Resenhas - Ressurreição

luisaamoriml 03/10/2024

Riqueza cultural
Em oposto do que geralmente se espera de uma resenha, aqui eu gostaria de comentar e ressaltar a importância que os clássicos têm na nossa formação cultural e pessoal.

Em dois momentos do livro, Machado atiçou minha curiosidade em algo bastante singelo; os horários que os personagens se reuniam para as suas refeições. Dado ao fato que a história se passa no século XIX, algo certamente havia de diferente. Tive, então, a necessidade de dar uma pesquisada e acabar descobrindo uma curiosidade histórica que contribuiu também - além da própria leitura -, para enriquecer o meu conhecimento da história do nosso próprio país. Que para vias de curiosidade; entre os séculos XVI e XIX, nossos hábitos alimentares mudaram, sendo admitido no Brasil, os hábitos europeus; almoço pela manhã, jantar no início da tarde, merenda no meio da tarde e ceia no início da noite. Sim, vocês não leram errado. E foi exatamente isso que me fez explodir a cabeça. Apenas no século XX os horários das refeições se tornaram como conhecemos hoje. Uma curiosidade simples, mas que faz bastante diferença.

E se tratando agora da narrativa, eu gosto muito de como Machado conversa conosco, leitores, além de saber exatamente o sentimento que a trama irá nos causar e afirmar isso numa conversa com a gente durante a história. Além do ar cômico que em outros de seus livros ele consegue trabalhar muito bem.

Uma diferença que encontramos também nos clássicos, é a riqueza da formação dos personagens e poder de observação de quem os escreve. Conhecemos melhor os vícios e virtudes do ser humano, fazendo-nos compreender na nossa própria vida, os porquês dos movimentos que por vezes tomamos/julgamos.

Machado é Machado e atemporal do jeito que é por algumas (muitas!) razões.

Camila.Diasas 01/10/2024

Redpill do século 19
Primeiro romance do Machado, inscrito em 1872 a escrita é romântica mas sem tantos floreios, a história te segura pelo caos do personagem Félix, homem que torna qualquer mulher uma grande infeliz ao amá-lo devido a sua insegurança descabida.

É daquelas histórias que te fazem ficar com raiva do começo ao fim rs

Anna 17/09/2024

Felix seu maluco surtado
Haja santa paciência pra um homem chato surtado desses, não tem amor que aguente? Livia aguentou muito e ainda foi simpática

Dito isso, Machado nunca decepciona.

Elton Cruz 06/09/2024

Ainda martelando
Fiquei um tempo pensando nesse desfecho final. Machado estava mesmo passando do romantismo pro realismo e isso se expressa incrivelmente nesse primeiro livro. As interações entre os personagens, os acontecimentos e a forma que ele
conversa com o leitor, achei incrível e me lembrou mt, inclusive, deadpool hahaha

A vida, não tão injusta, muito menos muito justa, às vezes, tem cor e variações de um espectro cinza. As vezes parece mesmo que Kafka que fez o roteiro e às vezes, não tem muito o que fazer. É aceitar algumas coisas, ficar bem e enxergar as cores, pois tem!

Talvez esteja enviesado: é Machado. De qualquer forma, vou curtir
meu viés, caso tenha amado por isso, e dizer que vale super a pena a leitura, aprende-se bastante coisas pra se aplicar na vida.

Ao menos foi assim comigo

Meu Carisma 03/09/2024

Original e real
Na original história, temos Félix como protagonista, um homem culto e elegante frequentador da alta sociedade carioca, que se vê curioso à chegada da misteriosa Lívia. Temos o Meneses um galã de Shakespeare e temos a gentil Raquel, como os personagens principais desse romance.

No início, ao ler o Félix, porque ele mesmo já conhecia tão bem a si mesmo que nos conta quem ele é, não imaginava as dimensões do caráter do Félix. Porque ele não é um simples cafajeste. Não dá pra rotulá-lo disso.

Ele diz que não consegue confiar "nas pessoas" quando isso é o que parece no início mesmo, mas depois a gente percebe que ele não confia é nas mulheres, mesmo que a ame e mesmo que tenha certeza do amor dela.

O coração dele é sincero mas a alma e a mente dele são volúveis, ele não consegue confiar agora, porque passou anos não sendo ele mesmo confiável. Alimentando essa desconfiança e insegurança dentro de si mesmo. Aqui não temos uma história triste por trás de seu comportamento, pro meu desapontamento, confesso.

Acho linda a relação entre Lívia e Raquel, apesar de que acabe sendo uma relação triste e magoada. Elas são leais uma a outra e essa lealdade e genuíno carinho entre personagens femininas sempre me comovem muito.

Fiquei triste pela escolha da Lívia, porque ela demonstra em certo ponto essa inclinação em seguir o padrão, tanto que quando uma certeza chega até ela, ela rejeita, por amar a incerteza. Ver ela amar dentro da confusão do Félix, que ela supunha poder curar, foi uma mistura de esperança e pena.

Tem um momento que você só pode torcer pra ela parar de perdoa-lo o tempo todo. Eu passei a pensar "chega Lívia, por favor". Apesar de sempre compressiva aquilo doía nela, tanto que no final do livro, a gente vê o quanto ela vinha aguentando em nome da família que ela almejava construir ao lado do homem que estava amando.

A mensagem mais forte no livro é que até o coração mais nobre que tudo perdoa, uma hora aceita com resignação que o melhor é desistir da pessoa amada. Quando a confiança morre no coração do homem, não tem certeza que a ressuscite. Não tem cura pra uma alma adoecida e um coração que ama, mas ama envenenado.

Eu não acho que leria novamente, eu sofri muito. Não sei se aguentaria sofrer tanto de novo. A história é excelente, eu juro. Eu que sou sensível a romances assim, tão reais.

Fernanda.Caputo 31/08/2024

Nossas dúvidas são traiçoeiras
'Our doubts are traitors, and make us lose the good we oft might win, by fearing to attempt'.
('Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, por medo de tentar') ? Shakespeare, em Medida por Medida.

Compartilho aqui uma reflexão inspirada nas palavras de Antônio Cândido: ?Machado de Assis era dotado de raro discernimento literário e adquiriu por esforço próprio uma forte cultura intelectual, baseada nos clássicos, mas aberta aos filósofos e escritores contemporâneos. (...) Sua obra é variada e tem a característica das produções eminentes: satisfaz tanto aos requintados quanto aos simples. Ela tem, sobretudo, a possibilidade de ser reinterpretada à medida que o tempo passar, porque, tendo uma dimensão profunda de universalidade, funciona como se se dirigisse a cada época que surge?.

Machado de Assis já demonstrava sua genialidade em seu primeiro romance, 'Ressurreição', publicado em 1872. Que texto maravilhosamente bem escrito!

Félix é um médico e bon vivant, inicialmente cético quanto ao amor, que acaba se apaixonando pela doce Lívia, uma jovem viúva que responde ao amor ciumento e doentio de seu amante de forma serena e dedicada ? e, extremamente paciente!

O narrador intrometido, com seu humor e ironia refinados, guia-nos pela história de Félix e Lívia. Machado utilizou a citação de Shakespeare que abre este texto como fio condutor para 'Ressurreição': as dúvidas de Félix sobre a fidelidade e sinceridade de Lívia permeiam todo o livro, colocando constantemente em xeque sua possibilidade de felicidade.

Mesmo enquadrado na primeira fase romântica do autor, 'Ressurreição' transcende o sentimentalismo com suas notas realistas entrelaçadas ao texto.

Um livro primoroso que recomendo vivamente.

Yves.Vicente 08/08/2024

Aquele gosto amargo na boca...
É tão triste acompanhar uma história de amor e vê-la, por fim, tornar-se infecunda...

Decerto não se pode dizer que o final é de alguma forma inesperado, suspeitamos em nossos corações desde o desenrolar da trama que o desfecho seria aquele.

Porém, nossa alma ávida por finais felizes se recusa a acreditar até a última linha que tal desfecho de fato ocorra.

No entanto, como não esperar de um coração envenenado pelo ciúme, que furte a si mesmo da ventura de se permitir amar e ser amado com total entrega?

Não há nada mais fácil do que se adivinhar que diante do veneno do ciúme, a única consequência seja a morte da felicidade.

Mas ainda assim, que lástima!

itslittlejhow 03/08/2024

Ressurreição - 03/08/2024
Apesar de ser o primeiro romance de Machado, já percebi algumas características da escrita do escritor, como por exemplo, a interferência do narrador em alguns momentos da história. Fase romântica do autor. A forma como Machado descreve alguns sentimentos é muito linda. Temos personagens femininas marcantes, que guiam os passos do protagonista (Félix). Este, tem uma humanidade quase palpável. Cheio de sombras em sua persona, não toma suas decisões apenas sob a ótica de um sentimento, mas de vários ao mesmo tempo, como todos nós.

napolimarcy 28/07/2024

M.A
Esse foi meu primeiro contato com Machado de Assis (um pecado, eu sei), e sinto que não poderia ser de forma diferente. Sempre tive a certeza que ele era realmente genial, e essa novela só me confirmou: Machado realmente É GENIAL. É impressionante o jeito que ele envolve o leitor na narrativa, que ele se envolve como narrador e que ele nos esclarece essa ?dança? entre os planos, muito semelhante à como Clarice Lispector faz (e realmente muito interessante), esse foi o ponto alto, pra mim, deste romance. Posto isso, o romance tem uma característica muito forte diante da relação da Viúva e o Médico: o ciúmes. Me lembrou muito O Mouro de Veneza nesse enredo, e foi muito interessante ver como isso foi construído. O final nos traz a característica do Realismo de Machado (apesar de estarmos lendo um romance), e não poderia ser diferente. Recomendo, escrito de forma bela e realmente interessante!

Lor 17/07/2024

Seria Félix o Mr. Big do Machado de Assis?
Sabe quando a você é esmagada por um semestre infernal?
Eu estou exatamente assim. Pretendia ler as coisas mais fáceis e bobas possíveis, para não precisar pensar (nem queria escrever isso).
Peguei Ressurreição na biblioteca da cidade,mas não tinha pretensão nenhuma de ler. Comecei só para ver como era e a leitura e fluiu leve, coisa que eu não espero para uma escrita antiga como essa e que requer maior atenção.
Não é o melhor do Machadão, até porque é o seu primeiro romance, mas também está muito loge de ser ruim.
Amo que todos os personagens do Machado tem no mínimo uns 15 problemas mentais e a gente nunca recebe um final feliz verdadeiro.
Por mais que eu pense que o sofrimento do Félix foi pouco. Até porque ele não tem apenas distúrbios mentais, ele tem também distúrbios de caráter.
Enfim, é um bom livro. O bruxo nunca nos decepciona.

Ricardo743 03/07/2024

Ressurreição
Esse livro explica como um relacionamento tóxico pode estragar o que poderia ser uma vida conjugal duradoura, o receio de felix de confiar em alguém fala mais alto do que as atitudes comprovatorias de Lívia.

Hév 30/06/2024

Felix andou para que Bentinho pudesse correr
Primeiro romance de Machado e embora tenha sido escrito enquanto o romantismo predominava consigo ver claramente traços do realismo tão característico de Machado. É uma história fechadinha com toques de crítica vindos do próprio narrador da estória, um deleite de se ler toda vez que se faziam presentes a elucidar algo no enredo. Felix foi o primeiro red pill a existir!!!! Olha como esse Machado sempre foi muito a frente de seu tempo. Gostei demais da Lívia como protagonista, ela não tinha medo de se entregar ao amor, mas sabia os limites e soube agir com a razão. Não tem como não concordar que ela ia muito além da beleza que todos reparavam e com razão a queriam por perto. Raquel foi uma querida e verdadeira amiga o tempo inteiro, fiquei muito feliz com o desfecho dela, os dois mereciam demais um final feliz por terem sido tão justos e leais, mesmo com o coração machucado.

Patricialima02 23/06/2024

Eu sempre me surpreendo com os livros do Machado de Assis.
Ler as primeiras obras da vida literária do Machado de Assis é uma experiência maravilhosa, tentar entender cada parte da transição dos seus romances é uma jornada muito linda, Machado de Assis sempre será meu autor favorito, exatamente por conseguir me surpreender a cada livro.

Wagner 15/06/2024

Centrado nos efeitos do ciúme e insegurança
O livro oferece uma análise perspicaz das emoções humanas, especialmente dos efeitos corrosivos do ciúme e da insegurança. Embora não tenha a complexidade de seus romances posteriores, "Ressurreição" já demonstra a habilidade de Machado em explorar as profundezas da psicologia de seus personagens e em tecer críticas sutis à sociedade de seu tempo.

Maria.Eduarda 11/06/2024

Ressurreição - Machado de Assis
" Lívia não protestava. Quis interrompê-lo uma vez; quando ele acabou
nada achou que lhe merecesse resposta. Estavam na sala. Olhou assustada
para todas as portas, deixou-se cair frouxamente numa cadeira e tapou o rosto
com as mãos.
Félix deu um passo para ela; o movimento era bom, mas o
arrependimento veio logo.
? Adeus! ? disse ele.
A moça descobriu o rosto.
? Félix! ? exclamou ela.
O médico parou alguns instantes. Lívia levantou-se e foi a ele arrebatadamente. Chegou a pegar-lhe numa das mãos, abatida e lacrimosa ia
começar uma última súplica. Ele porém puxou a mão violentamente, olhou
para ela, e depois de longo silêncio, repetiu:
? Adeus! "