Milla 18/12/2012GenialEstou conservando uma boa dose de atenção para escrever uma resenha para o livro Reparação. Desde antes de começar, já sabia que ia ser um post longo, então PACIÊNCIA!
Comprei o livro em 2011 por indicação da Juh Oliveto do L&B e, na expectativa, fui guardando-o para ler apenas agora em 2012 porque acreditei que estaria mais tranquila. Agora, psicologicamente relaxada, comecei a leitura de Reparação e qual foi a primeira impressão que tive? Decepção, livro cansativo, detalhista e muito – muito – maçante.
Mas tendo certeza que não foi a toa que críticos literários lhe contemplaram com o título de ‘obra-prima’ decidi continuar... Após alguns avanços (lentos, admito), preciso reconhecer a singularidade de Ian McEwan. O livro é excelente, como poucos livros sabem ser.
Dividido em três partes, Reparação fala sobre o quanto uma palavra ou um ato podem mudar vidas positiva e, principalmente, negativamente.
Os personagens são extremamente bem construídos, suas personalidades são elaboradas com dedicação. As cenas são cuidadosamente descrita e por diferentes ângulos, que nos transmitem uma visão completa acerca dos fatos, talvez por isso eu tenha achado bem cansativo no começo, ultimamente tenho embarcado em textos mais leves e Reparação é exageradamente denso.
Na primeira parte conhecemos a família Tallis, que está abrigando as crianças Quincey porque estes estão enfrentando o divórcio dos pais.
A pequena Briony Tallis, para recepcionar o irmão que está chegando com um amigo, escreve uma peça e conta com os primos gêmeos (Jackson e Pierrot Quincey) e a prima, Lola Quincey, para a atuação, mas aos poucos vê todos os seus planos fugirem do seu controle.
A mãe, Emily Tallis, vive trancada em seu quarto sob o pretexto de estar com enxaqueca. O pai, Jack Tallis, nunca está presente para o jantar, mas sempre encontra tempo para justificar sua demora ou falta.
Briony, aos 13 anos, é uma menina que está enfrentando as dificuldades de sair da infância e alcançar a adolescência. Sendo, desde tão nova, uma excelente escritora, é também bastante fantasiosa. Num dia quente do verão de 1935, ela presencia à distância uma cena incomum: sua irmã, Cecília, tira a roupa diante do filho da empregada, Robbie Turner, e mergulha na fonte do quintal. Briony julga compreender os fatos e decide, a partir daí, abandonar a fantasia e escrever coisas mais reais.
Quando Leon chega, convida Robbie para jantar com a família e Robbie pede para que Briony entregue um bilhete a Cecilia. Sua intenção era enviar um pedido de desculpas, mas por um equívoco, o bilhete que chega às mãos de Cecilia contém passagens eróticas que Briony lê e fica ainda mais confusa.
Antes do jantar, Briony entra na biblioteca e presencia Cecília e Robbie transando, esta cena encerra suas dúvidas, Robbie só pode ser um maníaco sexual e Cecília é sua vítima. Durante o jantar, os gêmeos fogem e todos saem à procura.
Após andar um pouco sozinha apenas com uma lanterna, Briony encontra sua prima Lola sendo estuprada, o homem sai correndo sem que nenhuma das duas consiga avistá-lo. Lola, perturbada pela situação se diz capaz de afirmar quem foi, mas Briony diz que sabe quem foi. E acusa Robbie.
A família, ao acreditar cegamente nas palavras da pequena, fecha as portas para qualquer outra hipótese e Robbie é preso, deixando para trás diversas oportunidades e um grande amor.
Na segunda parte, três anos e meio depois, encontramos Turner servindo ao exército para obter uma redução de pena, mantendo um relacionamento por intermédio de cartas com Cecília, que saiu de casa e tornou-se enfermeira, cortando qualquer vínculo com a família depois do ocorrido.
McEwan é incrível ao descrever cenas da guerra de uma forma ágil e envolvente, a disputa pela sobrevivência sem maquiagem.
Na terceira parte, nos deparamos com Briony trabalhando como enfermeira estagiária, sofrendo humilhações e enfrentando realidades diferentes do que ela almejava para si, uma formação em Cambridge, uma vida de escritora, para talvez diminuir o mal causado ou punir-se por ele. No hospital, ela perde sua individualidade e passa a ser apenas a enfermeira Tallis.
As cenas do hospital também são bastante pesadas, McEwan é cruamente realista e eu confesso que em alguns momentos fechei o livro para respirar e pensar em outras coisas porque tenho o estômago bem fraco.
É muito difícil não odiar Briony, ela é bastante estúpida e, por um capricho, destrói várias vidas. Depois sentimos ódio – é claro – com um pouco de pena, não pelos sofrimentos que ela enfrenta no hospital, mas pela culpa que ela carrega, pela certeza do erro cometido que aos poucos ela vai percebendo ser irreparável.
Reparação é um romance, mas acima de tudo é um drama bastante humano e psicológico, vemos pessoas e atos reais e refletimos um pouco sobre nós mesmos.
O epílogo é uma surpresa, que recai mais acerca do lado literário: o poder que um autor tem sobre sua obra.
Ao encerrar o livro fica bastante evidente a seguinte constatação: Ian McEwan é genial!
Indico a leitura sem margem para dúvidas, o livro é bem tramado do início ao fim, mas, por favor, não desperdice tempo e dinheiro (o livro é bem caro) se não estiver preparado para enfrentar um turbilhão de sentimentos. Reparação não tem um texto fácil, não é uma obra leve e não é um momento a toa.
Nem ia mencionar que a capa, além de ser linda, tem uma textura diferente.
Ah, eu tinha avisado lá no começo que ia ser uma resenha longa xD então, aproveitando que chegamos até aqui, que tal falar sobre o filme Desejo e Reparação ? Pois é, corri na locadora com aquela ansiedade e não foi nada frustrante, claro que o filme é mais enxuto, mas não deixa a desejar e não desrespeita a obra do autor do livro. Eu chorei horrores. Recomendo também, mas leiam o livro antes!