Weiiirdo 22/08/2022
Algumas coisas só são boas porque são velhas
A Odisseia trata de expectativa, através da volta de um homem para casa, das providências de um jovem contra interesseiros que o roubam e da resistência de uma esposa a novos pretendentes, que usufruem da ausência de seu marido. Mas por que não uso o termo "esperança" em vez de expectativa? Porque, sendo aquela a Grécia Antiga, a esperança não era para todos, apenas para uns seletos numa hierarquia à qual nenhum trágico grego da época aparentemente se opôs, o que torna uma chatice cansativa a idolatria a esse sistema social no meio das obras de ficção antigas. Voltando ao ponto, porém, por causa desse favoritismo social, aqui metaforizado por amizades de deuses, a mensagem é um incentivo muito particular: Ulisses é incrível, porque é um homem forte, rico, bonito e aristocrata. Seja como ele, se a sorte estiver ao seu lado...
A propósito, dado o que a Antiguidade valorizava, tudo em Odisseia parece exagerado: não basta mostrar a riqueza, descreve-se a ostentação; não basta que um homem tenha capacidades, precisa ser um semideus; não basta dizer algo uma vez, tem de se repetir as mesmas palavras de forma exaustiva, para a infelicidade do leitor, que tem de aguentar tudo calado porque coisas velhas são excelentes, dizem; burro é você!
Tais elementos, somados à autopiedade, arrogância e crueldade de Ulisses, constantemente contestados por um narrador intrometido que quer forçar o ouvinte a adorá-lo e por um senso de dever anti-anacrônico do leitor, fizeram com que a obra assumisse aos meus olhos um aspecto de fantasia, escapismo, e como não estou nas condições de sonhar desse jeito, não me agradou por inteiro, embora tenha alguns momentos de beleza de forma e conteúdo.