Ley 11/12/2019Leio qualquer coisa dessa autora!Para quem leu A Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil, não saiu ileso e com certeza se apaixonou pelos personagens e se emocionou com a história. Este é o segundo livro da autora, ele se passa no mesmo universo que o anterior, mas é um livro com uma história independente sem relação com os personagens de A Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil.
No final do livro anterior, tivemos um ótimo gancho para o desenvolvimento deste, que é quando a IA da nave Andarilha "morre" e outra consciência assume o lugar. Para evitar cutucar a velha ferida daqueles que conviviam com ela na nave, a nova consciência de Lovelace sai da nave a convite de Sálvia, para viver com ela em um kit corporal antes destinado a antiga Lovelace.
Sálvia que tem uma história emocionante, nos foi apresentada no primeiro volume como uma técnica habilidosa, vítima de mutação e amiga de Jenks, tripulante da nave andarilha. Como Sálvia fica responsável por Lovelace, ela tem um papel importantíssimo na trama, e sua história também é contada aos poucos. Tudo o que sabíamos era que ela foi vítima de mutação quando vivia em um planeta recluso, e que fez de tudo para fugir de lá até enfim conseguir.
Acompanhamos esse processo de como era esse lugar em que vivia, sua criação, que foi influenciada por uma IA, e toda a trajetória dela desde a infância, quando possuía outro nome, até os dias atuais. A relação dessa história com a protagonista IA tem uma influência incrível pelas histórias serem de certa forma parecidas e causarem um impacto nas personagens e em nós.
Lovelace inicia sua história logo quando assume a consciência no kit corporal, que consiste em um corpo idêntico ao de um humano, o kit sempre pode ser da espécie de preferência que a IA quiser, mas como Lovelace tem uma consciência parecida como a de um humano, o ideal para ela é um kit referente a isso. Temos uma dificuldade de acompanhar Lovelace com o kit a princípio, por conta da relutância nela em assumir ele como seu. Ela sempre se refere a ele como "kit" ao invés de "meu corpo", sem nunca se desprender de sua consciência de IA.
A IA começa a ter experiências que a moldam e sua primeira mudança é assumir um nome que ela queira, Sidra. Com essa nova identidade, ela começa a enfim se descobrir e esse processo é o que transforma o livro em mais que uma simples ficção, e sim em uma lição e algo a se pensar. IAs, segundo o governo exercido na galáxia, não podem ter corpos, consequentemente Sidra está desobedecendo leis. Essa proibição consiste no governo não assumir que IAs sejam considerados sapientes independentes.
Sidra contorna isso nos dando uma lição de como seria uma IA consciente. Por seu núcleo se assemelhar aos dos humanos, ela tem barreiras humanas bem parecidas conosco, e seus dilemas, escolhas e natureza também são os mesmos. Isso nos fascina pelo modo de a humanidade ser tão pouco mencionada no livro, mas ainda se fazer presente nesses detalhes. Sidra também estreita laços igualmente humanos com Sálvia, que a acolhe, com o marido de Sálvia, Azul e com um amigx chamado Tak, que pertence a outra espécia que não deixou de me fascinar.
Elx vem de uma espécie onde há quatro sexos e elx pertence a classe em que muda de sexo constantemente, por isso elx as vezes é mencionado como "Elx" quando não sabemos qual seu sexo no momento. Isso é tão estranho de assimilar, mas a autora o introduz na trama de maneira permanente e isso facilita a assimilação. Tak tem um papel importante na aceitação de Sidra pelo corpo e pela sua nova vida, ele é como um bote salva-vidas, enquanto a relação de amizade deles é linda.
A luta por Sidra se encaixar pode ser vista de várias maneiras e até mesmo me vi em seu lugar algumas vezes. O modo como a autora transcorre a história da IA, em um universo totalmente novo, com conceitos complexos, eram para ser difíceis de entender, mas não é. É tudo muito simples, e isso fez com que eu me apaixonasse pela sua escrita e decidisse que estou ansiosa para ler suas próximas histórias.
A intercalação do passado de Sálvia, com o presente de Sidra ainda me faz pensar em como tudo foi bem conectado. A Vida Compartilhada Em Uma Admirável Órbita Fechada é o segundo volume da série Wayfarer, eles seguem com histórias sempre do mesmo universo, mas com personagens e histórias distintas. Apenas dois volumes foram lançados no Brasil, mas já tem um terceiro volume lançado no exterior.
site:
https://www.imersaoliteraria.com.br/2019/10/resenha-vida-compartilhada-em-uma.html