Laura Brand 16/04/2018
Nostalgia Cinza
Ultimamente tenho me interessado cada vez mais por livros com premissas de ajudar a encontrar algum tipo de propósito, mas que fogem das convencionais narrativas de autoajuda. Ikigai me chamou a atenção logo de cara, tanto pela capa maravilhosa quanto pela abordagem de hábitos orientais. Assim que comecei a ler entendi porque é um livro que merece um lugar na minha estante.
Ikigai é uma mistura bem interessante de reportagem, artigo, autoajuda e reflexão. Os autores mesclam um pouco de cada um desses elementos para produzir um conteúdo muito dinâmico, interessante e informativo. Ikigai traz um apanhado de curiosidades sobre o Japão, é um livro bem interessante para aprender mais sobre a cultura nipônica nos aspectos que mais nos são úteis. O livro traz uma gama de dicas que vão desde pequenos detalhes que podem virar hábitos como a maneira de levantar da cama e os pensamentos envolvidos no processo até a forma como vemos a vida e o propósito de vivê-la.
Já no começo do livro os autores nos apresentam conceitos diferentes sobre ikigai: razão de ser, a felicidade de estar sempre ocupado, um sentido maior para viver, propósito, dentre outros. Apesar de não fornecer elementos suficientes que nos ajudem a encontrar o nosso próprio ikigai, como parecia ser a proposta, é um livro muito interessante e repleto de lições que podem ser aplicadas aos poucos e novas maneiras de pensar sobre questões aparentemente banais.
Os autores também fazem entrevistas com alguns dos supercentenarios. Supercentenarios são aqueles que passam dos 110 anos. Nos curtos relatos essas pessoas contam um pouquinho do seu segredo da longevidade e compartilham reflexões e experiências. É interessante ler um pouco sobre a longevidade vindo justamente das pessoas que vivem tanto e tão bem. Enquanto alguns brincam sem saber como vivem tanto, outros fornecem pequenos conselhos que podem ajudar a tornar nossa vida mais saudável.
O livro segue o estilo que venho percebendo nos livros da Intrínseca que tem como foco a realização pessoal, autoestima e saúde mental. Ele não é todo escrito em texto corrido, pelo contrário, é cheio de quebras na narrativa. Isso é feito por meio de gráficos, tabelas, ilustrações, depoimentos, dados em forma de lista etc. São recursos que, além de acrescentar muita informação e tornar o livro ainda mais rico em detalhes, torna a leitura divertida e nem um pouco cansativa.
Estou gostando muito dos livros que a Intrínseca tem publicado com um viés de auto ajuda, mas que são diferentes dos livros do gênero que vemos por aí. São livros que têm como objetivo fornecer um conteúdo reflexivo e de auto ajuda mas que optam por ferramentas diferenciadas para isso. Seja pela linguagem, pela estrutura narrativa, pela escolha do foco ou do recorte, como é o caso de Ikigai, que opta por analisar a comunidade com o maior número de centenários do mundo e, com base nisso, mostrar hábitos e modos de ver e viver a vida que podem nos dar respostas para o segredo da felicidade. O livro não explora de forma extremamente profunda os assuntos abordados, mas essa não é sua proposta. E sua proposta de apresentar cenários, hábitos e segredos orientais é cumprida perfeitamente.
Além da parte teórica, Ikigai traz dicas práticas e instruções de exercícios que podem ser feitos diariamente e em poucos minutos para aumentar o bem-estar e a qualidade de vida. Ilustrações ajudam a entender como executar o Rádio Taissô, uma série de exercícios muito comuns no Japão para começar bem o dia e movimentar o corpo com consciência. Os autores também falam sobre a saudação ao sol, do yoga, com imagens ilustrativas bem explicativas, sobre o Tai Chi Chuan e seu poder como atividade física consciente, apresentam o Qigong, uma arte oriental que tem como objetivo trabalhar com a força vital do organismo. São tópicos curtos, mas extremamente úteis, principalmente para quem ainda não tem contato com essas práticas e busca algumas coisas novas para acrescentar à rotina.
É curioso observar as diferenças culturais do Japão e como isso é fundamental para definir o que eles têm de tão "mágico" no caminho da felicidade. A palavra "aposentadoria", por exemplo, não existe no vocabulário dos japoneses no sentido de se retirar para sempre. De acordo com um jornalista da National Geographic, "ter um propósito é tão importante nessa cultura que eles não têm noção conceito de aposentadoria". E encontrar um propósito não é o objetivo de todos nós?
Sempre vi os povos orientais como povos mais evoluídos espiritualmente e mentalmente e é interessante ter um livro que apresente essa perspectiva de forma tão didática e fácil de tentar colocar em prática. Ele faz provocações que nos ajudam a tentar inserir esse contexto na nossa rotina e no nosso próprio estilo de vida.
Ikigai não promete ser um livro que traz a solução de todos problemas que nos afligem diariamente e não ajuda, de fato, a encontrar nosso próprio ikigai, mas traz dicas e reflexões que podem, ao serem incrementadas na rotina, ajudar a tornar o dia a dia mais leve, promover o bem-estar, aumentar a qualidade de vida e apontar um caminho de plenitude. Quem sabe, ao transformarmos essas dicas em hábitos, possamos encontrar nosso ikigai?
site: http://nostalgiacinza.blogspot.com.br/2018/04/resenha-ikigai.html