Geórgea 13/10/2018Nós dois na madrugadaLouise é uma jovem comum que mora na cidade de Aalborg, na Dinamarca, com os pais. Ela é mais retraída que a maioria e tem uma imagem muito negativa de si mesma. Tudo isso muda quando ela conhece Liam. Mais velho, mais experiente e demonstrando grande interesse por ela. Não demora para que ela se sinta completamente envolvida e apaixonada por ele. É então que ela começa a mudar, vira uma pessoa mais alegre e até os pais concordam que esse namoro foi bom para ela.
“Liam era generoso. Quase demais. De vez em quando eu dizia isso, mas para ele era uma espécie de princípio. Se alguém tinha a oportunidade, devia mimar as pessoas com quem se importava.”
Em pouco tempo os dois já estão morando juntos, mas a falta de dinheiro leva Liam a se envolver com pessoas perigosas. Johannes surge como um salvador, mas cobra muito alto por sua ajuda. É com ele que Liam passa a traficar drogas e se envolver nos mais arriscados negócios. Louise não concorda com essas atitudes, mas o amor que sente por ele supera tudo isso.
Com o tempo as coisas fogem do controle e acompanhamos esse amor tornar-se uma doença e a vida dos dois decai drasticamente. Eles parecem estar em um caminho sem volta. O que levou uma jovem de dezessete anos a abandonar uma vida confortável para se envolver com alguém tão nocivo? Seria tudo isso por causa do amor?
Minha Opinião
Aqui temos uma história que já começa pelo final. Geralmente acho essa jogada incrível e amo desvendar os mistérios que levaram até aquele momento. É estranho já sabermos o que aconteceu, justamente por ser algo muito revelador. No começo pensei que a história perderia um pouco do brilho, mas esse é um dos únicos pontos que eu não achei negativo aqui. O livro é curto, temos pouco mais de 200 páginas aqui. Quando comecei, fiquei intrigada com essa peculiaridade, mas rapidamente vi que o livro seguia por outro caminho.
A história alterna entre passado e presente e vai nos apresentando o desabafo de uma adolescente. Com todas as suas incertezas, tristezas e sentimentos. Sempre tenho dificuldades ao lidar com histórias que envolvem pessoas tão jovens. Acho que depois que envelhecemos passamos a ver esses dramas da adolescência com outros olhos, sofri para sentir empatia por Louise. Suas atitudes inconsequentes, seu descaso com os pais e a maneira como ela jogou tudo pro alto por Liam, me deixaram incomodada. Mas então, parei e tentei recordar de quando eu estava nessa idade. E de fato, quando jovens, tudo é muito mais intenso, qualquer coisa parece o fim do mundo e colocamos muito sentimento em tudo que fazemos e vivemos. Era assim que eu tentava amenizar toda a minha intolerância com ela.
“Todas as manhãs, eu esperava na cama que iniciassem. E todas as manhãs eu os odiava, porque me faziam lembrar da solidão e da sensação de desânimo total que eu experimentava. Eu me sentia realmente a pessoa mais solitária do mundo. E talvez eu fosse.”
A narrativa possui uma linguagem simples, bem como uma conversa informal entre jovens. Sem palavras rebuscadas, apenas com muito sentimentalismo. Do tipo que deixamos aflorar quando somos mais inexperientes. Louise é isolada e quieta, enquanto Liam é expansivo e falante, dois opostos que acabaram se esbarrando e gerando uma explosão. Na verdade, todos os personagens pareceram rasos e superficiais para mim. Não consegui gostar de nenhum. Os pais são extremamente relapsos e se anulam pela filha, o pai de Liam é aquele típico pai que só sabe falar gritando e não possui um pingo de bom senso, enquanto Liam, este consegue ser o pior de todos. Clássico homem tóxico, daqueles que entram na vida de uma mulher apenas para monopolizar sua atenção e sentimentos. Que afastam da família, dos amigos, que não deixam ela estudar, pregando que ninguém presta e que ele é o único que realmente a ama. Foi difícil aguentar esse livro, viu?
Mas acredito que o pior foi ver Louise se afundando aos poucos. Eu queria gritar pra ela sair dali, pra ela fugir enquanto ainda tinha tempo, para pedir auxílio para os pais, para tomar cuidado… Mas é claro que só pensamos nisso depois que algo realmente ruim já aconteceu, né? Me senti impotente vendo ela jogar tudo fora, por causa de um cara. E quantas meninas existem assim por aí? Apenas esperando que alguém as ajude a levantar e sair dessa enrascada? Esse é um livro intenso. Tinha tudo para tratar de um tema importante, mas preferiu focar nas tragédias e em erros. Vi muito potencial nessa história, só faltou ser melhor explorada.
“Já se sentia envergonhado porque eu queria usar para viajar com ele, porque ele era o chefe de família. O homem era ele. Ele deveria me manter, não o contrário. O contrário era uma coisa de fracassados.”
Se esse livro parasse nas minhas mãos quando eu era jovem, provavelmente concordaria com Louise. Pensaria que já me senti excluída, insegura e incompreendida como ela. Que realmente Liam é o príncipe no cavalo branco, mesmo com todas as explosões, o ciúme e a forma violenta com que fala. Mas, agora, só conseguia me colocar no lugar dos seus pais. Sentindo seu desespero, preocupação e impotência. Ainda bem que a gente cresce. E deixa de ver o mundo como se nosso umbigo fosse o centro dele. Passamos a entender nossos pais, dar valor ao que eles fazem e compreendemos que aquele amor que parecia perfeito, na verdade era um relacionamento abusivo fantasiado de conto de fadas.
Essa é uma trama que mistura elementos. Os perigos de entrar no mundo das drogas, o quanto é difícil sair de um relacionamento que só nos faz mal, o quanto os pais precisam estar mais atentos aos seus filhos e em como esses jovens precisam de alguém para ajudá-los, pois os perigos estão aí e a tendência é que eles tomem decisões erradas. Tudo que ela passa, tudo que ela suporta. É surreal pensar que ela precisou lidar com tudo isso sozinha. Não posso dizer que esse é um livro que recomendo, algumas passagens são de embrulhar o estômago, mas vale a leitura para aqueles que gostam de conhecer um pouco sobre esse lado tão sombrio.
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