Alane.Sthefany 21/04/2022
Édipo Rei - Sófocles
Nem sabia que iria gostar tanto.
Muito boa a peça, bem dramática e trágica, esse final fatídico. ??
Trechos Preferidos ?????
Quero prestar-vos todo o meu socorro, pois eu seria insensível à dor, se não me condoesse de vossa angústia.
(...) aqui há gente de toda a condição: crianças que mal podem caminhar, jovens na força da vida, e velhos curvados pela idade, como eu, sacerdote de Júpiter.(...)
Tu bem vês que Tebas se debate numa crise de calamidades, e que nem sequer pode erguer a cabeça do abismo de sangue em que se submergiu; ela perece nos germens fecundos da terra, nos rebanhos que definham nos pastos, nos insucessos das mulheres cujos filhos não sobrevivem ao parto.
(...) que teu reinado não nos faça pensar que só fomos salvos por ti, para recair no infortúnio, novamente! Salva de novo a cidade; restitui-nos a tranquilidade, ó Édipo!
Não desconheço vossos sofrimentos; mas na verdade, de todos nós, quem mais se aflige sou eu. Cada um de vós tem a sua queixa; mas eu padeço as dores de toda a cidade, e as minhas próprias.
Uma resposta favorável, pois acredito que mesmo as coisas desagradáveis, se delas nos resulta algum bem, tomam-se uma felicidade.
(...) o seu sofrimento me causa maior desgosto do que se fosse meu, somente.
[...]
CREONTE - O rei Apoio ordena, expressamente, que purifiquemos esta terra da mancha que ela mantém; que não a deixemos agravar-se até tornar-se incurável
ÉDIPO - Mas, por que meios devemos realizar essa purificação? De que mancha se trata?
CREONTE - Urge expulsar o culpado, ou punir, com a morte, o assassino, pois o sangue maculou a cidades.
(...)
ÉDIPO - E, ao criminoso desconhecido, eu quero que seja para sempre maldito! Quer haja cometido o crime só, quer tenha tido cúmplices, que seja rigorosamente punido, arrastando, na desgraça, uma vida miserável... E se algum dia eu o recebi voluntariamente no meu lar, que sobre mim recaia essa maldição e os males que ela trará! Eu vos conjuro, cidadãos!
Atendei a tudo o que vos digo, por mim, pelo deus Apolo, e por este país que perece na esterilidade e na cólera divina! Ainda que essa purificação não nos fosse prescrita pelo deus, não seria possível deixar que a cidade continuasse poluída, visto que o morto era um homem bom, e era o rei! Ao contrário, deveríamos realizar todas as pesquisas possíveis! Para tanto esforçar-me-ei agora, eu, que herdei o poder que Laio exercia, eu que tive o seu lar, que recebi sua esposa como minha esposa, e que teria perfilhado seus filhos, se ele os tivesse deixado!
[...]
Tudo o que se procura, será descoberto.
(...) porque o que a noite não mata, o dia imediato com certeza destrói.
[...]
CORIFEU - Por muito pouco sensível que o assassino seja ao temor, quando souber da maldição terrível que proferiste, não resistirá!
ÉDIPO - Quem não receou cometer um crime tal, não se deixará impressionar por simples palavras.
[...]
Visto que as coisas futuras fatalmente virão, tu bem podes predizê-Ias!
(...) tu somente és teu próprio inimigo.
Digo-te, pois, já que ofendeste minha cegueira, - que tu tens os olhos abertos à luz, mas não enxergas teus males, ignorando quem és, o lugar onde estás, e quem é aquela com quem vives.
Essa grandeza é que causa tua infelicidade!
Ele vê, mas tomar-se-á cego; é rico, e acabará mendigando; seus passos o levarão à terra do exílio, onde tateará o solo com seu bordão.
Ver-se-á, também, que ele é, ao mesmo tempo, irmão e pai de seus filhos, e filho e esposo da mulher que lhe deu a vida; e que profanou o leito de seu pai, a quem matara.
(...) só pela inteligência pode um homem sobrepujar a outro.
Tu és hábil em manobrar a palavra; mas eu não me sinto disposto a ouvir-te, sabendo que tenho em ti um inimigo perigoso.
Não sei; e, quando desconheço uma coisa, prefiro calar-me!
Não é lícito julgar levianamente como perversos, os homens íntegros, assim como não é justo considerar íntegros os homens desonestos.
O tempo fará com que reconheças tudo isso com segurança, pois só ele nos pode revelar quando os homens são bons, ao passo que um só dia basta para evidenciar a maldade dos maus.
Não exciteis, com palavras vãs, uma discórdia funesta.
O destino do rei seria o de morrer vítima do filho que nascesse de nosso casamento (...)
Quanto ao filho que tivemos, muitos anos antes, Laio amarrou-lhe as articulações dos pés, e ordenou que mãos estranhas o precipitassem numa montanha inacessível. Nessa ocasião, Apoio deixou de realizar o que predisse!... Nem o filho de Laio matou o pai, nem Laio veio a morrer vítima de um filho, morte horrenda, cuja perspectiva tanto o apavorava!
Ai de mim! Receio que tenha proferido uma tremenda maldição contra mim mesmo, sem o saber!
(...) fui ao templo de Delfos; mas, às perguntas que propus, Apoio nada respondeu, limitando-se a anunciar-me uma série de desgraças, horríveis e dolorosas; que eu estava fadado a unir-me em casamento com minha própria mãe, que apresentaria aos homens uma prole malsinada, e que seria o assassino de meu pai, daquele a quem devia a vida.
Se aquele velho tinha qualquer relação com Laio, quem poderá ser mais desgraçado no mundo do que eu? Que homem será mais odiado pelos deuses? Nenhum cidadão, nenhum forasteiro o poderá receber em sua casa, nem dirigir-lhe a palavra... Todos terão que me repelir... E o que é mais horrível é que eu mesmo proferi essa maldição contra mim! A esposa do morto, eu a maculo tocando-a com minhas mãos, porque foram minhas mãos que o mataram...
(...) estou fadado a unir-me à minha mãe, e a matar meu pai, a Políbio, o homem que me deu a vida e me criou?
Não pensaria bem aquele que afirmasse que meu destino é obra de um deus malvado e inexorável? Ó Potestade divina, não, e não! Que eu desapareça dentre os humanos antes que sobre mim caia tão acerba vergonha!
(...) pelo oráculo de Apolo o rei devia morrer às mãos de meu filho; ora, esse filho infeliz não poderia ter ferido a Laio, porque morreu antes dele.
De que serve afligir-se em meio de terrores, se o homem vive à lei do acaso, e se nada pode prever ou pressentir!
Apoio disse um dia que eu me casaria com minha própria mãe, e derramaria o sangue de meu pai.
Ai de ti, mísero infeliz! Eis o único título que te posso dar; e nunca mais te tratarei de outra forma!
[...]
O SERVO - Mas aquela que está no interior de tua casa, tua esposa, é quem melhor poderá dizer a verdade.
ÉDIPO - Foi ela que te entregou a criança?
O SERVO - Sim, rei.
ÉDIPO - E para quê?
O SERVO - Para que eu a deixasse morrer.
ÉDIPO - Uma mãe tez isso! Que desgraçada!
O SERVO - Assim fez, temendo a realização de oráculos terríveis...
ÉDIPO - Que oráculos?
O SERVO - Aquele menino deveria matar seu pai, assim diziam...
(...)
O SERVO - Pensei que este homem o levasse para sua terra, para um país distante... Mas ele o salvou da morte para maior desgraça! Porque, se és tu quem ele diz, sabe que tu és o mais infeliz dos homens!
ÉDIPO -Todos sabem: tudo me era interdito: ser filho de quem sou, casar-me com quem me caseie e eu matei aquele a quem eu não poderia matar!
[...]
EMISSÁRIO - (...) e os males que nós próprios nos causamos são precisamente os mais dolorosos
EMISSÁRIO - Todos os nossos olhares voltaram-se para o rei, que, desatinado, corria ao acaso, ora pedindo um punhal, ora reclamando notícias da rainha, não sua esposa, mas sua mãe, a que deu à luz a ele, e a seus filhos.(...)
Então, proferindo imprecações horríveis, como se alguém lhe indicasse um caminho, atirou-se no quarto. Vimos então, ali, a rainha, suspensa ainda pela corda que a estrangulava... Diante dessa visão horrenda, o desgraçado solta novos e lancinantes brados, desprende o laço que a sustinha, e a mísera mulher caiu por terra. A nosso olhar se apresenta, logo em seguida, um quadro ainda mais atroz: Édipo toma seu manto, retira dele os colchetes de ouro com que o prendia, e com a ponta recurva arranca das órbitas os olhos, gritando: "Não quero mais ser testemunha de minhas desgraças, nem de meus crimes! Na treva, agora, não mais verei aqueles a quem nunca deveria ter visto, nem reconhecerei aqueles que não quero mais reconhecer!" Soltando novos gritos, continua a revolver e macerar suas pálpebras sangrentas, de cuja cavidade o sangue rolava até o queixo e não em gotas, apenas, mas num jorro abundante. Assim confundiram, marido e mulher, numa só desgraça, as suas desgraças! Outrora gozaram uma herança de felicidade; mas agora nada mais resta senão a maldição, a morte, a vergonha, não lhes faltando um só dos males que podem ferir os mortais.
(...) as palavras sacrílegas que ele pronuncia... Quer sair, em rumo do exílio; não quer continuar no palácio depois da maldição terrível que ele mesmo proferiu.
(...)
Ele aí vem, e vo-lo mostrará. Ides ver um espetáculo que comoveria o mais feroz inimigo...
Entra ÉDIPO, ensanguentado, e com os olhos vazados.
CORIFEU - Não tenho coragem, sequer, para volver meus olhos e contemplar-te assim.
Que horrível coisa fizeste, ó Édipo! Como tiveste coragem de ferir assim os olhos? Que divindade a isso te levou?
ÉDIPO - Foi Apoio! Sim, foi Apoio, meus amigos, o autor de meus atrozes sofrimentos! Mas ninguém mais me arrancou os olhos; fui eu mesmo!
Desgraçado de mim! Para que ver, se já não poderia ver mais nada que fosse agradável a meus olhos?
CORIFEU - Que mais posso eu contemplar, ou amar na vida? Que palavra poderei ouvir com prazer?
ÉDIPO - Que morra aquele que, na deserta montanha, desprendeu meus pés feridos, e salvou-me da morte, mas salvou-me para minha maior desgraça! Ah! Se eu tivesse então perecido, não seria hoje uma causa de aflição e horror para mim, e para todos!
(...)
Eu não teria sido o matador de meu pai, nem o esposo daquela que me deu a vida! Mas... os deuses me abandonaram: fui um filho maldito, e fecundei no seio que me concebeu! Se há um mal pior que a desgraça, coube esse mal ao infeliz Édipo!
(...)
Não sei como poderia defrontar-me, no Hades, com meu pai, ou com minha infeliz mãe, porque cometi contra eles crimes que nem a forca poderia punir! E o semblante de meus filhos, nascidos como foram, como me seria possível contemplar? Não!
Nunca mais poderia eu vê-los, nem ver a cidade, as muralhas, as está-tuas sagradas dos deuses! Pobre de mim! Depois de ter gozado em Tebas uma existência gloriosa, dela me privei voluntariamente, quando a todos vós ordenei que expulsassem da cidade o sacrílego, aquele que os deuses declararam impuro, da raça de Laio! Descoberta, em mim mesmo, essa mancha indelével, ser-me-ia lícito contemplar os cidadãos tebanos, sem baixar os olhos? Ah! certamente que não! E se fosse possível evitar que os sons nos penetrassem pelos ouvidos, eu privaria também da audição este miserável corpo, para que nada mais pudesse ver, nem ouvir, - pois deve ser um alívio ter o espírito insensível às próprias dores!...
Ó Citéron, por que me recolheste? Por que, quando me deste abrigo, não me tiraste a vida? Assim eu nunca revelaria aos homens o segredo do meu nascimento. Ó Políbio, ó cidadão de Corinto, velho palácio que eu supunha ser o meu lar paterno, quantos opróbrios deixastes crescer comigo, sob a aparente beleza que os ocultava! Porque hoje sou um criminoso e descendente de criminosos, todo o mundo o sabe! Ó tríplice encruzilhada! Vale sombrio, bosques de carvalhos, vós que absorvestes o sangue que era meu, - o sangue de meu pai! - que eu próprio derramei, lembrai-vos acaso dos crimes que então cometi, e dos que pratiquei mais tarde? Ó funesto himeneu, a que devo a vida, e que me facultou germinar pela segunda vez a mesma semente; por que mostraste um dia um pai irmão de seus filhos, filhos irmãos de seu pai, e uma esposa que era também mãe de seu marido?! Quanta torpeza pôde ocorrer entre criaturas humanas! Vamos! Não fica bem relembrar o que é hediondo fazer-se; apressai-vos - pelos deuses! -em esconder-me longe daqui, seja onde for! Matai-me, atirai-me ao mar, ou num abismo onde ninguém mais me veja! Aproximai-vos: não vos envergonheis de tocar num miserável; crede, e não temais; minha desgraça é tamanha, que ninguém mais, a não ser eu, pode sequer imaginá-la!
[...]
CREONTE - (...) não deveis exibir assim sem um manto, este ser impuro, a quem nem a chuva, nem a luz podem beneficiar.
ÉDIPO - Manda-me para fora deste país o mais depressa possível! Para um lugar onde ninguém me veja, nem possa dirigir a palavra a nenhum ser humano!
(...) a resposta é perfeitamente conhecida; o parricida, o ímpio, é urgente matar.
(...)
Quanto a mim, não queiras que a cidade de meu pai me tenha como habitante, enquanto eu vivo for; ao contrário, deixa-me ir para as montanhas, para o Citéron, minha triste pátria, que meus genitores escolheram para meu tümulo, - para que eu morra por lá, como eles queriam que eu morresse. Aliás, eu bem compreendo, que não será por doença, ou coisa semelhante, que terminarei meus dias; nunca foi alguém salvo da morte, senão para que tenha qualquer fim atroz. Mas, que meu destino siga seu curso!
(...)
Entram ANTÍGONE e ISMENIA, muito jovens, conduzidas por uma escrava. Elas se aproximavam do pai.
ÉDIPO - Vinde ter comigo... Vinde a estas mãos... fraternas! Foram elas que, como vedes, privaram de luz os olhos, outrora tão brilhantes, de vosso pai! Eu nada via... e nada sabia, minhas filhas; mas eu vos dei a vida no mesmo seio do qual eu próprio havia nascido... E choro por vós, porque nunca mais vos verei, e porque penso nas amarguras que tereis de suportar pela vida além...
(...) quando atingirdes a idade florida do casamento, quem será... sim! - quem será bastante corajoso para receber todos os insultos, que serão um eterno flagelo para vós, e para vossa prole? Que mais falta para vossa infelicidade?
Vosso pai? Mas ele matou seu pai, casou-se com sua mãe, e desse consórcio é que vós nascestes. Eis as injúrias com que vos perseguirão... Quem vos quererá por esposa? Ninguém! Ninguém, minhas filhas! Tereis de viver na solidão e na esterilidade. Filho de Meneceu, visto que tu serás doravante o único pai que elas terão, - porquanto sua mãe, e eu, que lhes demos a vida, já não viveremos! - não deixes que estas meninas sejam obrigadas a vaguear, mendigando; não consintas que sua desgraça se agrave em consequência da minha. Tem pena delas, vendo-as, tão jovens, privadas de todo o apoio, exceto o que lhes concederes. Dá-me um sinal de teu assentimento, homem generoso;
toca-me com tua mão!... E vós, minhas filhas, se me pudésseis compreender, eu vos daria conselhos; procurai sempre ter uma existência mais feliz do que a de vosso pai, onde quer que possais viver!
[...]
Tudo aquilo que se faz a tempo, dá bom resultado.
Bem sabes que tuas vitórias anteriores não te asseguraram a felicidade na vida!