Aquela que tá olhando pro céu 02/11/2022
Humildade e conhecimento
Demorei um pouco para pegar o gosto na leitura de orgulho e preconceito. Foi difícil me conectar 100% com a história até certo ponto, mas acredito que a culpa disso está mais em mim, que no livro em si. Apesar de ser uma tradução, dá para perceber que é um livro da Jane Austen. Ela tinha um jeitinho ligeiramente cítrico e muito inteligente de se escrever. Uma narrativa que é forte e sincera, apesar de retratar uma parte muito específica de uma sociedade que existiu há séculos atrás.
Desde o primeiro capítulo, é fácil de se perceber algumas nuances de críticas à sociedade então vigente, comentários ou ações de personagens descritos com acidez e inteligência. Interessante: este livro não é bem um romance. Apesar de este ser, sim, um aspecto da história, não representa nem de longe o seu todo. Veja o casamento, por exemplo. Aqui ele é representado como era visto na época e lugar, um trato entre famílias, comercial, importante e que deveria ser levado a sério. E era muito fácil uma mocinha cair em perdição e desonrar a si mesma e a sua família (desonra pra tu, desontra pra tua vaca).
Não era bem por amor que se casava, entende? Era por conveniência, o que mais trouxesse vantagens aos envolvidos. Era assim que viam a aliança matrimonial, e, nesse meio, Elizabeth Bennet mostrou-se um pouco rebelde por desejar algo para si mesma que fosse além disso. Ela queria se casar com uma pessoa que respeitasse, prezasse e amasse. Gostaria de - por que não? - ser feliz em seu matrimônio e pelo resto de sua vida ao lado do cônjuge. Mas nem é preciso dizer que esse idealismo tinha um lugar muito vago à época, e era um pouco longe de se estar com os pés no chão.
Ela tinha uma família de classe média baixa, por assim dizer. E com membros bem excêntricos! Mas era conhecida por sua perspicácia, bom critério e inteligência. E se orgulhava disso! O círculo rural onde ela morava junto de sua família sofreu um redemoinho de emoções quando chegam duas famílias ilustres, muito ricas e com DOIS homens solteiros. Que claramente queriam achar noivinhas.
Focando no casal principal: de início, Darcy deixa seu orgulho pela classe, riqueza e instrução ficar acima de seu interesse por Elizabeth. Chega a insultá-la (sem saber que ela o escutava). Essa primeira impressão ruim de Darcy, junto com a falta de conhecimento do mesmo e o orgulho de si própria, fez com que Elisa construísse uma opinião forte e dura sobre ele. E seu preconceito tardou em acabar.
Mas o que há de belo na história é a redenção! Ambos os personagens, antes de ficarem juntos, mudaram os seus modos errôneos de pensar. Desceram do pedestal do -Orgulho e Preconceito- e passaram a desenvolver humildade e, sinceramente, se arrependeram de suas atitudes anteriores. A disposição para mudar e a vontade de quererem bem um ao outro é o que fez com que o casal ganhasse meu coração e respeito. Muito bonita essa disposição para entender o outro, de braços e corações abertos! Acho isso muito necessário na vida, em tudo.
Muitas pequenas confusões, conflitos e mal entendidos estão no meio da história, e são em maioria muito interessantes de se ler, mesmo porque carregam, consigo, o olhar crítico e cirúrgico de Jane Austen sobre a época em que vivia.