Letícia 22/06/2022
Considerado a obra-prima de Buzzati e um dos melhores livros do século XX, O Deserto dos Tártaros conta a estória de Giovanni Drogo, um jovem oficial que acabou de terminar a formação na Academia Militar e é designado para servir no forte Bastiani. Trata-se de uma antiga fortaleza, próxima à fronteira e voltada para um deserto inóspito, por onde, muitos anos antes, transitavam exércitos inimigos da etnia tártara.
A princípio, Drogo considera que um breve período no forte pode ser uma oportunidade de alavancar sua carreira. Aos poucos, porém, ele prolonga sua estadia na expectativa, compartilhada por parte de seus colegas, de reviver as antigas glórias daquele lugar. Contudo, o enfrentamento das tropas estrangeiras parece nunca chegar.
O livro tem como tema central o tempo. Tanto a percepção que temos de sua passagem, quanto o contraste entre o tempo geográfico e o tempo humano, os eventos que se repetem ciclicamente, e o que fazemos com o tempo de vida que nos resta, ou seja, que propósito buscamos dar à nossa existência.
Não por acaso, o tempo e o espaço em que a trama se desenrola não são definidos, o que torna este romance atemporal. Além disso, são poucos os grandes acontecimentos. Durante a maior parte do livro, apenas acompanhamos a rotina militar do forte, o que torna a leitura propositalmente arrastada. Como leitor, nos indignamos com aquilo que o tenente Drogo não consegue admitir: que talvez ele esteja fazendo um mau uso de seu tempo.
Por conta dessa temática, o livro me lembrou de A Morte de Ivan Ilitch, que li no ano passado. Ambos nos fazem repensar nossas escolhas, refletir como e em que investimos nosso precioso tempo, e se o significado das coisas se mantém intacto diante da possibilidade de nossa morte. Por outro lado, enquanto terminei a novela de Tolstói emocionada, a leitura de O Deserto dos Tártaros me pareceu mais penosa e seu desfecho, muito mais melancólico.