Marianne Freire 27/02/2023
?Desaparecer de Si? - Uma tentação contemporânea: a obra do sociólogo e antropólogo Le Breton de 2015 que acionou em mim o questionamento do estado mental e particular de noção de hiperdisponibilidade e vínculos sociais.
Sempre questionei esse estado de coisas: Por que a nossa intolerância ao sofrimento nos leva aos ópios das alegrias rápidas que no final não operam sentido?
Festas, bebida, cigarro, excesso de trabalho, escassez de lazer. Remédio pra dormir. Remédio para acordar. Cerveja para sociabilizar. Depressão, Alcoolismo, Drogas, Anorexia, Ortorexia, Hiperdisponibilidade, utilitarismo, fuga de si, identidade e pertencimento para encontrar funções e papéis sociais.
?O estudo do isolamento particular de um imaginário só meu.? Pensei.
O excesso de estímulos visuais, sonoros e múltiplos fazem com que os indivíduos queiram se isolar cada dia mais como experiência catártica de recuperação de uma nova produção psicológica de sentido.
?O indivíduo que não dispõe de recursos anteriores sólidos para se ajustar, dar significados e valores aos acontecimentos , que não tem auto-confiança suficiente, sente-se ainda mais vulnerável e é obrigado a firmar por si mesmo?. (LE BRETON, 2015)
O quanto o modelo de sociedade pós revolução industrial e o capitalismo tem culpa nisso? Em manter pessoas instrumentalmente produzindo coisas com sua força de trabalho para ?firmarem-se por si mesmas?, para sobrevivência.
Fazer silêncio. Desligar. Não ler. Não escutar. Não falar. Conheci Le Breton na Livraria Cultura, em Antropologia dos sentidos e Antropologia das emoções.
O norte é: Por que estamos entorpecidos, sedados, medicamentalizados, consumindo e descartando em doses de excesso? Por que acumulamos coisas físicas e mentais se o corpo precisa apenas de comida nutritiva, exercício, suplementação vitamínica, bem estar emocional e saúde mental?
Desaparecer de si é um convite ao contato com as necessidades mais extraordinárias e simples contra o entorpecimento do capitalismo industrial, do neoliberalismo, da meritocracia, da disputa e competitividade, da performance como produto social de visibilidade.
As vezes queremos sumir. E isso é saudável. Por que a natureza tem finitude, coisas se desgastam, relações, modelos de vida amparados na sobrevivência precária ganham na austeridade doses de muito sofrimento se não forem trabalhados com dispositivos mentais terapêuticos.
?Eu quero ficar perto / De tudo que acho certo / Até o dia em que eu / Mudar de opinião / É minha experiência / Meu pacto com a ciência / Meu conhecimento?É minha distração?.
?É o meu ponto de vista / Não aceito turistas / Meu mundo tá fechado / Pra visitação?
As vezes o desejo de todos é estar em lugar nenhum.
O ?Branco? a qual LE BRETON se refere pode ser comparado à ?ilha? de Saramago onde precisamos sair de dentro de nós mesmos para nos vermos.