Avalon2 28/01/2023
"Há de ser tão bom a gente sentir-se amada sem interesse!"
Um livro ao mesmo tempo tão atual tão quanto também tão intenso reflexo de sua época, a minha primeira leitura de José de Alencar mostrou-se mais fácil e prazerosa do que imaginava. Um livro que funciona perfeitamente bem dentro deu sua escola (o Romantismo), com personagens convincentes (alguns tão convincentes que senti vontade de enforcá-los).
Lucíola conta a história de uma jovem de 19 anos (que na verdade atende pelo nome de Lúcia), a cortesã mais cara e cobiçada do Rio de Janeiro. Tendo sido forçada a se prostituir desde nova (motivo revelado no decorrer da leitura) é bem explícito que ela sente vergonha de si mesma e de sua profissão. Diferente das outras cortesãs, ela não ostenta as caras joias que recebe de seus "amantes" e veste-se com modéstia, tentando manter o pouco de dignidade que lhe era permitido.
Apesar do livro focar no romance "proibido" entre Lúcia e Paulo (um homem pobre que caso se envolvesse com ela romanticamente não ascenderia e seria bem visto na sociedade) eu gostei do livro em grande parte por causa de Lúcia. É nítido como os anos desde que começara a exercer sua profissão até mesmo as grandes quantias de dinheiro são um ônus. Ela vive angustiada, aceitando qualquer tipo baixo de tratamento e comentário por achar que merece, fala de si mesma com tão pouco amor como se fosse a coisa mais normal do mundo... Lúcia sofre e quando se apaixona por Paulo, sofre mais ainda, por não se achar digna dele o suficiente.
Por mais que esse livro tenha sido uma enorme crítica à hipocrisia da sociedade da época (1850s) José de Alencar era um homem patriarca, defensor de todas as possíveis "conservadorices" (escravidão inclusive), ele era um político muito influente. Digo isso, pois Paulo, o par romântico de Lúcia, muitas vezes me fez querer esganá-lo. Agia quase sempre de maneira egoísta, sendo malvado com Lúcia, a desprezando e maltratando. Agora, se isso era apenas algo que Alencar achava normal ou então um objeto de crítica, eu não sei com certeza. Era nítido que Paulo gostava de Lúcia, e eu fui gostar do relacionamento dos dois muito mais nas páginas finais, mas num geral, ele não é um narrador-personagem muito agradável e com quem você venha a simpatizar.
Nunca fui obrigada a ler Lucíola na escola e talvez ter pegado o livro de pura e espontânea verdade para ler tenha feito toda a diferença. Mas caso você tenha lido ele bem novinho e não gostado, sugiro que dê uma nova chance. É bem curtinho e nos faz pensar deveras.