Ari Phanie 04/01/2021Uma troca de post its pode ser cativanteEu não costumo gostar de romances românticos contemporâneos, sequer leio com frequência. Esse é mega hypado, mas não me interessou. No entanto, uma amiga me disse que talvez eu fosse gostar dele porque não era açucarado e o romance se desenvolvia de forma peculiar, o que me fez reconsiderar.
A história gira em torno de Tiffy e Leon, e seu acordo incomum de dividir um flat, sem nem ao menos, se conhecerem. Para além dessa singularidade, eles também dividem o mesmo quarto, e consequentemente a mesma cama. Tiffy não tinha muito dinheiro para dispor de uma outra acomodação mais "normal", e Leon precisava do dinheiro. A relação dos dois era intermediada por Kay, namorada de Leon, e com horários de trabalho tão diferentes, Tiffy e Leon não teriam muitas oportunidades de se conhecerem. A não ser por recados. E é aí que tá o grande atrativo do livro, pra mim. Temos aqui o antiquado padrão de conversação (cartas) modernizado para pequenas mensagens em post- it. E assim que essa troca começa, você se ver muito envolvido na história, torcendo para que Tiffy e Leon se conheçam em algum momento, mas também querendo postergar isso porque é muita boa essa interação entre dois personagens tão diferentes e bem-humorados por meio de divertidos recadinhos. Claro, o romance corre de forma previsível, mas mesmo assim, agrada muito.
Com relação aos personagens, eu amei Tiffy e Leon. Tiffy é uma editora meio excêntrica, que tem um humor afiado e uma personalidade cativante. Leon é um enfermeiro sereno, reservado, introvertido e tímido. O exato oposto de Tiffy. Vou confessar, gostei muito mais de Leon que de Tiffy. Ele é compreensível e carinhoso, e é incrivelmente fofo e apaixonante. Os outros personagens recorrentes também são maravilhosos. Gerty é a amiga durona de Tiffy, e eu adorei ela, mesmo ela soando várias vezes incrivelmente rude. Richie é um amorzinho, igual o irmão, Leon. Mo é o amigo confiável e acolhedor, e Rachel é a amiga maluca e promíscua que acontece de ser o melhor tipo de amiga. É um conjunto de personagens muito bem construído e cativante. E isso fez da história muito mais do que eu esperava.
Ponto negativo: No começo do livro, Tiffy tinha saído de um relacionamento sério com um término doloroso. Mas à medida que a história avança tomamos conhecimento, ao mesmo tempo que Tiffy que ela estava em uma relação abusiva. No começo, pareceu interessante que a autora fosse falar de como nem sempre o abuso está escancarado; narrando como mesmo a vítima pode demorar a perceber as pequenas coisas erradas quando sob o controle do abusador. No entanto, eu achei que ficou superficial. Eu adoraria ver como Tiffy trabalhou essas questões na "terapia" que ela fez, mas a autora fez parecer que a terapeuta apenas ouvia, sem quase fazer muitas pontuações, sem dar feedback, o que é incoerente. Enfim, eu gostaria que ela tivesse falado do trauma, dos gatilhos, da terapia de forma melhor.
Apesar disso, The Flatshare (Teto para Dois) é um livro caloroso, gostosinho de ler, que não recorre a tantos clichês, e na verdade, tem alguma originalidade. Me surpreendi por gostar tanto, e espero que os próximos livros da autora sejam tão divertidos como esse.