spoiler visualizarRonaldo Thomé 11/09/2019
Humano, Demasiado Humano
Dando sequência à famosa ordem de leitura de Nietzsche, sugerida por especialistas na sua obra, chegamos a Humano, Demasiado Humano, livro que, em questões cronológicas, vem antes das obras até aqui. Escrito em 1878, a obra mostra um autor ainda em formação, porém já com muitas questões formuladas que se tornariam sua marca: o ateísmo, a crítica aos valores morais, a visão cínica e fria do mundo. Muitos de seus defeitos, como sua misoginia e o desprezo pelo socialismo, também já estão aqui.
O tema central da obra é a liberdade: Nietzsche usa aqui a expressão "espírito livre" - e a ideia é a de fazer dissertações filosóficas sobre o que é ser um espírito livre. Ele é solitário, muitas vezes triste, cético; porém, é capaz de se sensibilizar por todas as coisas, bem como de deixá-las para trás. Em grande parte, os principais ataques do filósofo aqui são ao Estado e à Religião, que ele via como maus necessários ao longo dos anos, mas que um dia deveriam ser superados. O interessante é que, do seu jeito torto, Nietzsche deixa claro que até mesmo para as coisas que odiava, ele conseguia enxergar uma solução, um modo de fazer diferente (não que ele esteja correto em suas conclusões, mas...).
Por fim, o livro destaca o papel da ciência e do raciocínio crítico nesta libertação do espírito; embora não totalmente favorável à ciência, o pensador demonstra que as disciplinas científicas têm o poder de se questionar, reassimilar e reconhecer seus erros, o que as faria indispensáveis na forma como se adquire conhecimento. P.S: sem dúvida, Humano Demasiado Humano traz o melhor prefácio de Nietzsche até agora, um texto tão belo que vale toda a dificuldade da leitura (e antecipa o que há por vir).
Indicado para: quem quer entender como se pode ser livre de verdade; muitas vezes, a prisão está mais dentro de si que em qualquer outro lugar.
Nota: 10,0 de 10,0.