Aione 09/11/2018Tudo Aquilo Que Nos Separa, romance de estreia de Rosie Walsh, chamou minha atenção por uma série de fatores: sua capa, sua sinopse e seu título combinados parecem ter instantaneamente me envolvido na atmosfera da obra. Talvez, eu tenha sentido o peso das possibilidades existentes nesse espaço de separação entre os personagens sugerido no título. Fiquei ainda mais curiosa quando soube da questão envolvendo as diferentes versões de nome que o romance recebeu nos países em que foi lançado. Na Inglaterra, onde o romance foi originalmente publicado, os editores optaram por The Man Who Didn’t Call — O Homem Que Não Telefonou, em livre tradução; nos EUA, Ghosted — algo semelhante a “levou um perdido”; em outros países, surgiram variações como Seis Dias Perfeitos, Ele Prometeu Ligar, Os Dias de Sua Ausência, Sem Uma Única Palavra e Dias Com Você. Entre todos, a autora confidenciou que a escolha em português pela editora Record foi sua favorita.
Durante suas férias anuais na Inglaterra, Sarah conheceu Eddie e conviveu com ele por uma semana. Os dias compartilhados entre os dois foram repletos de sentimentos e intensidade, deixando ambos com a sensação de não serem meros desconhecidos. Apesar da rapidez e da estranheza da situação, Sarah sabe que se apaixonou e tem certeza de ser correspondida. Porém, após se separarem, Eddie desapareceu: ele não liga para ela, como havia prometido, nem ao menos responde suas mensagens. É quando ela entra em um ciclo de preocupações, sem saber se imaginou tudo de grandioso que viveram ou se, na realidade, teria acontecido algo com Eddie que estaria o impossibilitando de entrar em contato.
Soltei uma risada, ele beijou meu nariz, e imaginei como é possível passarmos semanas, meses, até anos, apenas empurrando a vida, sem nada acontecer, e de repente, no intervalo de algumas horas, o roteiro de nossa existência ser completamente reescrito. Se tivesse saído mais tarde naquele dia, eu teria ido direto para o ônibus, jamais o teria encontrado, e essa nova certeza não passaria de um sussurro longínquo sobre oportunidades perdidas e falta de sincronia.
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O livro se abre com uma carta cujo remetente e destinatário não são identificados. Porém, os sentimentos presentes em cada palavra, bem como a forte presença de elementos da natureza já preparam o leitor para a atmosfera que estará presente em toda leitura. Em seguida, somos conduzidos pela narrativa em primeira pessoa de Sarah, que se alternará entre momentos presentes e entre os dias vividos com Eddie, apresentados fora de ordem de acordo com suas memórias. Dessa maneira, a autora não apenas vai construindo pouco a pouco a história e suas facetas, mas também vai habilmente desenvolvendo um importante aspecto da leitura: o suspense.
A escolha do título brasileiro foi tão acertada justamente porque consegue abranger os muitos segredos que o livro esconde. Engana-se quem supõe que essa será uma leitura tranquila: em determinado momento, a angústia de Sarah era a minha também e se tornou quase impossível interromper o virar de páginas de tanto que eu ansiava pelas revelações. E Rosie Walsh acertou mais uma vez ao induzir o leitor por um caminho que, logo em seguida, é desconstruído. Não apenas por segredos, Tudo Aquilo Que Nos Separa é também composto por reviravoltas e surpresas.
— Não acho que o amor deva ser uma explosão. Não acho que deva ser dramático, cheio de sofreguidão, nem nada dessas bobagens que dizem os músicos e escritores. Mas acho que, quando acontece, nós sabemos.
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Nesse ponto, já deve ter ficado claro que adorei a construção do enredo — a alternância narrativa, a maneira de como são dadas as peças que constituem a história, a história como um todo —, mas não foi isso o que mais me encantou na leitura. Acima de tudo, foram os sentimentos que a obra me despertou que a tornaram uma das melhores leituras que fiz este ano. Em primeiro lugar, Sarah é uma mulher de 37 anos recém-divorciada e que acaba de se apaixonar verdadeiramente pela primeira vez em sua vida. Ver o romance acontecer entre dois personagens já maduros e com vivências tão carregadas me trouxe uma sensação de frescor, uma sensação de esperança por conta da ideia de que a vida pode nos surpreender quando menos se espera — mesmo quando já achamos que pode ser tarde demais para nós. Depois, seus questionamentos sobre o que ela viveu com Eddie me soaram extremamente reais — somente quem tem a certeza de ter vivido algo tão especial sabe qual é a angústia de ter que se perguntar se os sentimentos são de fato reais ou inventados. E, acima de tudo, há o amor em si, presente aqui sob as mais diversas formas. Foi a força desse amor o que me levou às lágrimas, sobretudo por me fazer sentir que, quando ele existe, absolutamente tudo é possível.
Tudo Aquilo Que Nos Separa conta uma história de amor, mas conta, também, diversas outras histórias: há a história de perdas, reencontros, dificuldades, ausências. É um livro carregado de sentimentos e de personagens palpáveis, que enfrentam, cada um a seu modo — mesmo no caso de personagens secundárias — suas próprias batalhas. É um livro que me fez sofrer, mas que me fez sorrir e acreditar na mesma proporção. Um livro que, acima de tudo, me fez sentir.
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