Olha para o céu, Frederico!

Olha para o céu, Frederico! José Cândido de Carvalho




Resenhas - Olha para o céu, Frederico!


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eneida 02/07/2017

Frederico parece mais um fazendeiro mineiro do que um barão da cana de açúcar. Sempre na dele, não fala mal de ninguém,não conta vantagem, e sempre diz que os negócios não estão fáceis. Viu a modernidade chegar com as máquinas trazidas pelos estrangeiros e muitos usineiros se afundarem em dívidas, numa clara alusão a exploração das multinacionais.
Seu sobrinho e herdeiro tinha tudo para aprender com o tio, mas ao herdar a usina fez tudo ao contrário, foi seduzido pelo dinheiro.
O livro retrata bem o fim de um era, a dos barões da cana de açúcar, o impasse entre se modernizar, em investir na compra de máquinas estrangeiras e manter o estilo de vida abastado de um barão.
A frase "Olha para o céu Frederico" era o que o padre dizia sempre para o barão, na tentativa de angariar dinheiro para os pobres, para a igreja e as coisas do "céu", querendo dizer que ele não cuidava do seu lado espiritual e não pensava nos menos abonados.
Humor e ironia refinados, retratando uma época importante de nossa história.
Marta Skoober 10/10/2017minha estante
Parece bem bom!


eneida 10/10/2017minha estante
Sim, se você gosta de história e literatura brasileiras, do começo do século XX, esse é ótimo, com pitadas irônicas, de leitura leve e rápida.


Marta Skoober 11/10/2017minha estante
Gosto de literatura brasileira e se tiver um certo senso de humor melhor ainda.


Júllia 15/08/2022minha estante
Obrigada por resenhar




Raquel Lima 19/03/2009

Suspeita.
Sou suspeita de falar da Obra de JCC. Para mim um dos melhores escritores de nossos tempos. Neste obra ele continua sua trajetoria por revelar traços da cultura e criar personagens humanos e fantásticos do interior do Rio de Janeiro. Dono de uma escrita encantadora ele continua com sua linguagem atravessada, empolgante...Muito bom!
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Ladyce 05/01/2010

Os herdeiros dos velhos baronatos.
Comecei o ano de 2010 com a leitura de um clássico brasileiro, um livro cujo título virou quase que um jargão, com muitas pessoas o repetindo, já sem saberem referência exata. Uma pequena busca no Google mostra esta frase sendo usada para os mais diversos fins. Sinal do seu grande sucesso. Olha para céu, Frederico! foi o meu segundo José Cândido de Carvalho. Conhecido de todos que freqüentaram escolas brasileiras pelo romance O Coronel e o Lobisomen, José Candido de Carvalho acabou tendo o resto de sua obra injustamente relegada a um outro patamar. Então hoje, começo a colocar em dia a dívida que tenho comigo mesma de conhecer melhor o trabalho deste autor fluminense.

A característica mais marcante deste romance, além do retrato dos negócios e da decadência moral das famílias usineiras de açúcar da região de Campos dos Goytacazes, é, sem dúvida, um delicioso senso de humor que seduz e capacita o escritor a falar de assuntos sérios sem que venha a melindrar os orgulhos de famílias locais ou as politicagens bastante conhecidas dos anos 30 na região retratada. Além deste senso de humor, há no romance inteiro, as mais saborosas expressões, figuras de linguagem, que me fizeram parar a leitura e anotá-las, não só porque me pareceram novas, mas também porque me fizeram recordar de umas outras tantas maneiras de falar de pessoas que conheci na minha infância, quando a influência e a homogeneização da cultura através dos meios de comunicação nacionais não era ainda tão extensa. Aqui estão algumas dessas delícias:

“Quem visse Frederico assim de fala mole, com miséria nas conversas, era capaz de acreditar num São Martinho encalhado, de rodas mortas, com ninho de rato nas fornalhas. Conheci e vi morrer meu tio com esses lamentos que só acabaram quando sua boca se fechou vazia de palavras”.

“Era alto como vela de promessa”.

“Tanta gentileza acabou por trazer Dona Lúcia para a cama de Frederico. Os parentes é que não viam nada. Só olhavam a velhice de meu tio, a plantação que podia nascer em sua testa”. … “Agora, com um simples negócio de altar, os mourões do São Martinho ficavam sendo as pitangueiras da praia”.

“O raposão do meu tio não mostrava as unhas. Na varanda, de tarde, esparramado na cadeira de preguiça, lia os jornais. Vinha gente tirar prosa com ele. Conversinhas de calor, da miséria de fim de vida que andava solta pelo mundo”.

“Os barões, dependurados em pregos de parede, por trás das barbas , espiavam meus desmandos”.

Eduardo, nosso narrador, um menino órfão, vai morar com o tio Frederico e nunca chega a entender o velho. Não percebe como o tio era uma raposa velha, sempre comendo beiradas, parecendo um cordeirinho, mas que na hora H, dava o bote certeiro arrancando tudo do vizinho, do parente mais próximo, de quem fosse mais fraco, mesmo sem o saber. Frederico era um estrategista, com homem com olho grande, matreiro, conhecedor das fraquezas humanas.

Tendo passado os primeiros anos de sua vida na família de outro tio, Eduardo, chega à casa de Frederico cheio de orgulho por seus antepassados, nobreza brasileira, dona de terras e de gente. Depois de quase quinze anos no engenho São Martinho, com Frederico, ele recebe uma vistosa herança quando o tio morre. Mas Eduardo mostra que todo o tempo passado nessa usina de açúcar, pouco o atingiu. Só mesmo o aprendizado de sem-vergonhice vingou. No mais, ele que parece aberto à modernidade, às máquinas para melhor aproveitamento da cana de açúcar, mas logo, logo, mostra que em seu íntimo ainda vive de um esplendor imaginado da época de seus antepassados e espalha arrogância e desprezo pelos outros.

E assim vai o romance, com a prosa descontraída das conversas de varanda, com ritmo próprio que acompanha um enrolar de cigarro de palha, ou se cala para ouvir os primeiros grilos de um início de noite. Mas, por trás desta ingenuidade quase caipira, há uma forte crítica à sociedade dos usineiros, dos donos das terras, dos decadentes baronatos, gente com mentalidade de estupradores da terra, piratas permissionários pela monarquia, que pouco construíram além de famílias ilegítimas, de uma prole gerada com ex-escravas ou mulheres sem condições financeiras. Este grupo de irresponsáveis, mal letrados, preferiu continuar com a exploração nos moldes escravagistas, em que todos de quem dependia cresciam abandonados, sem recursos financeiros ou intelectuais, fadados a perpetuar a pobreza no campo por gerações e gerações futuras.

Olha para o céu, Frederico! é um livro que vale a pena ser lido, para nos lembrarmos também de como chegamos aqui, até hoje, em 2010. E para sabermos não repetir os erros do passado, de um passado nem tão longínquo. Apesar da seriedade do assunto tratado, o texto é leve, cheio de passagens humorísticas que nos levam facilmente ao fim sem sermões, sem dogmatismo. Uma excelente leitura.
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Gláucia 14/05/2011

Olha Para o Céu, Frederico! - José Cândido de Carvalho
O livro é recheado de termos regionais, de forma muito divertida narra as picuinhas políticas dos grandes usineiros e podemos contemporizar a história e encontrar semelhança nos nossos políticos atuais. Mas qualquer semelhança com a realidade é mera coicidência...
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Egídio Pizarro 24/10/2015

Em seu romance de estreia, José Cândido de Carvalho já demonstrou o estilo marcante que conduziu livros como "O coronel e o lobisomem": o parágrafo narrativo seguido de uma fala de personagem. Esse pequeno detalhe deixa a leitura tão leve que a gente mal percebe.
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Filino 24/06/2016

A bem dizer...
... trata-se de uma obra maravilhosa! O estilo de José Cândido de Carvalho prende a atenção do leitor, com sacadas geniais e sutis ironias. A construção dos personagens também é feita com muito esmero.

É um livro delicioso de ser lido. E se levarmos em conta que se trata da primeira obra do autor, que a escreveu por volta dos 25 anos, torna-se ainda mais surpreendente: já escrevia, ali, como "gente grande", habituado a grandes feitos literários - como, mais adiante, o futuro demonstrou.
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Lene Colaço 10/02/2017

Ao sair um texto na imprensa cobrindo de elogios Frederico, antigo dono do engenho São Martinho, seu sobrinho, Eduardo, sente-se incomodado por discordar da historia contada. A partir daí ele nos mostra quem era realmente Frederico, bem como os demais que fizeram parte da sua vida. Temos então a visão de Eduardo, um menino órfão, mas com a analise do Eduardo adulto.

Antes de morar com Frederico, Eduardo morava com outro tio, de quem ouvia historias grandiosas de parentes nobres, donos de terras, que construíram fama e fortuna. Ao ir morar com Frederico, não reconhece no tio a mesma postura grandiosa tão familiar. Frederico é passivo, toca a vida de forma simples, sempre na mesma rotina, sem ambição, fazendo vista grossa aos insultos recebidos. O que Eduardo não percebia aos quinze anos, mas constata em sua narração, é que o tio era um grande estrategista. Sempre solicito, sempre ajudando os mais próximos, fazendo com que ficassem em suas mãos, e aos poucos conseguindo tudo que queria e ampliando seus negócios. Com o falecimento de Frederico, Eduardo recebe uma boa parte da herança, mas mostra que o tempo vivido no engenho de nada adiantou. Nada aprendera com o tio. O que ficou foi o orgulho dos antepassados, que o torna arrogante e descuidado.

O livro tem um ritmo muito bom, muito gostoso. Embora seja uma forte critica as famílias usineiras, decadentes, que vivem de nome, que pouco se importam com os funcionários que são mantidos quase no mesmo regime dos escravos, a leitura não é cansativa. José Cândido conseguiu dosar muito bem critica e humor, e o resultado foi uma leitura leve.

Resenha completa no blog Bala de Limão.

site: http://baladelimao.blogspot.com.br/2017/02/resenha-olha-para-o-ceu-frederico-de.html
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Prof. Edivaldo 21/11/2019

Eduardo e Frederico
Entremeada de vários termos próprios do linguajar regional, o romance, narrado em primeira pessoa, consegue manter o interesse do leitor do começo ao fim. Eduardo descreve a trajetória de seu parente Frederico, homem afeito à lida do dia a dia do engenho. Recomendo a leitura.
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Gláucia 22/11/2023

Olha para o Céu, Frederico! - José Cândido de Carvalho
Releitura com sabor de primeira vez, não me lembrava de nada da história. Impressionante como minha memória de leitora vai se perdendo, será que acontece com todos?

Sou muito fã do JCC e seu linguajar tão peculiar, a grosso modo me remete à Guimarães, parece outra língua, a linguagem por si só é sempre muito divertida.
Publicado em 1939 é seu primeiro romance. Sua obra mais conhecida, O Coronel e o Lobisomem só viria uns 25 anos depois.
As duas obras são muito semelhantes, tanto na temática quanto na caracterização dos personagens.
Narrado em primeira pessoa por Eduardo de Sá Meneses, sobrinho do Frederico do título, um dono de engenho que assiste com tranquilidade o surgimento das usinas, uma possível ameaça à sua forma mais primitiva da fabricação do açúcar.

Seu maior rival é o usineiro Quincas de Barros, ambos vivem se cutucando por conta de divisas de terras. Se cutucando é modo de dizer, o único a esbravejar é Quincas. Frederico só faz balançar a cabeça e defender o rival de que o vem maledizer. Que grande sonso! Que esperteza e visão do mundo; é muito divertido assistir suas manobras silenciosas. Parece encarnar aquele ditado do cara que se finge de morto para cOm$r o uc do coveiro.

Pena que Eduardo não aprendeu nadinha com ele, não dá pra ter pena...
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