Dom Casmurro

Dom Casmurro Machado de Assis




Resenhas - Dom Casmurro


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Anielson0 11/09/2023

Um mestre no subúrbio da História
A obra "Dom Casmurro", de Machado de Assis, se insere na literatura brasileira como um dos seus romances mais imponentes, tanto do ponto de vista da sua temática quanto da sua linguagem. A verve antipositivista e antideterminista, em desarranjo com o Naturalismo, na época em voga, possibilita uma interpretação-livro do Brasil, principalmente levando em conta a era de transformações históricas que prefigura seu contexto de produção.
Além disso, o autor consegue estabelecer, para além do descritivismo naturalista, uma crítica imanente e carregada de autoironia, a desvelar a natureza hipócrita, parasita, paranoide e megalomaníaca da elite nacional. Da hipocrisia, temos como bom exemplo o próprio narrador, Bentinho, que, em determinado trecho, começa a cobiçar a esposa de seu melhor amigo, Sancha. Ainda com Bento Santiago, os momentos, como o devaneio com o imperador ordenando a anulação da promessa à mãe, são a representação da megalomania patética e risível de nossa burguesia em transe. Aliás, em se tratando da mãe, a relação com Dona Glória dá muito pano à psicanálise, mas, também, podemos perceber nela, caso se leia o texto atentamente, a representação simbólica de uma aristocracia escravocrata, que o narrador tenta disfarçar sob a máscara de mera viúva carola, mas que, acima de tudo, é fiel à conservação. Sua intransigência representa aqueles que se negam a abandonar a ordem social vigente. Temos, ainda, a figura parasitária de José Dias que situa bem o caráter lúmpen de certos setores da classe média nacional.
Vai-se criando, no decorrer da narrativa, uma áurea de desconfiança, um sentimento de ambivalência em relação ao narrador. Isso, porque, em primeira instância, tendemos a simpatizar com sua adolescência aparentemente inocente (mesmo que já estejam lá, latentes, os tratamentos dados aos escravizados e os ataques de ciúmes do narrador-protagonista). Mas, quando o alcançamos em idade adulta, toda a essência racista, misógina e paranóica vêm à tona, e, daí em diante, não enxergamos qualquer horizonte de simpatia com nosso narrador.
Destarte, "Dom Casmurro" não é apenas uma velha história de amor e traição subvertida, mas, antes de tudo, é uma obra sobre certa situação social e a mentalidade mesquinha de nossa aristocracia moribunda. Mais do que a ontológica "traiu ou não traiu, eis a questão", este livro nos incomoda com outra: até que ponto a burguesia nacional pode ir para justificar suas ações?
Da História dos Subúrbios ao subúrbio da memória.
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eduardabuainain 19/10/2020

"Capitu e eu tínhamos jurado não esquecer mais aquele pregão; foi em momento de grande ternura, e o tabelião divino sabe as coisas que se juram em tais momentos, ele que as registra nos livros eternos."
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Brenda 17/08/2020

Apenas leia!
Finalmente li esse clássico que venho tentando ler desde a adolescência, e não consigo entender porque nunca tinha terminado, mas finalmente consegui e amei muito. A leitura é muito fluída, daquelas que não conseguimos parar, Machado consegue fazer um ?reconto? de Otelo de forma magistral, além de todas as alegorias e críticas sociais que permeiam toda a história.
E a questão mais famosa da literatura brasileira: Capitu traiu ou não Bentinho? Acredito que não, assim como acredito que essa não é a principal questão do livro, como somos levados a pensar.
O autor nos apresenta diversos indícios que confirmam e outros tantos que refutam a veracidade da traição, mas como temos um narrador em primeira pessoa , advogado , extremamente ciumento, invejoso, egocêntrico e manipulador, é muito provável que tudo não passe de uma loucura do Bentinho.
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Vanessa Ferreira 10/05/2020

Um livro para releituras
Fazer qualquer consideração sobre Dom Casmurro é algo muito difícil para mim porque eu sinto que estou sendo desleal a Machado de Assis.
Isso porque esse livro é tão fundamental na minha formação como leitora - e quanto pessoa - que escolher apenas algumas partes, algumas sensações e alguns adjetivos me parece a mais vil das traições! Eu queria falar tudo o que eu senti em cada página, todas as vezes que eu li esse livro (já li 3 vezes). Mas isso me demandaria a vida inteira falando sem parar, então vou me ater à minha última leitura e às impressões mais fortes que tive.
Primeiro vou ressaltar que ter lido Dom Casmurro pela primeira vez mudou a minha vida, mesmo eu sendo muito nova (talvez por isso mesmo). Mas reler agora foi uma experiência ainda mais gostosa. Pude mergulhar nas metáforas e nas imagens que Machado de Assis criou, reparar na construção dos personagens e, por já saber o desfecho do livro, prestar bastante atenção nas passagens que poderiam desvendar o famigerado mistério: traiu ou não traiu?
O mais incrível nessa nova experiência de leitura é que em cada capítulo eu sentia uma sensação de familiaridade com a história, lembrava que já tinha lido aquelas palavras e sabia o que me esperava na próxima linha. Mas mesmo assim eu não perdia um friozinho na barriga, como se fosse possível que um milagre acontecesse e o final do livro mudasse. Tal é a capacidade de Machado de Assis pegar em nossas mãos e nos conduzir pelas memórias de seus personagens, como se nós que estivéssemos nascido e crescido na casa da rua de Mata-Cavalos. Por isso eu acho uma delícia quando ele nos refere a ?leitor das minhas entranhas? ou quando ele pede que o ?leitor amigo? preencha as lacunas que ele deixar no livro. A recorrência do tratamento afetuoso que o narrador Bentinho tem com seus leitores faz com que criemos uma profunda simpatia por ele, então é inevitável que cheguemos ao meio do livro amando aquele adolescente terno e sensível, torcendo para que a profecia de felicidade se realize em sua vida. Talvez por isso tanta gente tome partido da sua versão da história e jure de pés juntos que Capitu traiu, sim, Bentinho (coitado!).
Terminei o livro ontem e quase não consegui dormir de tanta empolgação, a história realmente dá margem para muitas interpretações. Capitu - vou morrer gritando isso - é uma personagem FANTÁSTICA. Eu acho que o fato de só termos acesso a ela a partir do ponto de vista de Bentinho faz com que ela seja ainda mais interessante e juro que antes eu achava irrelevante a traição, mas agora estou tendendo a defendê-la. Ai, senhor, que dilema!
Mas essa recapitulação precisa acabar e eu só queria dizer que um dos motivos desse livro ser tão aclamado é, sim, o enigma da traição e as inúmeras possibilidades de análise da história. Mas o livro oferece muito mais do que isso. As memórias e divagações de Bentinho nos fornece imagens e sensações impressionantes, nos faz refletir sobre nós mesmos, sobre as relações humanas, a vida, o amor, e o melhor de tudo: nos diverte horrores!
Por isso (e por muito, muito mais), como primeiro post literário, fica a minha dica de leitura e releitura!
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José Amorim 14/04/2020

Genial
Genial. Havia lido na época da escola e não tinha entendido nada. Resolvi dar uma segunda chance e fiquei boquiaberto. Machado entende a complexidade das relações, dos sentimentos...
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