Lais Porto (@umaleitoranegra) 11/07/2020
O movimento negro educador
Nilma Lino Gomes é uma figura muito conhecida, reconhecida e importante para o movimento negro e de mulheres negras, ter lido a sua obra foi de uma beleza enorme, muito aprendizado e conhecimento sobre a minha própria história, sobre os que vierem antes de mim, sobre o caminho percorrido e que agora está sendo construído pela minha geração.
Nilma mostra a trajetória das lutas e conquistas do movimento negro no que se refere a educação, mais em especifico a educação formalizada em escola, ela foca desde o início do século XX. Também frisa os períodos dos governos, os avanços que aconteceu no governo do Lula, Dilma, até que ocorre o golpe e Michel Temer assume, a partir daí foi só ladeira a baixo...
Acredito inclusive que o livro vai precisar de uma nova edição, pois no desgoverno de Bolsonaro está acontecendo as retiradas das cotas como política afirmativa, voltando ao passado onde a universidade era permitida apenas para a elite que desfruta de uma educação de escola particular.
No livro conta a enorme batalha que foi para conseguirmos ter as cotas raciais, como teve muitas pessoas que se dizia antirracista, mas preferiu votar contra as cotas raciais com o discurso falso de que as cotas fortalecem o racismo, só demonstrando como pessoas brancas morre de medo de perder seus privilégios e mostrando como nós negros precisamos ter muito cuidado ao ter a branquitude como aliada.
Felizmente as cotas foram aceitas e isso possibilitou o acesso de pessoas negras, quilombolas, de baixa renda na universidade, desde então a luta é fazer com que essas pessoas consigam permanecer e concluir sua graduação.
Outra batalha nesse mesmo contexto foi para poder mostrar que com o acesso desse público na universidade não iria prejudicar a qualidade do ensino e da aprendizagem, estudos foram feitos e demonstraram que os cotistas tinham até notas melhores do que os que passaram por ampla concorrência, isso só pontua como os negros sempre estão correndo duas vezes mais do que as pessoas privilegiadas.
Um dos pontos que Nilma trouxe no livro e que fiquei maravilhada foi como ela falou sobre a corporeidade, não somente do corpo físico, mas sobre como nos posicionamos nessa sociedade racista, sexista, lgbtfobica, como o movimento negro educa além do que a escola consegue proporcionar, o movimento negro educa corpos negros para vida, para sobreviver, resistir e viver.
Por fim, Nilma faz um alerta sobre a importância do diálogo entre os vários movimentos, são eles: Movimento negro, Movimento sindical, movimento feminista, movimento lgbt, movimento indígena, movimento de mulheres negras, movimento dos trabalhadores sem terra, todos esses movimentos com suas lutas precisam se conectar, pois como Nilma mostra o inimigo é o mesmo para todos, o racismo, o patriarcado, o capitalismo global que destrói as nossas vidas.
Esse foi o livro que mais grifei, fiz marcações, eram muitas informações importantes. Super recomendo que vocês leiam e tenham esse livro como livro de cabeceira, e que também acompanhe a trajetória da escritora Nilma Lino Gomes.
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