spoiler visualizarErick 11/05/2018
“Você nunca consegue ter informações suficientes, e nunca consegue fazer perguntas suficientes”. - Máxima de Stanley Kubrick
“2001: Uma Odisseia No Espaço - Stanley Kubrick, Arthur C. Clarke, E A Criação De Uma Obra-prima”, livro de 496 páginas, escrito por Michael Benson e lançado pela Todavia em 2018 relata as origens, criação e resultado da obra “2001: Uma Odisseia no Espaço”.
Começando lá em 64 com o sucesso do filme “Dr. Fantástico”, Kubrick (já famoso) chega em Clarke após ter tido vontade de fazer um filme de ficção científica que “não fosse uma merda” (os filmes até então eram aliens verdes, discos voadores e etc).
Clarke, que já atuava no cinema de Siri Lanka como produtor ajudando seu amigo Mike Wilson, veio a responder a ideia de Stanley com interesse. Então, em algum ponto de 64, ambos começam a conversar sobre, o que na visão de Kubrick, seria “o primeiro filme de ficção científica que não fosse uma merda” onde, inicialmente, Kubrick queria adaptar o “teatro de rádio” Shadow pn the Sun.
O contrato foi arranjado, onde acabaram decidindo que Clarke não teria participação nos lucros do filme, somente do livro. Porém, demorou só mais um tempo para decidirem montarem o romance antes do roteiro, pois “era mais fácil montar um romance por deixar a imaginação fluir. Para montar um roteiro você deveria juntar a sua imaginação com a forma que as imagens seriam mostradas na tela”. Apesar do que é dito geralmente, “2001” tem sua origem em vários contos do Clarke, como: Encontro no Alvorecer, A Sentinela e mais alguns além de estudarem muitas obras literárias e cinematográficas anteriores. Também vemos quando Clarke apresentou Kubrick à Sagan – Stanley não gostou do Sagan, por ter “uma atitude paternal” e resistiu as opiniões do astrônomo até o final (apesar do Sagan ter falado que era melhor sugerir uma vida alienigena, Kubrick considerou colocar aliens até o fim da filmagem, onde fez uma experiência do tipo).
Foi tudo muitos altos e baixos, com a ideia sendo venda ao estúdio usando o livro do Clarke (que ainda estava longe da versão final), a ideia de um mônolito de pirâmide transparente que não ficou boa na imagem, William Sylvester tendo um colapso nervoso ao não conseguir fazer um discurso de vários minutos sem cortes, outro ator errando suas falas e Kubrick não se irritando ou punindo esses dois.
Também vemos como Kubrick e Gary se tornaram bons amigos. Keir Dullea tendo tanta admiração pelo diretor que dificultou seu tempo inicial de trabalho e Douglas Rain (Hall 9000) só entrou para a produção na pós. E, também vemos Kubrick envergonhado e duvidando de si mesmo, por causa de tantas mudanças no filme.
Uma das coisas mais impressionantes na obra é como a equipe dos efeitos especiais teve que inventar muitas novidades para tornar o que vemos no filme possível: com viagens arriscadas de helicóptero para filmar o “Star Gate” (como uma ‘base científica’, eles acharam uma pesquisa onde mostra que estudantes de religião sobre o efeito de drogas experienciam “explosões de luzes”), experiências com as imagens e a odisseia, lá no final da produção, para que o mundo primitivo da “Aurora do Homem” se tornasse possível - a produção do traje (que uma crítica falou que era pior que a maquiagem do “Planeta dos Macacos” lançado em 68) e viagens pela Europa e África para conseguirem as imagens de fundo (com exceção de uma coisa ou outra, toda a sequência inicial foi feita dentro do estúdio).
Há também uma certa luta entre Kubrick e Clarke para o lançamento do livro (que ocorreu só após o filme) onde Clarke chegou a pensar em processar Kubrick pela demora em dar o sinal verde para publicação.
No fim, vemos como o filme foi detonado pela crítica inicial (a primeira versão de 3 hrs), como Clarke ficou inicialmente desapontado com o filme (e acreditou que as opiniões ruins na crítica viriam a afetar seu livro) o que levou a Kubrick remover várias cenas do filme. A versão “2” foi amada pela crítica (principalmente pelos jovens da “contracultura”) e já foi logo chamado de “o melhor já feito”. No fim da obra nós vemos o legado da obra para o cinema e o que aconteceu com Kubrick/Clarke depois.
Para acabar minha resenha, vou transcrever um trecho que explica a ‘lentidão do filme’:
“Foi nesse estágio que a equipe de efeitos de 2001 percebeu que, na taxa padrão de 24 quadros por segundo – da qual eles não poderiam escapar, porque todos os projetores funcionavam nessa velocidade -, os movimentos rápidos da câmera seriam um problema. A questão era que, em projetores analógicos, cada quadro na verdade brilha duas vezes – produzindo 48 flashes de luz a cada 24 quadros de imagem. Por causa da persistência inerente à visão humana, objetos claros e brilhantes, como estrelas, parecem dobrar. Em taxas ainda mais rápidas, eles triplicam, num efeito estroboscópico ainda mais intenso. E assim, nos primeiros estágios da produção, atingimos o limite de velocidade que introduzimos”, lembrou Trumbull. “E isso virou lei no filme: nunca se mover a uma velocidade maior, para não acabar com estrelas em dobro.” Assim, o ritmo grandioso das sequências espaciais de 2001 foi regulado pela taxa subestroboscópica de seus campos estelares em movimento.
Quando questionado se aquilo significava que o ritmo de valsa de 2001 – sua elegante coreografia de máquinas girando em compasso ¾ – foi uma resposta ao limite de velocidade estelar autoimposto, e não a uma edição do andamento do filme para adequá-lo a músicas como O Danúbio Azul, Trumbull afirmou: “Exatamente. É essa a história. O ritmo de valsa seguiu a velocidade das estrelas”. Isso não significa que o andamento da composição de Strauss estivesse alterado, mas apenas que as escolhas musicais de Kubrick às vezes aconteciam em resposta a um ritmo visual que ele já havia determinado, e que não poderia ser mudado.”