Quincas Borba 09/02/2024
"Por que um corvo se parece com uma escrivaninha?"
"Aventuras de Alice no País das Maravilhas" e "Através do espelho e o que Alice encontrou por lá" são duas histórias no-sense escritas por Lewis Carrol, pseudônimo de Charles Dodgson. A premissa das duas histórias são bem semelhantes: uma garotinha, a titular Alice, se encontra em dois mumdos estranhos: o País das Maravilhas e o mundo invertido no espelho, enquanto passa por situações onde conhece personagens esquisitos e aleatórios, que quebram todo o seu modo lógico de enxergar as coisas.
Falarei de cada um como se fosse um livro separado e dar minha opinião geral.
O primeiro, que chamarei de "Alice no País das Maravilhas" para ficar mais simples, ainda é uma das melhores histórias que eu já li. No começo, é algo que parece ser bem simples e bobo, afinal, está no nome do tipo de literatura: no sense. Entretanto, não é porquê é sem sentido que é sem significado, e tem vários deles. Claro, eu descarto os extremos (como o clichê de Alice estar usando drogas ou estar num hospício), mas interpretações mais simples.
Um exemplo: vi algumas interpretações falando que a famosa Lagarta que fuma um narguillé seria uma referência a sexualidade da Alice (que é uma criança de seis anos!), enquanto tem a versão mais aceitável e que faz mais sentido da Lagarta simplesmente ser como um adulto é na mente de Alice.
Falando na Lagarta, uma coisa que não só essa obra como sua sucessora tem em comum são personagens memoráveis. Além da própria Alice, temos o Camundongo, o Dodô, o lagarto Bill, o Coelho Branco que deu início a história, o Grifo e a Tartaruga Falsa, a Duquesa, e, claro: a turma do chá (Chapeleiro, a Lebre de Março e o Ratinho), o Gato de Cheshire e a Rainha de Copas. São todos personagens engraçados e ótimos que deixam a leitura melhor.
Já "Através do espelho" não me impactou tanto quanto "País das Maravilhas", mas ainda assim é maravilhoso. Certamente é o mais poético dos dois, recheado de poemas e recitações no sense, como "Jabberwocky", traduzido como "Pargarávio", um poema sensacional. E, claro, tem os personagens: a Rainha Vermelha (minha favorita), Tweedledum e Tweedledee, a Morsa e o Carpinteiro, o Cavaleiro, o Leão e o Unicórnio e todas as outras peças de xadrez. Deixam o mundo ilógico do espelho, que é tão maravilhoso quanto o País das Maravilhas, mais vivo e mais bonito.
As duas obras são recheadas de poemas e charadas no sense, o que torna a leitura mais divertida e intrigante, porque te faz pensar junto de Alice das possíveis respostas. Afinal, quem somos? Como sabemos que existimos? São temas discutidos desde a época de Platão sendo apresentados num formato infantil, o que é algo sensacional.
A edição é muito boa, com ilustrações icônicas de John Tenniel, e tradução primorosa de Maria Luiza X. de A. Borges.
Recomendo para todos lerem!