charlesnascimento 08/10/2024
Considerado a obra-prima da literatura sobre a seca, Graciliano buscou uma linguagem que pudesse concretizar a realidade da seca.
Em carta a João Condé, em 1944 ele disse:
"Fiz o livrinho sem paisagens, sem diálogos. E sem amor. Nisso, pelo menos, ele deve ter alguma originalidade. Ausência de tabaréus bem-falantes, queimadas, cheias, poentes vermelhos, namoro de caboclos. A minha gente, quase muda, vive numa casa velha de fazenda; as pessoas adultas, preocupadas com o estômago, não tem tempo de abraçar-se. Até a cachorra é uma criatura decente, porque na vizinhança não existem galãs caninos."
Diferentes de outros romances sobre retirantes e seca, nesse livro não é só a questão climática que importava para Graciliano, mas a questão social. O livro quase não tem diálogos, tendo em vista que Fabiano não sabia conversar, tinha um vocabulário quase nulo e por vezes sofria nas mãos dos 'letrados' como o soldado amarelo, o fiscal da prefeitura e o patrão da fazenda.
Mas engana-se quem pensa que a ideia do livro veio desse desejo de falar sobre a seca, sobre a vida de retirantes e de justiça social, em carta escrita para a esposa Heloísa, em 1937, ele fala sobre a história que serviu de embrião para o livro.
"Escrevi um conto sobre a morte de uma cachorra, um troço difícil, como você vê: procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra [...] O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos [...] no fundo todos somos como a minha Baleia e esperamos preás."
Com uma linguagem simples, capítulos que foram vendidos separados como contos e só depois concatenados em um romance, Graciliano Ramos fez história com seu Vidas Secas, um livro bom, na minha opinião, mas sem aquele gosto de quero mais.
para esta resenha utilizei material do livro 'Para amar Graciliano' da Faro Editorial, escrito pelo professor de literatura da USP, Ivan Marques