobre mim, qual meu exílio e meu reino.

Penso tanto que também eu vou botar no quadro da minha sala de aula, entre os livros que todos deviam ler ao menos uma vez na vida "O Exílio e o Reino" de Albert Camus.

site: http://www.pandoraesuacaixa.com.br/2018/05/o-exilio-e-o-reino-albert-camus.html
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 10/04/2018

Albert Camus - O Exílio e o Reino
Editora Record - 176 Páginas - Tradução de Valerie Rumjanek - Lançamento: 29/01/2018.

A Editora Record dá continuidade ao projeto de relançamento da obra completa do argelino radicado na França Albert Camus (1913-1960) com seis edições em novo projeto gráfico: “O avesso e o direito”, “O exílio e o reino”, “A inteligência e o cadafalso”, “A morte feliz”, “O mito de Sísifo” e “Estado de sítio”. No ano passado já haviam sido relançados: “O estrangeiro”, “A peste”, “O homem revoltado” e “Diário de viagem”.

Ótima oportunidade para reler alguns dos maiores clássicos do século XX ou conhecer os títulos menos divulgados da bibliografia de Camus, Prêmio Nobel de Literatura de 1957. É o caso deste "O Exílio e o Reino", único volume de contos e último livro de ficção publicado antes de sua morte prematura em um acidente de carro no ano de 1960. O volume reúne seis contos, ambientados na África, Europa e Brasil, que refletem o absurdo da condição humana, a estranheza e inadaptação que transforma a vida em solidão ou exílio, tema que marcou toda a obra de Camus, um homem que soube resumir as grandes questões sociais e políticas do seu tempo, tanto no campo da filosofia como na ficção.

O conto de abertura desta antologia, "A melhor adúltera", é uma narrativa psicológica na qual o adultério não se concretiza da maneira como é sugerido no título. Um casal de franceses, Marcel e Janine, viaja por uma região inóspita no interior da Argélia com a finalidade de vender tecidos diretamente aos mercadores árabes. Ela acompanhara o marido porque "seria preciso energia demais para recusar", talvez um sinal de desgaste de uma longa relação em que "os anos haviam passado, na penumbra que se encarregavam de manter, com as persianas semicerradas". A crise existencial de Janine é despertada pela estranheza da imensidão sem limites da natureza, a beleza da força do deserto que faz com que ela sinta pela primeira vez o seu vazio interior e perceba que vive uma vida sem sentido ao lado do marido.

“Nenhum filho! Não era isso que lhe faltava? Ela não sabia. Acompanhava Marcel, eis tudo, contente em sentir que alguém precisava dela. Ele não lhe dava outra alegria a não ser a de se saber necessária. Certamente não a amava. O amor, mesmo cheio de ódio, não tem esse rosto descontente. Mas qual é o rosto do amor? Amavam-se no meio da noite, sem se verem, tateando. Existiria outro amor que não o das trevas, um amor que gritasse em plena luz do dia? Não sabia, mas sabia que Marcel precisava dela, e que ela precisava desse precisar, que vivia disso noite e dia, sobretudo à noite, todas as noites, quando ele não queria ficar só, nem envelhecer, nem morrer, com o ar teimoso que assumia, e que ela às vezes reconhecia no rosto de outros homens, a única semelhança entre esses loucos que se escondem sob os disfarces da razão, até que o delírio se apodere deles atirando-os desesperadamente na direção de um corpo de mulher onde enterram, sem desejo, o que a solidão e a noite lhes mostram de terrível.” - "A mulher adúltera" (Págs. 28 e 29)

Em "Os mudos" o autor relembra passagens de sua infância quando tinha um tio um pouco surdo que era tanoeiro (fabricante de tonéis e barris), profissão que Camus, proveniente de uma família pobre e órfão de pai, provavelmente teria seguido não fosse pelo apoio de um professor da escola primária. No conto, um pequeno grupo de operários volta ao trabalho depois de uma greve fracassada por melhores salários. A tanoaria de pequeno porte fica ao lado da casa do patrão chamado Lassalle. Os empregados, sem nenhuma combinação prévia, assumem a mesma postura de frieza em relação a Lassalle, permanecendo irritados e mudos diante das tentativas dele de aproximação. No entanto, a situação tende a mudar quando a filha do patrão fica gravemente doente e a mudez dos operários ganha a conotação de preocupação pela saúde da criança. A solidariedade daqueles homens pobres parece estar acima da greve e dos problemas sociais que a provocaram.

"O patrão não ia aumentar absolutamente nada, a greve fracassara. Não haviam manobrado bem, era preciso reconhecê-lo. Uma greve de raiva, à qual o sindicato tivera razão em aderir sem muita força. Aliás, uns quinze operários não era grande coisa; o sindicato levara em conta as outras tanoarias que não haviam aderido. Não se podia ficar aborrecido demais com eles. A tanoaria, ameaçada pela construção de navios e de caminhões-pipa, não ia bem. Faziam-se cada vez menos barris; consertavam-se sobretudo os grandes tonéis já existentes. Os patrões viam seus negócios comprometidos, é bem verdade, mas queriam assim mesmo preservar uma margem de lucro; ainda parecia-lhes mais simples congelar os salários, apesar da alta dos preços." - "Os mudos" (Pág. 59)

"A pedra que cresce" é um conto inspirado em uma viagem de Camus ao Brasil em 1949, quando foi até Iguape, uma cidade localizada no litoral sul do Estado de São Paulo, para conhecer a festa em louvor ao Senhor Bom Jesus de Iguape, acompanhado de Oswald de Andrade. O conto narra as experiências de um engenheiro francês chamado d'Arrast nesta mesma cidade onde deverá supervisionar a construção de uma represa. Ele se surpreende com as demonstrações de sincretismo religioso da população local. Na noite anterior à procissão católica, o francês participa de um culto de origem afro-brasileira em homenagem a São Jorge e acaba ajudando um morador local no dia seguinte a cumprir a sua promessa ao Senhor Bom Jesus de Iguape, carregando uma pedra de cinquenta quilos.

"Quando abriu os olhos, o ar continuava sufocante, mas o ruído cessara. Apenas os tambores ritmavam um batuque grave, ao som do qual, em todos os cantos do barraco, os grupos cobertos de tecidos esbranquiçados batiam os pés. Mas no centro do barraco já sem o copo e a vela, um grupo de moças negras, em estado semi-hipnótico, dançava lentamente, sempre a ponto de se deixar ultrapassar pelo compasso. De olhos fechados, mas muito eretas, elas se balançavam ligeiramente para frente e para trás, na ponta dos pés, quase no mesmo lugar. Duas delas, obesas, tinham o rosto coberto por uma cortina de ráfia. Rodeavam uma outra moça, fantasiada, alta, esguia, que d'Arrast reconheceu de repente como a filha de seu anfitrião." - "A pedra que cresce" (Pág. 162)

Albert Camus se considerava mais um escritor do que um filósofo e nunca seguiu qualquer ideologia, criticando, por exemplo, o marxismo, apesar de sua origem pobre e a preocupação constante com as desigualdades sociais. Nesta antologia, todos os contos estão relacionados de alguma forma à inadaptação do homem com o papel que se espera dele na sociedade, seja no campo político, social ou religioso. Encontramos diversas formas de representar o isolamento a que muitas vezes se submete o indivíduo na busca de sua realização plena, que costumamos chamar de felicidade. No simbolismo de Camus, o eterno contraste entre o exílio e o reino.
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