Caroline Gurgel 08/07/2016Dá pra fugir do destino?Li Édipo Rei pela primeira vez ainda criança, em uma daquelas edições adaptadas, em prosa, que as escolas adotam. Não me lembrava dos detalhes, mas como gostara da leitura, sempre tive vontade de ler o texto na íntegra. Então, quando me deparei com essa edição caprichada - e comentada! - de O Melhor do Teatro Grego, que inclui Prometeu acorrentado, Édipo Rei, Medéia e As Nuvens, não pensei duas vezes em comprá-la.
O livro traz uma breve apresentação sobre o teatro grego, um pequeno glossário e, para cada peça, uma introdução, a peça comentada e o perfil dos personagens. Uma mão na roda para leitores não habituados a poemas trágicos.
A peça, escrita por Sófocles por volta do ano 427 a.C, começa na frente do palácio real de Tebas, onde um grupo de suplicantes, liderados pelo Sacerdote de Zeus, pede a Édipo que intervenha para que eles se livrem da peste que assola a cidade. Para isso, Édipo precisa encontrar o assassino de Laio, o antigo rei. Ao longo do livro, na busca de tal assassino, acompanhamos muitas descobertas e reviravoltas.
Apesar de ser uma história conhecida, prefiro não detalhar os acontecimentos, pois a maneira pela qual a verdade vai vindo à tona foi me empolgando ao longo do texto, embora eu conhecesse o destino de Édipo.
É inevitável pensar em quantos autores foram influenciados pela ironia trágica de Sófocles, e em quantos outros tantos sofreram influência dos já influenciados por ele, uma espécie de influência “por tabela”, sem, muitas vezes, nem se dar conta disso. O que me leva a pensar também sobre originalidade, se podemos chamar de original um autor contemporâneo ou se ele vai estar sempre à sombra dos mestres da antiguidade.
O texto não é nenhum bicho de sete cabeças, apesar de também não ser uma leitura tão simples. Com um pouco de boa vontade e concentração dá para ler com tranquilidade. A edição comentada valeu a pena e certamente me ajudou bastante.
Sempre que leio livros de outras épocas me pego pensando que o ser humano não muda, não evolui, como costumamos achar (sem parar para pensar). Sim, avançamos em ciência, tecnologia e afins, os costumes mudam, mas na essência somos os mesmos. Ainda se sente inveja, rancor, dor, alegria, compaixão… as pessoas ainda sofrem por amor, ainda traem umas às outras, ainda se vingam… Para uns, isso é óbvio, para outros, pode ser chocante.
Édipo Rei, com sua trágica ironia, nos toca e nos enternece. Fala de culpa, de erros, de autopunição e, desde então, nos faz refletir sobre destino e se podemos fugir dele. Dificilmente vai ser o seu livro preferido, mas nem por isso é menos fantástico. Vale a leitura e gostinho de saber um pouco mais sobre literatura.
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