Brendo4 12/11/2023
Supere o começo do livro e leia o melhor Sci-Fi de 2023
Essa resenha não vai focar em aspectos do livro, mas sim numa recomendação geral para quem pensa em começar a lê-lo ou esteja começando.
É importante primeiro destacar aquilo que pode desagradar você ao ler este livro, eventualmente até fazendo com que abandone a leitura e perca o livro de ficção científica mais criativo de 2023:
A trama acompanha os membros do Império Radch, uma força intergaláctica que existe a base de expansão e anexação de mundos ao seu redor. Nesse império, seu idioma não faz distinção de gênero referindo-se a todas no que seria a forma feminina (quando traduzido para outros idiomas). Como nós, leitores, não estamos lendo o livro em radch, a autora brinca com a tradução para o inglês (no nosso caso, o português) de modo que todos os pronomes são femininos.
É bem óbvio o quê a autora quis indicar, marcando algumas vezes, na perspectiva da protagonista-narradora, que a preocupação com o gênero dos interlocutores era uma preocupação desnecessária que, ainda bem, o Radch tinha superado. Isso faz referência a uma discussão que hoje nos EUA está bem mais adiantada, acerca de pronomes e linguagem de gênero neutro.
Assim, quando a protagonista fala no que seria o idioma radch, toda as referências são em feminino. Para nós, leitores em português, isso pode soar como um obstáculo para a imersão no livro (para mim foi), afinal, ler um livro é observar uma sucessão de palavras que vão formando imagens em nossa mente. Referir-se a personagens no feminino para depois, em outro momento, descobrirmos que era masculino, pode causar estranheza e de algum modo atrapalhar nossa imersão no universo do livro.
O segundo problema é a narradora. Isso talvez seja o maior salto de criatividade do livro, uma vez que a protagonista nada mais é que uma Inteligência Artificial que, antes, administrava uma Nave (estruturas que desempenham um papel muito importante na dinâmica do Império Radch, onde a história se passa).
Então, por estar em vários lugares, ter vários corpos, olhos e bocas, acompanhar a narração por esse ponto de vista (no começo do livro, apenas) pode ser confuso e nos fazer voltar algumas vezes para entender que o quê estava acontecendo eram duas cenas diferentes.
Em terceiro, tem-se que, pelo menos, no primeiro terço do livro a autora não está nada interessada em explicar nada, então só vai despejando uma enorme quantidade de nomes e informações que você pode ficar ?o que éééééé, senhoraaa????
Mas superado isso, do meio para o fim do livro, quando compreende a dinâmica geral e o que está acontecendo exatamente, você se pega diante de um livro genial, inovador, sem medo de experimentar e lidar com conceitos de ficção científica ainda pouco abordados.
As últimas páginas do livro indicam que é o começo de uma saga, embora o livro possa funcionar como uma história só (pelo menos para mim).
Recomendo demais, ressaltando que talvez seja necessário certa força de vontade para passar dos primeiros capítulos.