Leila de Carvalho e Gonçalves 11/07/2018
Segredo De Família
José de Alencar (18229-1877) é considerado um dos maiores escritores do Romantismo no Brasil. Também foi um grande proprietário de terras, um político conservador, ufanista e defensor da Monarquia além de um intransigente escravocrata. Todas essas posições podem ser observadas em sua obra que procurou dar conta da diversidade brasileira, inclusive, apresentando regiões distantes da Corte ou das grandes cidades cuja influência europeia é indiscutível.
Dentre esses romances regionalistas, destaca-se "O Tronco de Ipê". Publicado em 1871, tem como cenário a "Fazenda Nossa Senhora do Boqueirão", na zona da mata fluminense, onde um velho tronco, outrora frondoso, simboliza a decadência do lugar e do próprio ciclo cafeeiro.
Próximo dali, mora o negro Benedito, um velho com fama de feiticeiro, que guarda um segredo de família capaz de mudar o destino de um casal apaixonado, Mário Figueira, um simples agregado, e Alice de Freitas, filha do Barão de Espera.
Sob um clima de mistério e suspense, o protagonista desconfia que seu pai foi assassinado pelo pai da jovem por questões financeiros e seu desejo de vingança tolda suas atitudes.
Com características românticas explícitas, romance, "O Tronco do Ipê" prende a atenção do leitor ao discutir a diferença de classes, o poder do dinheiro e o valor da instrução. Indubitavelmente, trata-se de uma narrativa com complexas personagens masculinas em detrimento às mulheres, relegadas a segundo plano.
Com pouco mais de 200 páginas, Alencar sempre descritivo e rebuscado está mais acessível, no entanto, a companhia de um dicionário é sempre bem-vinda, em particular, para os leitores que não estão acostumados com o estilo do escritor. Aliás, ele comete algumas ousadias, por exemplo, dirige-se ao leitor para explicar a escolha da linguagem coloquial num diálogo.
Revelando um profundo respeito às lendas e tradições africanas, eis um bom livro do escritor. Sem dúvida, recomendo a leitura. Divirta-se!