Pandora 17/06/2023Friedrich Dürrenmatt (1921-1990) foi um escritor e pintor suíço de língua alemã, que passeava com facilidade entre vários gêneros, de peças de teatro e roteiros de cinema a tratados filosóficos e políticos, passando por contos, romances e narrativas autobiográficas.
Este livro reúne duas histórias incríveis, que ao tratar de culpa e moral de maneira crítica e original, nos leva a reflexões sobre a humanidade.
A PROMESSA
“Para pescar, é preciso conhecer principalmente duas coisas: o local e a isca.” - pág. 106
A promessa é narrada por um escritor, a partir de uma história contada por doutor H., um ex-comandante de polícia do cantão de Zurique, com quem ele havia pegado carona após uma palestra. Na ocasião, após criticar a forma como eram feitas as narrativas policiais ficcionais, muito longe da realidade, o policial havia lhe falado sobre uma série de crimes que haviam abalado tanto seu companheiro de trabalho, a ponto de provocar sua derrocada.
Este companheiro, o investigador Matthäi, havia feito uma promessa aos pais de uma menina morta, de que ele descobriria quem fora seu assassino; esta promessa se torna o mote de sua vida. Usando métodos pouco ortodoxos para chegar ao criminoso, o desenrolar nos mostra que por mais experiência, lógica e método que um investigador profissional possua, há imprevisibilidades e dificuldades que nem sempre permitem que se chegue a uma resolução satisfatória, como acontece na maioria dos romances do gênero.
Dürrenmatt escreveu A promessa após perceber que um roteiro cinematográfico que acabara de finalizar à época era uma história de detetive previsível demais. Ao criticar essa previsibilidade de manual, mas ao menos tempo contar sobre uma investigação, o escritor acabou criando uma narrativa densa, instigante e envolvente até a última página.
Adaptações: A primeira adaptação de A promessa foi Es geschah am hellichten Tag/El cebo, filme de 1958, dirigido por Ladislao Vajda e estrelado por Heinz Rühmann. A Itália produziu um filme para a TV em 1979, La promessa, e a Hungria fez uma adaptação em 1990 chamada Szürkület.
O filme The cold light of day, de 1996, dos Países Baixos, dirigido por Rudolf Van Den Berg e protagonizado por Richard E. Grant, está disponível atualmente no YouTube.
Há uma adaptação para o cinema com opiniões bem divididas no Filmow: The Pledge, de 2001, dirigida por Sean Penn e protagonizada por Jack Nicholson.
A PANE
“Neste mundo de inocentes com culpa e de culpados sem culpa, o destino saiu de cena e em seu lugar entrou o acaso.” - parte da fala do ator Oswaldo Mendes numa das montagens teatrais de A pane.
A pane é dividida em duas partes: a primeira é uma reflexão sobre a escrita; a segunda uma narrativa deliciosamente tragicômica que tem início quando o carro de Alfredo Traps, uma espécie de chefe dos caixeiros-viajantes de uma firma têxtil, sofre uma pane perto de uma cidadezinha onde ele tem que pernoitar. Como o único hotel da cidade está lotado por causa de uma convenção, ele é abrigado na casa de um velho juiz aposentado que costuma acolher visitantes.
Convidado para jantar com o anfitrião e seus amigos - todos senhores idosos e aposentados de profissões ligadas à Lei -, Traps é convidado a participar de um jogo habitual entre os amigos: a recriação de um tribunal, onde eles encenam suas antigas profissões. Melhor não saber mais nada sobre essa genial cena e para onde ela se encaminha. Só posso pedir: leiam!
Amei este final, mas li que o próprio Dürrenmatt apresentou versões alternativas em adaptações do livro para outras expressões artísticas, o que demonstra que o jogo do livro, assim como o jogo da vida, sempre admite várias possibilidades.
Adaptações: Há bastantes adaptações de A pane tanto para o teatro, como para o cinema e a TV, algumas bem próximas da história original, outras só levemente baseadas. Entre elas:
Die Panne, filme para a TV de 1951, dirigido por Fritz Umgelter, protagonizado por Peter Ahrweller;
La più bella serata della mia vita, filme de 1972 dirigido por Ettore Scola, protagonizado por Alberto Sordi;
Anusandhan, filme de 2021, dirigido por Kamaleshwar Mukherjee, protagonizado por Saswata Chatterjee.
A pane, peça dirigida por Malú Bazán e traduzida por Diego Viana, com Antonio Petrin, Cesar Baccan, Heitor Goldflus, Marcelo Ullmann, Oswaldo Mendes e Roberto Ascar, está em cartaz atualmente (2023), em curta temporada, no teatro Itália, em São Paulo.
Fontes: Wikipédia e Revista da TAG.