Romulo.Gomes 28/03/2020
Laura Carvalho estreia seu primeiro livro com um passo muito bem dado. A obra é um grande compilado do grande turbilhão que foi e está cedo o cenário econômico brasileiro neste século XXI, apresentando caminhos e solução numa perspectiva de economia inclusiva - tudo isso apresentado numa linguagem clara e acessível a todos.
De Lula a Temer, passando pelo interlúdio de Dilma, a professora mostra que a economia até entrou no século muito bem, por meio de acertadas políticas de expansão de investimento, mas perdeu o o eixo no final da década de 10 com a instabilidade política e as más leituras do que seria necessário fazer para enfrentar a recessão - através da desestruturante "Agenda Fiesp" e posteriormente com a contração dos investimentos públicos, o que Laura intitula de "panaceia fiscal".
A professora mostra que, no período de Lula, o boom das commodities até ajudaram a propulsionar o cenário econômico, mas atribui aos cirúrgicos investimentos públicos em pedras fundamentais - como os programas de assistência social, obras públicas e estruturação da educação, a receita que fez o país se desenvolver e navegar por um cenário econômico estável e próspero. Esse primeiro período foi denominado pela autora de 'Milagrinho brasileiro'. Aí, o passo à frente.
Aponta ainda que, em seguida, um passo lado foi dado. Se os efeitos da crise mundial de 2008 ainda não haviam atingido o governo Lula, impactaram de forma ríspida o Governo Dilma Roussef. Pressões políticas para lá e para cá, oriundas das elites financeiras do país, forçaram a presidenta mudar o rumo: em vez de investimentos públicos, era hora de deixar o mercado tomar à proa da economia. E assim fez: pressionada, implantou a chamada Agenda Fiesp - mais uma denominação emplacada por Laura -, aplicando enormes desonerações fiscais às empresas. O resultado foi devastador, levando ao país a uma das maiores crises de sua história - não bastasse isso, as manifestações de junho de 2013 colocaram ainda mais sal no agrião da combalida democracia brasileira.
Na leitura da professora, o resultado disso só podia ser um para passo atrás. Sucedeu-se a reeleição de Dilma num cenário total de polarização política, que logo em seguida ocasionou mais instabilidade política e findou no impeachment de Roussef. Temer ascendeu ao poder e logo trouxe sua ponte para o futuro. Laura faz incontáveis apontamentos de como a dita panaceia fiscal agravou ainda mais a economia brasileira em seu momento de recessão.
Por fim, Laura traça um panorama do que seria uma agenda viável para o Brasil pensar em um crescimento sustentável e eliminador de desigualdades, debulhando soluções a partir da teoria heterodoxa econômica - como a necessária reforma tributária progressiva - e destacando características do Estado brasileiro que devem ser eliminadas caso esse país queira pensar em si como uma democracia efetiva - eliminando a ultrajante concentração de renda, por exemplo.
O que fica mais evidente nas lições da professora é que os interesses mesquinhos da elite brasileira distorcem às reais demandas estruturais do país, e que a solução para tanto é investir cada vez mais numa literatura econômica que se almeje efetiva e contribua para a transformação desta nação numa democracia verdadeiramente representativa das necessidades da grande parcela populacional mais vulnerável. Nessa Valsa de Laura vamos todos, porque de certo ela não pretende excluir nenhuma parte da sociedade.
Nota 9/10.