Lê Golz 10/12/2014Resenha - O véuConfesso que tive que recuperar o fôlego para começar essa resenha. Recebi O Véu em parceria com a Primavera Editorial e não imaginei que a obra fosse me surpreender tanto assim. É o primeiro livro que leio do autor, mas já fiquei fascinada com sua narrativa e sua imaginação para criar uma trama tão perfeita.
O foco da história é uma tela a óleo chamada ''O Véu'', pintada por Lourenço Monte Mor. A obra retrata uma mulher muçulmana seminua usando apenas um véu islâmico. Quando o quadro é exposto pela primeira vez, desperta a ira de religiosos islâmicos, que a consideram uma obra ofensiva ao Islã e uma blasfêmia à pureza da mulher muçulmana. Desde então acontecimentos muito estranhos começam a acontecer em várias partes do mundo, e pessoas que estão ligadas direta ou indiretamente ao quadro, são aparentemente assassinadas, inclusive o pintor.
Vítima de um incêndio na sua casa no Rio de Janeiro, Lourenço termina sua carreira de uma maneira trágica. Devido a repercussão que o quadro causou pelo mundo, acreditava-se que havia sido um atentado, mas como não acharam evidências que provaram isso, o caso nunca fora esclarecido totalmente.
Todos imaginavam que ''O Véu'' havia sido destruído no incêndio, mas ele estava sobre a confiança de Aníbal, pai de Lourenço. Após dois anos da morte do filho, ele resolve leiloar o quadro na Casa Quintanilha de Leilões no Rio de Janeiro, onde Araci Quintanilha, tia de Lourenço, é proprietária.
Os dias que antecedem o leilão fora de muita expectativa para Araci, que nunca se sentiu a vontade com a imagem daquele quadro, que tinha uma trajetória marcada pelo sucesso e pela tragédia. Suas aflições tinham fundamento, pois depois que o quadro resolve ser leiloado ela recebe ameaças e coisas estranhas começam a acontecer: duas explosões no telhado da Casa de Leilões, o muro é pichado com uma mensagem estranha, o segurança do local é assassinado e o quadro é roubado.
"- O fascínio que o quadro exerce sobre as pessoas não seria o mesmo se não fosse o rastro de sangue que ele, supostamente, deixou - Araci olhou o pai de relance e voltou a se fixar nos olhos lúbricos da pintura." (p. 50)
Os próximos dias são de mistério total. Diversas pessoas morrem, inclusive o professor Mohsen Khajepour, um intelectual iraniano que havia chegado ao Brasil para o lançamento de seu livro. Ele também parecia estar ligado ao quadro, pois a maneira com que ele foi assassinado evidenciava isso.
Diante de tantos acontecimentos misteriosos, o mundo estava focado na Azadi, uma organização extremista iraniana que foi responsável por diversos atos terroristas nas décadas de 80 e 90. Acreditava-se que com a morte do líder do grupo, anos antes, a organização havia se destruído, mas parece que alguém havia assumido o comando e que a organização estava mais viva do que nunca e sendo responsável por todos esses ataques e assassinatos pelo mundo relacionados ao ''O Véu''.
"Precisava se controlar, mas não conseguia. A energia negativa e inescrutável que desde sempre acompanhara aquela pintura abjeta espalhava por onde passava um rastro desditoso de desgraça." (p.107)
Inúmeros personagens vão surgindo ao longo da trama, e não tem como citar todos. A impressão que eu tinha é que todos eram culpados ou tinham uma mínima relação com aquele pintura tão polêmica. A cada personagem que surgia o rumo da história mudava um pouco, e tudo o que eu desconfiava antes parecia não ter mais fundamento.
A diagramação está simples e perfeita. As páginas são amarelas e as letras grandes. A capa e título condiz exatamente com a história. Alguns capítulos são mais longos que outros, mas nada que atrapalhasse a leitura.
A narrativa é feita em terceira pessoa, e fluiu naturalmente. O autor construiu uma trama complexa, cheia de mistérios e que te surpreende com novas revelações a cada virada de página. Fiquei impressionada com tamanha imaginação para criar tantos fatos que aos poucos foram se unindo de uma maneira incrível. A única coisa que me incomodou foi alguns trechos que achei muito descritivos e arrastou um pouco a leitura.
Apesar de algumas ressalvas não há dúvidas que vou querer ler outras obras do autor, pois a trama que ele criou para O Véu foi genial. Aos poucos as peças desse quebra-cabeça encaixaram-se e ninguém parecia inocente. Fiz algumas sugestões na minha mente, mas me enganei completamente em todas elas. Os últimos capítulos foram decisivos e me prendeu muito na leitura, pois eram descobertas impressionantes de um plano muito, mais muito maquiavélico. Lendo esse livro você vai viajar pelas entranhas da política do Irã, por cruéis conspirações terroristas, pelo fanatismo que leva a loucura à mente humana e, descobrirá que até as obras de artes guardam seus segredos. O Véu é um thriller genial e envolvente e que recomendo com certeza!
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