Ruan.Campello 29/09/2021
Obra atualíssima, infelizmente
Sendo esse considerado o primeiro romance publicado por uma mulher no Brasil, é de se esperar que seja bobo ou com aquela feminidade submissa esperada do século XIX. Engana-se. Por mais que seja, em todos os pontos possíveis, um romance, aqui vemos o abolicionismo e também, por consequência, um apelo.
O plano de fundo romântico é usado para demonstrar a miséria e desgraça das pessoas trazidas do continente africano com tanto ódio e desprezo, e dos negros já nascidos no Brasil, escravizados e usados como ferramentas até o último suspiro débil de seus pulmões cansados.
? Enredo ?
Na história em si, temos um casal branco vivendo uma aventura romântica, cheia de sangue e declarações amorosas galantes e espalhafatosas. Livro bem comum nesta fase do romancismo, não é? Não é.
Temos aqui, a primeira obra escrita por uma mulher, e além disso, por uma mulher nordestina e negra. Mulher essa, que pensou sobre a escravidão com tato que ninguém teve pelos miseráveis tirados de sua pátria para o cárcere e tortura.
Como disse, o romantismo aqui respira a pelos pulmões. Pode-se e há de se estranhar, caro leitor do século XXI, que não está acostumado com tais falas, os diálogos aqui impressos. Lembre-se que se trata do século XIX, o tempo do "amor".
A narrativa, irá-nos apresentar o desenvolvimento romântico de Úrsula ? personagem que dá nome à obra, óbvio ? e Tancredo ? nome que acho bem cômico, haha. Já adianto-lhes que não é lá uma obra de felicidade, vai-se direto à desgraça, porém leia e entenderá, é realmente interessante a narrativa.
Temos, claro, dois personagens de importantíssima representatividade: Susana e Túlio.
Susana esta, trazida da África pelo trafico negreiro, e é a primeira a narrar em nossa literatura nacional, os horrores de tal sequestro pátrio. E Túlio, que demonstra sentimentos complexos e intelecto vasto, o que também, é um marco no âmbito.
? Considerações finais ?
Como o prefácio humilde da autora mostra, apesar dela ser extremamente estudada ? conhecendo até certa parte de mitologias ? para uma mulher da época, que era limitada nesse quesito pela sociedade, vemos alguns erros, até em questão gramática.
Por mais que não seja uma obra perfeita, uma leitura completamente épica ou reflexiva, não consigo dar menos que nota máxima.
Além de ser uma história envolvente ? pelo menos para mim ?, mostra-nos ela um teor de paisagismo nordestino, coisa que é tão cara para mim.
Furthermore, como não avaliar positivamente a primeira obra à dar vozes e dignidade mínima à uma classe tão desgraçadamente abusada, na era do livro, e infelizmente, até hoje?