Sara.Marques300 01/10/2024O Exu não está só em Nova York, também está no meu coraçãoCidinha da Silva navega de forma primorosa por tópicos sensíveis e essenciais, fazendo isso com uma delicadeza e maestria que cativa desde o primeiro até o último conto. Primeiramente, é impossível não destacar a criatividade do título, que se encaixa perfeitamente com o conteúdo do livro. Cada conto revela, de forma sutil ou explícita, a beleza da mitologia dos orixás. Embora a leitura seja mais impactante para quem já possui algum nível de entendimento sobre o tema, o glossário no final do livro serve como um guia para quem não está familiarizado, algo que, admito, só descobri no fim da leitura kkkkkk
A espiritualidade aqui é tratada de forma profunda, mais leve, ressaltando sua força, seu amor, seus ventos (Eparrey Oyá) e, ao mesmo tempo, o preconceito enfrentado. Cidinha dá voz à continuidade ancestral e à tentativa de apagamento dessas raízes. A religiosidade ocupa um papel central em seus textos, funcionando como um lembrete constante do passado, da língua, da fé e da resistência de um povo. Os orixás retratados no livro representam não apenas "poder e ambivalência", mas aquilo que os aproxima de seus filhos, rodantes ou não. Destacando também suas falhas, erros e perdas.
Os deuses aqui não são passivos. Armados com espadas, flechas, machados ou até com a própria natureza, ventos, trovões, fogo, água, eles dançam e lutam pelos seus. Afinal, vocês acham que um santo preto tem a opção de não lutar? A mistura do real com o fantástico explora temas como ancestralidade, racismo e a identidade de um povo. Cidinha celebra a resistência cultural e espiritual com uma narrativa vibrante e necessária.
Aos mais velhos e aos mais novos, axé, e que Exu abra seu caminho "Laroyê"
"Como no poema, os dias mais felizes da vida brotavam como erva benfazeja. O céu ruborizou um abóbora iansânico no entardecer dos dias frios. Oxum ria um riso de menina arteira. Os orixás, em festa, criaram um mundo novo, sem aquele trabalho todo que fora carregar o saco da existência."
Leitura conjunta: Dani