natália rocha 18/03/2021‘’A caixa-preta’’ é um romance epistolar em que um relacionamento passado vem à tona, com todas as suas questões não resolvidas, ressentimentos e verdades escondidas.
O título faz referência ao equipamento que agrupa dados sobre o funcionamento de uma aeronave e que serve para tentar entender possíveis problemas em caso de desastre. No livro, tentamos entender o que aconteceu entre duas pessoas e quais as consequências dos seus atos no presente.
Por meio de cartas vamos adentrando o relacionamento de Alex Guideon, um renomado escritor, e Ilana. Após sete anos de silêncio, Ilana ressurge na vida de Alex pedindo ajuda para lidar com a agressividade e indisciplina do filho adolescente de ambos, chamado Boaz. Por meio de cartas, bilhetes e telegramas apressados, ficamos a par da história pregressa e do divórcio escandaloso que resultou no afastamento abrupto dos dois. Algumas passagens são carregadas de sentimentos reprimidos e de jogos psicológicos entre os dois, achei muito envolvente – uma troca de dardos envenenados, como diz Ilana em um trecho.
‘’Como depois de um desastre de avião, deciframos juntos, por correspondência, a caixa-preta de nossas vidas. ’’
Também vemos o envolvimento de outros personagens nesse drama, como o novo marido de Ilana, Michel Sommo, um fanático religioso. Quando lemos as cartas desse personagem podemos entender um pouco dos costumes judaicos de uma perspectiva israelita, assim como refletir sobre os confrontos políticos e religiosos entre Israel e Palestina.
É um livro intenso e passional, em que acompanhamos a fundo os sentimentos mais obscuros que podem nascer em relacionamentos interpessoais.
Sobre o andamento da leitura, algumas cartas são beeem longas e um pouco repetitivas, o que deixa a leitura monótona e cansativa lá pela metade do livro. Já nas últimas partes o cenário muda drasticamente e fica envolvente de novo, tal qual o começo.
Foi minha estreia com o autor e considerei uma experiência positiva. :)