GilbertoOrtegaJr 15/12/2014Memórias de Adriano –Marguerite YourcenarMuitas vezes tenho a impressão de que o estudo da história está sendo encurtado nas escolas, nunca fui um aluno exemplar de sentar na cadeira e ver a aula todinha cheio de atenção e sem dar um pio, mas mesmo assim prestava mais atenção em história do que nas outras matérias, e mesmo assim parece que está matéria sempre começa estudando a história do Brasil ou os Incas, Mais e Astecas, ao invés de começar pelas civilizações clássicas como Roma, Grécia e outras, estas quando estudas eram sempre de forma bem superficial e rápida, como se não fossem relevantes para o conteúdo.
Uma grande lacuna nos meus conhecimentos de como era a vida de Roma nesta época foi preenchida após minha leitura do livro Memórias de Adriano da escritora belga Marguerite Yourcenar. Através de uma linguagem poética, que também teve o dom de me hipnotizar, Yourcenar da voz ao imperador Adriano, que decide pouco antes da sua morte escrever suas memórias em formas de cartas, e deixa-las ao seu neto adotivo, que um dia o sucederá como imperador.
E será por meio destas mesmas cartas, diretamente do século dois, em que muito mais do que dar exemplos ou conselhos ao seu sucessor Adriano irá criar um inventário sobre sua vida até ali, sua busca pelo poder, seu jeito de Governar, suas viagens, e outros fatos que aconteceram e que o envolve, assim como uma bom pedaço da narrativa dedicado a sua paixão com o jovem Antínoo, e o triste desfecho dela.
Um dos elementos que muito me encantam nestas estórias que regridem a um período muito distante do tempo é a praticidade com que a vida se desenrolava, sem muitas coisas que temos hoje em dia que só nós roubam tempo, por exemplo boa parte da burocracia ou convenções sociais que hoje existem em abundância por ai (o que nem assim aumenta muito o grau de utilidades delas).
Os triunfos da autora são uma grande pesquisa histórica, que empreendeu anos, uma narrativa que além de ser fiel a fatos históricos é permeada de grandes reflexões, por parte do Adriano, ao qual a autora dá voz. Mas isso não quer dizer que a narrativa esteja mais propensa para um romance histórico, pelo contrário eu apostaria nela bem mais como literatura introspectiva do que romance histórico, pois apesar de os dois estarem intrinsecamente interligados dentro do livro os fatos históricos vão surgindo a partir de outras reflexões de Adriano, são citados quase de forma fragmentada, no momento em que um pedaço de um fato serve como exemplo para comprovar sua forma de pensar ele os pinça de sua memória.
É assim, por meio de uma narrativa sedutora, um personagem fascinante, e uma escritora cheia de talento que me vem a mão Memórias de Adriano, um livro de apenas 246 páginas, mas com um vigor incrível, seja como estória bem contada, seja como uma obra prima literária.
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