Crônicas Fantásticas 21/10/2020
Orlando e o Escudo da Coragem
Orlando e o Escudo da Coragem
Resenha por Thamirys Gênova
Título: Orlando e o escudo da coragem | Autora: Ana Lúcia Merege| Editora: Draco | Gênero: aventura | Páginas: 98 | Ano de publicação no Brasil: 2018 | Nota: 4,0/5,0
Há momentos na vida em que tudo o que precisamos é de uma história leve, que nos permita passear calmamente apenas por preocupações mágicas, élficas e divertidas. É justamente a um mundo lúdico, cheio de mistérios delicados e lições preciosas que nos leva Ana Lúcia Merege, uma das maiores autoras de fantasia do Brasil, e na minha opinião, nossa J.K. Rowling “escondida” nos trópicos.
Orlando e o escudo da coragem é um spin off infanto-juvenil do mundo mítico de Athelgard, desenvolvido por Ana em uma trilogia de romances (O Castelo das Águias, A Ilha de Ossos e A Fonte Âmbar). A obra nos apresenta um personagem ainda muito jovem, aos doze de anos de idade, enredado em uma competição mágica que pode mudar a imagem de sua família para sempre.
Orlando de Leighdale é o filho caçula de uma família nobre. Ele prefere esconder suas verdadeiras habilidades da maioria das pessoas já que aqueles que, como ele, nasceram com o Dom da Magia, costumam ser discriminados socialmente.
Estuda tanto quanto pode sobre todos os elementos ao seu redor, mas em seu íntimo, se sente inferior ao irmão mais velho, Lionel, um exímio aprendiz de cavaleiro.
O jovem Orlando decidiu estudar no Castelo das Águias, a grande escola formadora de magos em Athelgard, mas tem muitas dúvidas se conseguirá ser bem sucedido. Não sente ser alguém destinado a nada grandioso. Até seu falcão, um animal a quem tenta treinar todos os dias exaustivamente, é vesgo e confuso. Como alguma coisa poderia dar certo?
Após a passagem de um misterioso arauto pelos domínios dos Leighdale, Orlando descobre que acompanhará o irmão, Lionel, em uma competição entre senhores pelo Escudo da Coragem, uma arma mística e poderosa para honrar o campeão que souber identificar o maior dos valores em um território encantado.
Acidentalmente (ou não), Orlando se perde do irmão e da comitiva que o acompanhava até as Colinas Negras, local do torneio. Sozinho e sem armas, o menino acaba se enrolando em uma série de equívocos que o levam ao anfitrião das Colinas, a quem é apresentado como o descendente de Leighdale que competirá oficialmente.
Sem muitas opções além de acreditar em sua força interior e clamar aos seus dons mágicos, Orlando terá muitas aventuras cheias de portas, artefatos mágicos e decisões difíceis.
A doçura com que Ana nos apresenta as angústias de Orlando é maravilhosa. Pode parecer um enredo muito didático, mas há várias sutilezas importantes que ensinam questões éticas, de identidade, de combate ao machismo e os preconceitos mais toscos que se possa carregar, seja aqui, seja em Athelgard.
Orlando nos ensina que somos capazes de grandes conquistas com as nossas próprias habilidades, sem precisarmos nos comparar a outros o tempo todo. Todas as soluções encontradas pelo jovem perpassam seus próprios conhecimentos e valorização do conhecimento alheio, nunca pela trapaça ou pela “inveja” de quem parece mais esperto e forte. Em uma geração tão permeada por “coaching” e outras ciências que quase padronizam comportamentos de “sucesso” e “mindsets”, parece uma provocação interessante.
Essa obra é uma dica de ouro para presentear crianças ao seu redor. É um texto divertido, ilustrado de forma cuidadosa por Ericksama, cheio de pequenas lições de autoestima e honestidade, além de coleguismo e várias outras boas atitudes. Além disso, é uma super aventura com falcões, magos e competições na floresta. É um livro para ser feliz apenas. Imensamente feliz. Feliz em Athelgard. Obrigada, Ana, sempre. Que ótima ideia você teve!
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