Cintia 01/05/2021Somos todos migrantes através do tempo...Nunca tinha ouvido falar de Passagem para o Ocidente, até esse livro ser sugerido para uma leitura de um clube do livro que organizo. Quando li a sinopse, não fiquei muito empolgada, mas topei o desafio. Demorei semanas para criar coragem e começar a ler, fui empurrando com a barriga até enquanto deu. E então, pra minha surpresa, quando comecei a ler, eu não consegui mais parar! Quando terminei, meu pensamento foi: 'como é que esse livro não é mais conhecido?!'
A lista de coisas que eu curti nesse livro é enorme, mas vou listar as principais:
- o livro trata de um tema super importante (refugiados) de uma maneira extremamente sutil e delicada
- ele tem representatividade de uma forma tão natural, sem precisar problematizar muito
- é muito difícil não se identificar com os personagens em algum momento
- o livro é curto, mas é extremamente redondinho
- a história te faz viajar para vários lugares do mundo em algumas páginas
- da maneira como ele é escrito, o livro é atemporal
- eu adorei como ele intercala o plot principal com histórias paralelas ao redor do mundo
- esse livro é um daqueles que te fazem refletir e te tornam uma pessoa melhor, sem precisar de muito esforço
Tiveram poucas coisas que não curti tanto, mas não chegou a me incomodar a ponto de eu tirar uma estrela. Por exemplo, eu não estava esperando que o livro teria elementos fantásticos, e eu gostaria muito que tivesse uma explicação para as portas mágicas, porque isso ficou meio aleatório no livro.
Conclusão é que eu AMEI esse livro! Os pontos positivos foram bem maiores do que os negativos, então 5 estrelas favoritadíssimo.
Minhas citações favoritas:
'(...)quando migramos matamos em nossa vida aqueles que deixamos para trás.'
'A fúria daqueles nativistas que defendiam a matança indiscriminada era o que mais abalava Nadia, e a abalava porque soava tão familiar, tão parecida com a fúria dos militantes de sua própria cidade. Perguntava-se se ela e Saeed tinham de fato feito alguma coisa ao trocar de cidade, já que os rostos e edifícios tinham mudado, mas não a realidade básica de suas aflições.'
'Toda vez que um casal se muda, cada um dos dois, caso ainda tenha sua atenção voltada para o outro, começa a ver o outro de maneira diferente, pois as personalidades não são de uma cor única e imutável, como branco ou azul, mas antes telas iluminadas, e os matizes que refletimos dependem muito do que está à nossa volta. Assim foi com Saeed e Nadia, que se viram modificados aos olhos um do outro naquele novo lugar.'
'Ao rezar ele tocava seus pais, que não podiam ser tocados de outra maneira, e tocava um sentimento de que somos todos filhos que perdem os pais, todos nós, todo homem e mulher e menino e menina, e todos também faltaremos um dia àqueles que vêm depois de nós e que nos amam, e essa perda unifica a humanidade, unifica todos os seres humanos, a natureza temporária de nossa existência, nossa dor compartilhada, a angústia que cada um de nós carrega e no entanto muitas vezes se recusa a reconhecer no outro, e com isso Saeed sentia que talvez fosse possível, em face da morte, acreditar no potencial da humanidade para construir um mundo melhor, e portanto ele rezava como um lamento, uma consolação e uma esperança(...)'
'(...)quando ela saía de casa tinha a impressão de também ter migrado, de que todo mundo migra, mesmo que permaneça na mesma casa a vida toda, porque não há como evitar. Somos todos migrantes através do tempo.'